Curiosidade:
Origem dos epônimos
tendão de Aquiles e Pomo de Adão?
Tendão de Aquiles:
Tendão conjunto de inserção dos
músculos gastrocnêmio e sóleo no osso calcâneo. O nome deriva do fato de
Aquiles haver sido seguro pelos tornozelos, ao ser mergulhado no lago batismal.
Como a água benta não entrou em contato com o tendão calcâneo, essa parte do
corpo ficou vulnerável. Na Guerra de Tróia, Aquiles foi posto fora de combate
após ter tido seu tendão calcâneo transfixado por uma flecha, disparada pelo
guerreiro Paris.
Aquiles e a Flecha no tendão vulnerável |
Pomo de Adão:
Saliência na face anterior do
pescoço (proeminência laríngea), causada pelo ângulo formado pela junção das
bordas anteriores das duas lâminas da cartilagem tireóide. Em latim chama-se pomum (polpa como a maça) adami. Logo, o termo deriva da idéia de
que parte da maçã proibida, ingerida por Adão, ficou presa em sua garganta.
Adão e Eva e a maça proibida. |
Caso
Clínico XI:
Anamnese:
Identificação:
DFS;
63 anos; masculino.
Queixa
Principal: “Fraqueza nos braços e pernas”
HMA:
Paciente
iniciou quadro de fraqueza proximal há 8 meses de maneira lentamente
progressiva em MMSS e MMII, agora não consegue levantar-se da cama. Refere que
há uma melhora na força dos membros após o exercício físico. Relata como
sintomas associados fadiga excessiva há 6 meses, parestesia nos dedos da mão e
pés, xerostomia, impotência sexual há 1 ano, tosse crônica e emagrecimento de 5
kg em 3 meses. Nega diplopia, disartria, disfagia, dispneia, artrites e febre.
HMP:
Refere
revascularização do miocárdio há 5 anos. Refere HAS, nega DM e hipotireoidismo.
Em uso de captopril, clortalidona e sinvastatina. Nega alergias.
HMF:
Pai
faleceu aos 60 anos CA de pulmão e mãe 75 de AVE.
CHV:
Alimentação
com ingesta de bastante fibras como frutas. Tabagista de 1 maço por dia durante
44 anos. Afirma que toma 1 lata de cerveja no final de semana.
RS:
sp
Exame
Físico:
Geral:
Paciente
em REG, LOTE, anictérico, hidratado e hipocorado (+/4+). PA: 130-80mmHg; pulso:
88 bpm; T: 36,6°C; FR: 16 rpm.
CPP:
Mucosas
hipocoradas (+/4+), escleras anictéricas, ausência de linfonodomegalia e
jugulares não ingurgitadas.
Tórax:
MV
+ bilateralmente, sem ruídos adventícios.
ACV:
BCRNFSS.
Abdômen:
flácido
e globoso com RHA presentes. Ausência de dor ou massas a palpação.
Neurológico:
Estado Mental: Lúcida e orientada em tempo e espaço.
Glasgow: 15
Nervos cranianos: I- olfato normal, II- ausência de
diplopia, III, IV normais, V- motor- força normal dos músculos da mastigação,
sensorial- sem alteração nas três regiões, VI, VII- sem anormalidades, VIII-
audição bilateral ao relógio, IX e X – reflexo de vômito preservado, ausência
do sinal da cortina; XI; força do ECM e trapézio 5/5; XII: língua na linha
média.
Força e tônus muscular: tônus reduzido, 2/5 em ombros, 3/5
bíceps, 3/5 tríceps, 4+/5 preensão, 2/5 quadril, 3/5 coxas, 4+/5 perna e 5/5
pés bilateralmente.
Reflexos tendíneos:
Reflexos
|
Bíceps
|
Tríceps
|
Braquiorradial
|
Patelar
|
Aquileu
|
Cutâneo Plantar
|
direito
|
ausente
|
+
|
+
|
+
|
+
|
ausente
|
esquerdo
|
ausente
|
+
|
+
|
+
|
+
|
ausente
|
*Tornam-se
normais após breve exercício.
Sensibilidade: preservada
Marcha: sem alterações características
Coordenação: movimentos rápidos e alternantes das
mãos normais, index-nariz sem alteração.
Equilíbrio: prova de Romberg negativa.
