PARA
REFLETIR:
“O interesse na doença, na verdade, faz parte de um
interesse maior, um interesse que todos nós temos, e que é o interesse pela
vida em si mesma”.
Thomas Mann.
Referência:
Scliar, M. O livro da
medicina. São Paulo: Schwarcz, 2000
Anamnese:
Identificação: RF; 40
anos; feminino; parda; católica; funcionária de indústria de materiais de
construção (exposição à silica); casada; natural de Curitiba-PR; reside em Bigorrilho
– Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Falta de
ar e cansaço”.
História da Moléstia Atual: paciente
refere dispnéia progressiva aos esforços há 6 meses com piora na última semana,
acompanhada por astenia, tontura, edema em membro inferior (pior ao final do
dia). Neste período, também apresentava disfagia e refluxo gastroesofágico.
Nega febre, dor torácica, emagrecimento, náusea ou outros sintomas associados.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância. Como comorbidade atual refere apenas depressão (em uso de
escitalopram 15mg). Nega internamentos/cirurgias anteriores e alergias.
História Mórbida Familiar: Mãe com
hipotireoidismo e irmã com Lúpus.
Condições e Hábitos de Vida: reside em
casa de alvenaria, com luz, esgoto e água encanada, sem animais
peridomiciliares. Possui alimentação com horário regular. Nega tabagismo e
etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com o
marido. Constumava praticar exercicios fisicos, mas no momento não consegue
realizar pelas limitações da doença.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas.
Exame
físico:
Geral: paciente em
regular estado geral (REG), corado, hidratado, anictérico, LOTE.
PA: 120X80; Pulso: 94; FR: 20; T: 36,2ºC.
Cabeça e pescoço: mucosas coradas
e hidratadas. Sem linfonodomegalia. Jugulares ingurgitadas.
Aparelho respiratório: dispnéica,
mv + bilateralmente, som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV
normais. Sem ruidos adventícios.
Aparelho cardiovascular: bulhas
cardíacas rítmicas e hiperfonese de P2. Sem sopros.
Abdome: plano, RHA
presentes, flácido, timpânico a percussão, indolor a palpação, ausência de
massas palpáveis. Hepatimetria 14 cm, palpavel a 2cm do rebordo costal.
Membros: edema
bilateral em MMII 1+/4+, pulsos presentes, fenômeno de Raynaud. Panturrilhas
livres.
(Imagem: reumatologia Santa Casa- SP)
Pele: espessamento
cutâneo simétrico e bilateral nos dedos das mãos. Telangiectasias em face e
mãos. Mobilidade reduzida de pálpebras, boca e bochechas com perda da
elasticidade, sulcos radiais ao redor dos lábios e microstomia. Nariz de
aspecto pinçado. Perda de partes moles nas pontas dos dedos (acro-osteólise?).
carocos subcutâneos indolores e firmes nos coxins dos dedos e palma das mãos.
Muscular-esquelético: rigidez
generalizada. Contraturas nas articulações interfalangeanas .
Exames complementares:
Laboratoriais: normais.
Eletrocardiograma: desvio direito do eixo e
hipertrofia ventricular direita.
Ecocardiografia
com doppler: pressão
arterial sistólica das artérias pulmonares >30mmHg.
FAN: positivo (anticorpos
anti-centrômeros)
RX tórax: área cardíaca aumentada.
Perguntas:
1.
Qual
situação aguda está presente? Qual exame poderia confirmar este quadro?
2. Qual síndrome consta neste caso
clínico?
3. Qual exame pode contribuir para
saber a etiologia do fenômeno de Raynaud neste caso?
Respostas:
Respostas:
1.
Hipertensão
pulmonar. Cateterismo cardíaco direito.
2. Síndrome de CREST
( C) Calcinose
( R) Fenômeno de Raynaud
( E) Distúrbio esofágico
( S) Esclerodactilia
( T) Telangiectasias
3.
Capilaroscopia
periungueal + FAN (anti-centrômeros)
Diagnóstico: HIPERTENSÃO
PULMONAR POR ESCLERODERMIA SISTÊMICA
A esclerodermia é um
distúrbio do tecido conectivo raro em que há um processo de substituição da arquitetura
tecidual por fibrose. Acomete mais indivíduos na faixa dos 30 aos 50 anos, da
raça negra e mulheres. Sua patogênese envolve mecanismos vasculares,
predisposição genética, fatores ambientais (ex: exposição à sílica) e
auto-imunes.
Pode ser classificada como:
localizada (linear ou em placas) ou sistêmica (limitada ou difusa).
Clinicamente,
pode apresentar calcinose cutânea, fenômeno de Raynaud, distúrbio da motilidade
esofágica, esclerodactilia, telangectasias caracterizando a síndrome de CREST.
O acometimento cutâneo, na forma limitada, tem início indolente, limitado aos
dedos, distal aos cotovelos e face, com progressão lenta. O fenômeno de Raynaud
precede o comprometimento cutâneo na forma limitada. Pode apresentar também artralgia,
fadiga e hipertensão pulmonar.
A
hipertensão pulmonar na ES limitada pode apresentar-se como manifestação
isolada, não estando associada à fibrose. Evolui com dispnéia rapidamente
progressiva aos esforços, evoluindo com insuficiência cardíaca direita e cor pulmonale.
Inicialmente, radiografia de tórax e a prova de função pulmonar mostram-se
normais. O ecocardiograma com Doppler tem-se mostrado o método não invasivo
mais eficiente para a aferição da pressão em artéria pulmonar na ES.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
SKARE, Thelma Larocca.
Reumatologia: princípios e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2007.
Hipertensão pulmonar e
esclerose sistêmica. J. bras. pneumol.,
São Paulo , v. 31, supl. 2,
Aug. 2005 .
Dâmia Kuster Kaminski Arida
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