O
QUE É MIASMA?
Antigamente, denominava-se
miasma uma coisa que está no ar das regiões pantanosas, insalubres, e que
resulta em doença. A palavra malária vem daí: quer dizer “maus ares”. Hoje se
sabe que a malária é transmitida por um mosquito, que, curiosamente, também está
presente em regiões pantanosas. Portanto, estava certo evitar tais regiões, mas
não por causa do miasma, e sim por causa dos mosquitos.
Referência:
Scliar, M. O livro da
medicina. São Paulo: Schwarcz, 2000.
CASO CLÍNICO 8 - SEMIOLOGIA II:
Anamnese:
Identificação: LOS; 35
anos; feminina; parda; católica; professora; solteira; natural de Curitiba-PR; reside
em Bigorrilho – Curitiba; Referência: a própria paciente.
Queixa Principal: “diarréia
e fraqueza”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter iniciado há uma semana com diarréia, 5 episódios ao dia, sem muco ou
sangue, acompanhada por náusea, vômito (sem muco ou sangue, 2 episódios/dia),
dor abdominal difusa/tipo cólica e febre de 38,2ºC. Refere que o inicio do
quadro foi abrupto, 2 horas após a ingestão de uma coxinha na estrada indo para
o norte do Paraná. Referiu que nos últimos dias tem evitado a ingestão de
alimentos e líquidos com receio de desencadear o quadro e apresenta intensa
astenia. Diurese <0,5ml/kg/h Nega outros
sintomas associados. Nunca passou por isso antes e refere que os acompanhantes
da viagem apenas apresentaram desconforto abdominal, sem diarréia.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância, DM, HAS, doença auto-imune, doença renal. Refere depressão
há 5 meses em tratamento com fluoxetina 20mg. Nega
uso regular de outros medicamentos, cirurgias, internamentos anteriores e
alergias.
História Mórbida Familiar: filha com
LES diagnosticada aos 13 anos. Nega outras comorbidades na família.
Condições e Hábitos de Vida: Reside em
casa com luz, esgoto e água encanada, sem animais peridomiciliares. Possui alimentação
com horário irregular e não balanceada. Nega tabagismo e etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com a
mãe e com sua filha de 13 anos. Não pratica atividades físicas. Possui situação
financeira estével. Encontra-se abalada emocionalmente devido ao estresse pelo
qual passa ao cuidar da doença de sua filha.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas.
Exame
físico:
Geral: paciente em
regular estado geral (REG), corado, redução do turgor cutâneo e mucosa desidratada,
anictérico, LOTE. Ausência de alterações cutâneas.
PA: 110X70 (deitada), 90X50 (em pé); Pulso: 125;
FR: 20; T: 36,2ºC.
Cabeça e pescoço: mucosas coradas
e desidratadas. Sem linfonodomegalia. Jugulares não ingurgitadas.
Aparelho respiratório: eupnéico, mv
+ bilateralmente, som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: taquicárdico,
bulhas cardíacas rítmicas e normofonéticas. Sem sopros.
Abdome: plano, RHA aumentados,
flácido, timpânico a percussão, dolorido a palpação difusa do abdome, ausência
de massas palpáveis. Hepatimetria normal. Espaço de Traube livre.
Membros: ausência de
edema, pulsos presentes, perfusão normal.
Pergunta:
1.
Com o que devemos nos preocupar diante deste
quadro?
2.
Diante desta hipótese, quais exames
complementares devemos solicitar?
Respostas:
Dâmia Kuster Kaminski Arida
Respostas:
1.
Diante deste quadro de diarréia há 7 dias e
um exame clínico sugestivo de desidratação devemos nos preocupar com a função
renal desta paciente, visto que a hipovolemia pode levar a insuficiência renal
aguda do tipo pré-renal.
2. Para complementar a investigação, podemos
solicitar os seguintes exames complementares:
a. Hemograma:
sem alterações.
b. Uréia:
65
c. Creatinina:
2,0 mg/dl
d. Relação
uréia/creatinina >30
e. Urinálise:
cilindros hialinos.
f. Osmolaridade
urinária: >500mOsm
g. Na
urinário: baixo (20mEq/l)
h. Excreção
fracionada de sódio (FeNa): <1%
i. Aumento
de cistatina C.
j. Glicemia
de jejum: 60
k. Eletrólitos
normais.
Diagnóstico:
INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA POR DESIDRATAÇÃO APÓS GASTROENTERITE AGUDA
A insuficiência renal aguda
(IRA) ou, mais modernamente, lesão renal aguda (LRA), caracteriza-se pela redução
abrupta da função renal com retenção de escórias nitrogenadas e outros produtos
geralmente eliminados pelos rins.
Três tipos de IRA podem ser
classificados de acordo com a sua etiologia: azotemia pré-renal, doença renal
parenquimatosa intrínseca e obstrução pós-renal. O tipo retratado neste caso é
a azotemia pré-renal (“azo”: nitrogênio, “emia”: sanguínea), tipo mais comum de
IRA, em que há elevação da concentração de uréia ou creatinina como resultado
de um fluxo plasmático inadequado e da pressão hidrostática intraglomerular
insuficiente para manter o fluxo glomerular. Isto pode ser consequência de um
distúrbio de hipovolemia, redução de débito cardíaco, redução do volume
circulante efetivo (insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência hepática)
e uso de fármacos que interferem com a auto regulação renal (ex: AINES).`
Manifestações clínicas:
história de ingestão hídrica insuficiente ou perda de líquidos (hemorragia,
diarréia, vômito, sequestro para o espaço extra-celular), uso de
AINES/ECA-I/BRA, insuficiência cardíaca. Apresenta sinais de depleção de volume
circulante: taquicardia, hipotensão absoluta ou postural, redução da pressão
venosa jugular, mucosas desidratadas.
Exames laboratoriais: razão
nitrogênio uréico sanguíneo (NAS)/creatinina > 20; FeNa <1%, cilindros
hialinos no sedimento urinário; densidade urinária > 1.018; osmolaridade
urinária >500mOsm/kg, elevação de creatinina nas primeiras 48h de 0,3mg/dl
ou aumento de 50% em relação ao nível basal do paciente ou diurese menor do que
0,5ml/kg/h.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
RIELLA, Miguel Carlos.
Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 5. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
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