Sinais Meníngeos: Kernig e Brudzinski ausentes.
Exames Complementares:
Eletrocardiograma normal;
CPK: normal
FAN, TSH, T4 livre normais
Raio-x de Tórax:
Qual provável diagnóstico?
Qual a patologia subjacente que é a possível causa para o quadro
clínico apresentado?
Quais os diagnósticos diferenciais?
José Vitor Martins Lago
Resposta ao Caso
Clínico XI:
Este paciente apresenta as
características clássicas da Síndrome Miastênica
de Lambert-Eaton (SMLE) com fraqueza
muscular moderada, hiporreflexia, ambos melhoram com esforços repetitivos,
e sintomas autonômicos, como boca seca e
impotência.
A SMLE é um distúrbio
pré-sináptico da junção neuromuscular autoanticorpos dirigidos contra os canais
de cálcio, detectados em 85% dos pacientes por radioimunoensaio. O diagnóstico
pode ser confirmado pelo exame eletroneuromiográfico, onde a estimulação
nervosa inicial é de baixa amplitude e, em baixas taxas de estimulação repetida
(2 a 3 Hz), respostas decrementais semelhantes à aquelas apresentadas na
Miastenia Gravis. Entretanto, na
presença de altas taxas (50 Hz), ou após realização de exercício, ocorrem
respostas incrementais.
O câncer de pequenas células (oat cells) do pulmão é encontrado em 50%
dos pacientes com SMLE, apresentando um prognóstico reservado. Como o
paciente é tabagista, hx familiar de
câncer de pulmão e ao raio-x apareceu um nódulo em região superior do pulmão esquerdo, este diagnóstico é
muito provável. Contudo essa síndrome pode estar associada à doenças
autoimunes: anemia perniciosa, vitiligo, doença celíaca, DM tipo 1, AR, RCU,
esclerodermia, esclerose múltipla.
O uso
de IECA (captopril) acaba mascarando o quadro clínico do tumor subjacente, já
que leva o médico a pensar que a tosse é do medicamento. Outro fato relevante é
o uso de sinvastatina que pode cursar
com rabdomiólise, sendo assim acaba entrando como um possível diagnóstico
diferencial, contudo a CPK estava inalterada.
Diagnósticos diferenciais:
Miastenia gravis – Pacientes com miastenia gravis, no início, apresentam sintomas bulbares, como
diplopia, disfagia e encurtamento da respiração. Além disso, a fraqueza
muscular não melhora após exercício e sim piora com fatigabilidade.
Polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (PDIC) – esta
doença caracteriza-se por fraqueza muscular proximal progressiva e arreflexia. Esses pacientes não apresentam sintomas
autonômicos e fenômeno de facilitação da força muscular ou reflexos, com os
exercícios.
Curiosidade:
Qual a origem da palavra coreia? Por que dança de São Vito?
"Choreia"
do grego significa “dança”. Foi
usado, inicialmente, por Paracelsius para descrever a coreia de São Vito, uma provável forma epidêmica de coreia
histérica. Em 1661, Felix Meyer observou a associação entre coreia gravídica. Posteriormente
em 1675, Thomas Sydenham identificou
uma forma de coreia da infância em associação com febre e artrite (reumática).
Em 1872, George Huntington descreveu
uma forma hereditária de coreia, com início na vida adulta e associada com
outros distúrbios motores (bradicinesia,
perda do equilíbrio, distúrbio da marcha, alterações da motricidade ocular),
perda cognitiva e distúrbios psiquiátricos. De um modo geral, pode-se
dizer que a coreia é um distúrbio decorrente de anormalidade no funcionamento
dos gânglios da base.
Definição: Movimentos involuntários,
breves, rápidos, desordenados, de ocorrências inesperadas e arrítmicas,
multiformes e sem finalidade. Localizam na face, MMSS e MMII. Essas
características peculiares apresentam um aspecto semelhante a uma dança de
movimentos variados.
São Vito |
São Vito ou
São Guido é considerado o padroeiro dos epilépticos
e um dos santos mais populares da Idade Média. O termo popular “dança” (ou
doença) de São Vito inicia-se na idade média. Fungos, hoje sabidamente
alucinógenos, cresciam junto aos campos de centeio, dos quais os pães eram
feitos. Frequentemente, tais alimentos provocavam reações incompreensíveis para
o conhecimento da época. Multidões se punham a dançar histericamente e a
autoflagelar-se em frenesi, após comerem pães contendo os referidos fungos.
