CURIOSIDADE:
O que é o refluxo hepatojugular?
É o aumento na pressão venosa
jugular (PVJ), que deve ser examinada a 45°, consequente ao aumento da pressão
no quadrante superior direito do paciente por pelo menos 10 segundos até 1
minuto. O sinal é positivo quando há um aumento prolongado maior ou igual a 3
cm na PVJ. Significa insuficiência ventricular direita (ICD). É importante
ressaltar que a pressão pode ser exercida na região periumbilical, pois quando
há ICD também existe hepatomegalia dolorosa. Além disso, deve-se pedir ao
paciente para não realizar manobra de Valsava (tosse, força) durante o teste
para não ocorrer falso-positivo.
CASO CLÍNICO XI:
Identificação:
53
anos, masculino, branco, comerciante, casado, natural e residente de
Curitiba-PR.
QP:
“Dor
no peito”
HMA:
Paciente
iniciou quadro de dor retroesternal súbita há 3 horas. Refere dor de grande
intensidade, do tipo em facada, com irradiação para região interescapular e
membro inferior esquerdo, de duração contínua. Sem alívio ao decúbito dorsal ou
com uso de analgésicos. Como sintomas associados relata sudorese, palpitações e
hematúria. Nega náusea, síncope, dor ventilatório dependente, febre e dor
lombar.
HMP:
Nega
internamentos e operações anteriores. Paciente hipertenso há 16 anos sem
tratamento prévio e atual. Nega DM, dislipidemia e doença vascular periférica.
Não faz uso de medicações de uso contínuo.
HMF:
Pai
faleceu aos 52 anos de IAM e mãe faleceu aos 74 anos de acidente. Não tem
irmãos.
CHV:
Etilista
de 1 garrafa de cerveja/dia há 20 anos. Nega tabagismo e tóxicos.
EXAME
FÍSICO
GERAL:
Paciente
em REG, hidratado, normocorado, cianótico (2+/4+), anictérico, consciente e
orientado. PA: 190-125mmHg; pulso: 86 bpm; FR: 20 rpm; T: 36,5°C.
C/P:
Mucosas
úmidas. Cianose perilabial. Oroscopia normal. Ausência de sopros cervicais e
jugulares não ingurgitadas.
CPP:
MV
+ bilateralmente e simétrico sem RA.
ACV:
BCRNFSS
ABDÔMEN:
globoso,
flácido com RHA presentes. Ausência de dor ou massas a palpação.
VASCULAR
PERIFÉRICO: MIE cianótico e com discreta perda da
sensibilidade. Pulsos da artéria femoral, poplítea e pediosa esquerdas não
palpáveis.
EXAMES
COMPLEMENTARES:
ECG:
Qual a principal hipótese diagnóstica?
Qual a conduta a partir desse momento?
Qual a diferença entre emergência hipertensiva e crise
hipertensiva?
Por que há hematúria?
EVOLUÇÃO:
EVOLUÇÃO:
Continuação do Caso na Resposta:
Estabelecido a monitorização e tratamento da emergência
hipertensiva com nitroprussiato de sódio EV e metoprolol EV.
Raio-x de Tórax: normal
Qual exame pedir para confirmar a hipótese diagnóstica?
Angiotomografia: dissecção aórtica do tipo B de Stanford com
hipoperfusão do rim esquerdo.
Aortografia:
Imagem de
dupla luz em aortatorácica descendente (dissecção de aorta tipo B de Stanford).
RESPOSTA AO CASO CLÍNICO XI:
O diagnóstico é dissecção aguda
de aorta associado com emergência hipertensiva. Crise hipertensiva é dividida
em emergência ou urgência hipertensiva. Urgência é caracterizada geralmente por
uma PAD maior ou igual a 120mmHg e a emergência é quando associado a isso há
lesão de órgãos alvo (LOA). A paciente do caso apresentava dissecção aguda de
aorta que é um exemplo de LOA. Já a dissecção aguda de aorta é caracterizada
pela delaminação das paredes da aorta, permitindo a infiltração de uma coluna
de sangue que separa as camadas aórticas criando duas luzes, a falsa e a
verdadeira.
Existem alguns fatores de risco
para dissecção aguda de aorta como HAS, valva aórtica bicúspede, estenose
valvar aórtica, coarctação de aorta, síndrome de Marfan, síndrome de Turner,
síndrome de Ehler-Danlos, síndrome de Behçet, policondrite recorrente e
portadores de prótese valvares aórticas com ectasia da aorta ascendente. A
gravidez também predispõe pela embebição edematosa da parede aórtica e
alteração da composição de mucopolissacarídios. A classificação de Stanford é a
mais utilizada atualmente onde a lesão do Tipo A o orifício de entrada é na
aorta ascendente e a do Tipo B é na aorta descendente. É importante ressaltar
que o tipo A é mais grave e necessita de tratamento cirúrgico imediato. Já o
tipo B é preconizado inicialmente o tratamento clínico, reservando o tratamento
cirúrgico só para casos complicados com hemotórax, insuficiência renal e
isquemia visceral ou de membros inferiores.
A apresentação clínica é com uma
dor torácica de forte intensidade, de aparecimento súbito e acompanhada de
sintomas neurovegetativos. Essa dor tem localização variada com irradiação para
as costas e para o abdômen, não melhorando ao decúbito e administração de
vasodilatadores ou analgésicos. Dependendo da altura pode haver sintomas
neurológicos, paresia de membros inferiores, abdômen agudo vascular, isquemia
renal pode determinar IRA. Hematúria com oligúria ou anúria pressupõe a
comprometimento de artérias renais. O choque cardiogênico sugere ruptura
intrapericárdica da aorta ou ainda IAM por laceração dos óstios coronários. No
exame físico, podemos encontrar assimetria de pulsos, sinais de tamponamento
cardíaco (tríade de Beck: hipotensão, ingurgitamento jugular e abafamento de
bulhas), sopro de insuficiência aórtica e alterações neurológicas.
O exame indicado para confirmar o
diagnóstico é a angiotomografia para os casos agudos.
José Vitor Martins Lago
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