Muitas vezes ocorriam manifestações típicas de ergotismo com movimentos
involuntários associados a sintomas digestivos. O mais célebre desses episódios
ocorreu em Aix-de La Chapele, França, no ano de 1374, recebendo a denominação
de “dança de São Guido” (ou São Vito), nome
que tomou de empréstimo a coréia reumática pela semelhança do quadro
clínico, embora, sabemos hoje, sejam afecções
distintas.
Em estudo
realizado Mendes (1996), as principais causas de coreia foram: de Sydenham
(51,3%); doença de Huntington (18,5%); doença cerebrovascular (9,2%); senil
(3,4%); gravídica (2,5%); colagenose (2,5); uso de anovulatório (0,8%); entre
outras.
Referências Bibliográficas:
MENDES, M. F.;
ANDRADE, L. A. F.; FERRAZ, H. B. CORÉIA. Arq
Neuropsiquiatr, v. 54, n. 3, p. 419-427, 1996.
MALACHIAS, M.
V. B. A verdadeira história da dança de São Guido. Jornal SBC, p. 20, mai/jun 2000.
Caso Clínico X:
Anamnese:
Anamnese:
Identificação: GSN; 33 anos; masculino;
japonês; natural e residente de Curitiba-PR; solteiro; advogado.
Queixa Principal: “Desmaio”
HMA: Paciente refere história de
primeira síncope há 1 hora durante 1 minuto. Afirma que pouco antes do episódio
apresentou, de início súbito, palpitações de forte intensidade enquanto jogava
futebol. Nega relação com ambiente quente ou aglomerado. Como sintoma associado
relata um episódio de dispneia agônica noturna há um mês quando estava gripado
e com febre, porém com melhora após alguns minutos. Nega outros sintomas como
náusea, vômito, salivação, incontinência de esfíncteres, maceração de língua,
dispneia aos esforços e dor torácica.
HMP: Nega doenças na infância,
operações e internamentos. Nega HAS, DM ou outras cardiomiopatias e uso de
medicamentos.
HMF: Irmão com história de morte súbita
(IAM) aos 40 anos. Pai e mãe vivos sem comorbidades relevantes.
CHV: Mora em casa de alvenaria. Boa
alimentação com frutas e verduras. Tabagista 13 anos/maço. Consumo de álcool
social, aproximadamente 5 latas de cerveja a cada mês. Nega uso de drogas.
RS: sp.
RS: sp.
Exame Físico:
Geral: Paciente em BEG, LOTE,
anictérico, acianótico, hidratado e normocorado. Glasgow 15. PA: 130-90 mmHg;
pulso: 90 bpm; temperatura: 36,6°C e FR: 16 rpm.
C/P: sp
ACV: Ictus invisível e palpável ao
nível do 5° EI esquerdo na região inframamilar. BCRNFSS.
CPP: MV+ sem ruídos adventícios.
Abdômen: sp
Neurológico: sp
Exames Complementares:
ECG:
Marcadores de necrose miocárdica e ecocardiograma transtorácico: normais.
Qual o provável diagnóstico?
Quais as alterações no ECG?
José Vitor Martins Lago
Resposta ao Caso
Clínico X:
O diagnóstico provável é síncope
cardíaca (perguntar se há relação com o exercício) por Síndrome de Brugada, no
caso, caracterizada por história de
morte súbita familiar na faixa etária de 40 anos e achados
eletrocardiográficos de bloqueio de ramo
direito, elevação do segmento ST em derivações precordiais direitas na ausência
de um intervalo QT longo e anormalidades cardíacas estruturais. É
responsável por 40 a 60% dos casos de fibrilação ventricular idiopática. A
Síndrome de Brugada é um distúrbio autossômico dominante talvez com incidência
maior em asiáticos (o paciente era japonês) causado por uma variedade de
mutações nos genes dos canais de sódio cardíacos, responsável pela criação de
um ambiente arritmogênico.
O eletrocardiograma do paciente
demonstra um supradesnivelamento do segmento ST nas derivações V1 e V2 conforme destacado e um padrão de bloqueio de ramo direito (seta) típicos da Síndrome de
Brugada.
O diagnóstico é baseado nos
achados de eletrocardiograma que podem ser o padrão de bloqueio de ramo direito associado a três tipos de alteração do segmento ST: tipo 1 é caracterizado pela
por uma elevação do segmento ST de 2 mm
“encoberta” seguida de onda T negativa e a SB é confirmada se tais achados
se encontram nas derivações precordiais
direitas (V1 a V3) na presença ou ausência de bloqueadores do canal de
sódio e associada a uma das condições:
fibrilação ventricular documentada, taquicardia ventricular polimórfica, história familiar de morte súbita antes dos
45 anos, mesmo padrão eletrocardiográfico em outros membros da família ou
indução de arritmias ventriculares ao estudo eletrofisiológico, síncope ou respiração agônica noturna.
Nestas situações as alterações da SB podem ser “desmascaradas” por drogas
bloqueadoras do canal de sódio, ou de ação vagotônica ou ainda durante estados
febris. O tipo 2 é caracterizado
pela presença de uma elevação do segmento ST de 2 mm seguido de um
infradesnivelamento do segmento ST de 1 mm ou onda T positiva ou bifásica. O tipo 3 tem uma elevação do segmento ST
de 1 mm em mais de uma derivação precordial direita que com a administração de
bloqueadores do canal de sódio aumenta para mais de 2mm.
Tipo 1, 2 e 3 da Síndrome de Brugada |
É importante ressaltar os
diagnósticos diferenciais de síncope, sendo o principal e a mais frequente: a
desencadeada por reflexo vasovagal. Geralmente a síncope neurocardiogênica
associa-se com sintomas prodrômicos como náuseas, vômitos, mal-estar,
palpitações e escurecimento da visão. Diversas situações podem desencadear como
dor intensa, medo, ambientes aglomerados, perda de sangue. Além disso há outras
síncopes estimuladas pelo vago como a situacional (desencadeada por micturação,
defecação, tosse, deglutição, pós-prandial) e a hipersensibilidade do seio
carotídeo (lembrar da camisa com gravata). Também é importante distinguir de
outros sintomas como convulsões (liberação de esfíncteres, maceração de língua,
danos aos dentes, confusão pós-ictal prolongada) e lipotimia (uma espécie de
pré-sincope, onde indivíduo perde o tônus postural, contudo não perde a
consciência).
02/06/13
Curiosidade:
Quem foi Babinski? Qual a
definição do sinal?
Joseph Félix François Babinski
nasceu em Paris em 1857. Segundo filho do engenheiro Alexander Babinski e da
também polonesa Henriette Weren, imigrantes fugidos de uma Polônia dividida por
uma guerra entre a Rússia e a Prússia. Babinski tornou-se o pupilo predileto do
Professor Jean-Martin Charcot. Entre os alunos do professor francês estavam:
Sigmund Freud; Joseph Bouchard; Georges Gilles de la Tourette; Alfred Binet.
Charcot é considerado o “pai da
neurologia moderna”, famoso por descrever várias patologias como artropatia de
Charcot, Doença de Charcot (Esclerose Lateral Amiotrófica) e Tríade de Charcot
da colangite (icterícia, dor em hipocôndrio direito e febre).
Retornando ao sinal de Babinski,
que consiste na dorsiflexão ou extensão do hálux com ou sem abertura dos outros
dedos em forma de leque, ou seja, é patológico. Portanto, a utilização de sinal
de Babinski positivo é um pleonasmo. Esse sinal indica lesão da via piramidal
ou cortico-espinhal em adultos. Em
crianças de até 2 anos, é fisiológico, graças a não mielinização completa do
trato cortico-espinhal, não ocorrendo inibição do córtex cerebral.
Reflexo cutâneo-plantar |
Outras variantes para a busca do sinal de Babinski:
- Sinal de Gordon: compressão com
a mão dos gastrocnêmios
- Sinal de Oppenheim:
deslizamento com força com os dedos do examinador de cima para baixo na
tuberosidade da tíbia.
- Sinal de Schaeffer: compressão
com o indicador e o polegar o tendão de Aquiles.
- Sinal de Chaddock: atrito na
região inframaleolar
- Sinal de Rossolimo: percussão
da base dos artelhos
Caso Clínico IX:
Anamnese:
Identificação: 45 anos, mulher, branca.
Queixa Principal: Formigamento
HMA: Iniciou quadro de parestesias bilaterais há 5 meses, primeiro
em região de pés até alcançar os joelhos, quando concomitantemente iniciou-se
em mãos. Refere duração contínua, sem fator de alívio ou piora. Como sintomas
associados apresenta disbasia progressiva (em cadeira de rodas) há 2 meses,
dispneia aos esforços sem ortopneia, ardor lingual e fadiga, todas há 3 anos.
Nega cefaleia, alteração nos esfíncteres, sangramentos.
HMP: Nega operações e internamentos anteriores. Refere sífilis há
30 anos, porém tratada com penicilina sem recorrências ou recidivas. Nega DM e
HAS. Apresenta hipotireoidismo e anemia há 3 anos. Em uso de sulfato ferroso
200 mg/dia e levotiroxina 70 μg/dia. Nega transfusões anteriores.
HMF: Mãe faleceu aos 60 anos de embolia pulmonar e pai aos 48 de
cirrose hepática.
CHV: Alimentação saudável com ingesta balanceada de carnes e
verduras. Nega tabagismo e etilismo.
RS: sp
Exame Físico:
Geral: Paciente em REG, LOTE, anictérica, hidratada, hipocorada
(+++/4+). PA: 120-80mmHg; pulso: 104 bpm; T: 36,6°C e FR: 20 rpm.
C/P: Conjuntiva hipocorada (+++/4+) e língua lisa e despapilada.
Tireóide aumentada à palpação.
CPP: Expansibilidade normal. MV + bilateralmente, sem ruídos
adventícios.
ACV: BCRNF com sopro sistólico em ejeção difusamente.
Abdômen: flácido, globoso, RHA presentes. Timpanismo a percussão.
Hepatimetria normal e espaço de Traube livre. Ausência de massas ou dor a
palpação.
Neurológico:
1) Estado
Mental: Lúcida e orientada em tempo e espaço. Glasgow: 15
2) Nervos
cranianos: I- olfato normal, II- visão normal III, IV
normais, V- motor- força normal dos músculos da mastigação, sensorial- sem
alteração nas três regiões, VI, VII- sem anormalidades, VIII- audição bilateral
ao relógio, IX e X – reflexo de vômito preservado, ausência do sinal da
cortina; XI; força do ECM e trapézio 5/5; XII: língua na linha média.
3) Força
e tônus muscular: hipertonia elástica nos quatro membros,
4+/5 em ombros, 4+/5 bíceps, 4+/5 tríceps, 4+/5 preensão, 4+/5 quadril, 4+/5
coxas, 4+/5 perna e 4+/5 pés bilateralmente.
4) Reflexos
tendíneos:
Reflexos
|
Bíceps
|
Tríceps
|
Braquiorradial
|
Patelar
|
Aquileu
|
Cutâneo
Plantar
|
direito
|
++++
|
++++
|
++++
|
++++
|
++++
|
Em extensão
|
esquerdo
|
++++
|
++++
|
++++
|
++++
|
++++
|
Em extensão
|
5)
Sensibilidade: hipoestesia tátil epicrítica em “luvas”
e em “botas de cano alto” bilateralmente. Apalestesia (perda da sensibilidade
vibratória) e perda da noção da posição segmentar.
6)
Marcha: ataxo-talonante
7)
Coordenação: movimentos rápidos e alternantes das
mãos normais, index-nariz sem alteração.
8)
Equilíbrio: prova de Romberg positiva sem tendência
de lateralização na queda.
9)Sinais
Meníngeos: Kernig e Brudzinski ausentes.
Exames
Complementares:
Hemoglobina:
5,6 g/dl (12-16)
VCM:
105 (80-100)
HCM:
28,6 (27-32)
CHCM:
34 (30-36)
Leucócitos:
1500 (4000-11000)
Linfócitos:
57%
Monócitos:
5%
Bastões:
1%
Segmentados:
37%
Reticulócitos:
0,7 % (0,8-4,1)
Plaquetas:
100.000 (150.000-400.000)
Esfregaço
de sangue periférico: Presença de megaloblastos no esfregaço.
Vitamina
B12:
40 pg/ml (> 150 pg/ml)
Ácido
Fólico: 3,4 (3-17)
Liquor:
normal
Qual
provável diagnóstico?
Qual
a etiologia?
Resposta
ao Caso Clínico IX:
O provável
diagnóstico é degeneração combinada subaguda de medula, graças à deficiência de
vitamina B12. Provavelmente a paciente apresenta anemia perniciosa, em
decorrência da associação com o hipotireoidismo, que normalmente é associado
com essa patologia. É uma doença da idade madura (>50 anos), de ambos os
sexos, da raça branca, mais frequente em pacientes de pele clara e olhos azuis.
Há deficiência de fator intrínseco por atrofia ou ausência das células
parietais, por produção de anticorpos anti células parietais, levando a incapacidade de absorção de vitamina B12.
O
quadro clínico caracteriza-se por cansaço, palidez acentuada, língua lisa,
ardor lingual, sensação parestésica nos membros inferiores e mãos, dificuldade
de locomoção, alterações dos esfíncteres, hipo- ou hiperreflexia, perturbação
mental (alucinações). É clássica a presença do sinal de Babisnki. Ocorre
degeneração dos cordões laterais e posteriores da medula. Prova de Romberg
positiva sem lateralização. Pode haver uma pancitemia, pois a vitamina B12 é
fundamental para fabricação do DNA das células.
Além
disso, o diagnóstico diferencial deveria ser feito com sífilis já que pode
haver tabes dorsalis 20-30 anos após a infecção primária, contudo foi
adequadamente tratada aparentemente. Nota-se também um erro comum na prática
clínica que é o tratamento de qualquer anemia, sem fundamentação, com sulfato
ferroso.
José Vitor Martins Lago
26/05/13
Curiosidade:
Qual a origem do termo
gota? Por que acomete mais a 1ª MTF?
Gota é uma doença
conhecida desde 2640 a.C identificada pelos papiros egípcios. Hipócrates a
descreveu e correlacionou a doença com hábitos de vida imoderados (mesas fartas
de alimentos finos e bebidas associado à gula), denominando “doença dos ricos”
ou “doença dos reis”. Logo, acometeu várias personalidades célebres da
história, entre essas pessoas estão: Isaac Newton, Michelangelo, Alexandre- o
Grande, Benjamin Franklin, Charles Darwin, Carlos Magno, Henrique VIII, 19 dos
30 imperadores romanos, 7 papas, 8 reis de França, 5 reis de Inglaterra, 2 reis
de Portugal, 5 Médici, 8 duques de Lorena.
Esse
quadro representa um aristocrata, obeso, sentado perto à lareira para certa
melhora da dor da gota, a expressão representa a dificuldade do tratamento
naquela época.
|
Contudo, o termo “gota” vem
do latim “gutta” e é baseado na teoria dos quatro humores corporais,
responsáveis em equilíbrio por manter a saúde, com excesso de um deles
ocorreria, em certas circunstâncias, o “gotejar” em uma articulação, causando
dor e inflamação.
O podagra, inflamação da
primeira metatarsofalangiana, é a manifestação clássica do primeiro ataque da
doença. Contudo, outras articulações podem ser o local do ataque inicial:
tornozelo, joelhos, punhos, dedos e cotovelos.
A razão para acometer
essas articulações, baseia-se no fato de que a concentração normal de uratos no
sangue está próxima à razão de solubilidade dos uratos à temperatura normal do
corpo humano. Por exemplo, a 37°C, o limite de solubilidade do ácido úrico é
6,5 mg%. À temperatura de 30°C, o ácido úrico irá se precipitar à uma
concentração maior que 5,2 mg%.
Outra observação é a de
que a difusão da água na membrana sinovial é muito mais rápida do que a do
ácido úrico. Isso promove, transitoriamente, concentrações altas do cristal, o
que favorece a precipitação. A 1ª MTF, muito sujeita a microtraumas com o seu
uso, rotineiramente está edemaciada, e esse líquido dilui o ácido úrico contido
na mesma. Ao repouso, à água é reabsorvida mais rapidamente que o ácido úrico,
causando um ataque agudo de artrite. Portanto, esses dois fatores temperatura e
reabsorção explicariam porque muitas crises acontecem de madrugada.
Referências Bibliográficas:
MAFFI, Silvio. Clínica
e Cirurgia do Pé: GOTA – Artrite Gotosa no Hallux – Podagra.
Disponível em: http://www.clinicaecirurgiadope.com.br/artigo/17.
Acesso em: 26 de maio de 2013.
NUKI, George; SIMKIN, Peter. A concise history of gout
and hyperuricemia and their treatment. Arthritis
Research & Therapy, v. 8, n. 1, p. 1-5, 2006
SKARE, Thelma Larocca. Reumatologia: princípios e prática. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007. 335 p.
Caso
Clínico VIII:
Anamnese:
Identificação:
JRS; 55 anos; masculino; branco; natural e residente de Curitiba-PR; casado;
engenheiro.
Queixa
Principal: Dor no tórax
HMA:
Paciente
iniciou dor no tórax há 5 horas após queda de mesmo nível por desequilíbrio.
Refere que a dor é na 10ª costela na linha axilar anterior direita, de grande
intensidade, em pontada sem irradiação. Duração contínua com piora a inspiração
profunda. Como sintomas associados refere crepitação óssea audível e dispneia,
contudo está há 4 meses com piora aos médios esforços e associada com
palpitações. Nega ortopnéia e dispneia paroxística noturna.
HMP:
Nega
doenças na infância e operações anteriores. Nega internamentos anteriores.
Apresenta HAS e DM. Em uso de enalapril, hidroclorotiazida e metformina.
HMF:
Nega
história de fraturas na família. Pai faleceu aos 72 anos de IRC e mãe aos 64 de
TEP.
CHV:
Refere
alimentação com bastante ingesta de leite e derivados. Nega etilismo. Tabagismo
há 30 anos, meio maço dia.
RS:
Sistema
urinário: urina espumosa; Sistema vascular: edema; Pele: prurido.
Exame
Físico:
Geral:
Paciente
BEG, LOTE, anictérico, hidratado, hipocorado (++/4++++). PA: 130/80 mmHg;
pulso: 108; T: 36,6°C; FR: 16 rpm. Altura: 1,72; Peso: 78 kg.
Pele:
Lesões
crostosas secundárias ao prurido.
C/P:
Edema
periorbital.
ACV:
BCRNFSS
CPP:
Nenhuma
deformidade é observada. MV + bilateralmente. Crepitação óssea em campo
inferior do hemitórax direito.
Abdômen:
flácido
e globoso, RHA presentes. Som timpânico a percussão, espaço de Traube livre e
hepatimetria normal. Ausência de dor ou massas a palpação. Sinal da macicez
móvel e macicez em flancos ausentes.
Vascular:
edema
com cacifo bilateralmente em membros inferiores. Ausência de sinais de
insuficiência vascular.
Exames
complementares:
Hemograma:
Hb:
9; VCM: 84; HCM: 29 CHCM: 35
Creatinina:
4,5
(0,9-1,3)
Uréia:
150
(<40)
Cálcio:
8,0
(8,5-10,5)
Fosfato:
9,3
(3,5-5,5)
Vitamina
D (25OH): 8,2 (>20)
Paratormônio:
90
(12-65)
Densitometria
óssea: Escore T: L2-L4 < -2,5
Qual a causa da
osteoporose?
Qual a origem da dispneia?
Resposta
ao Caso Clínico VIII:
Paciente apresenta
osteoporose, baseado tanto na fratura apresentada em um trauma de baixa energia
como na densitometria óssea com o escore T menor ou igual a -2,5 de coluna
lombar.
A partir
disso, como o é paciente homem e apresentar somente tabagismo como fator de
risco, procurou-se uma causa secundária para a osteoporose. Percebe-se que há
uma insuficiência renal crônica com uremia (proteinúria, prurido sine matéria,
edema facial e em pernas). A uremia causa uma deficiência na produção de 1,25
(OH)2 vitamina D pela lesão renal. A redução de calcitriol prejudica a absorção
de cálcio no intestino, levando a hipocalcemia. Logo acarreta um
hiperparatireoidismo secundário. Caracteriza-se por hiperfosfatenemia (diferença
entre a deficiência de vitamina D, onde aqui o fosfato está baixo), cálcio
no limite inferior da normalidade ou baixo, paratormônio alto e vitamina D
baixa.
A
dispneia não é aparentemente da fratura, apesar da crepitação. A origem
da dispneia é da anemia normo/normo, graças à insuficiência renal crônica em
detrimento à produção de eritropoitina.
José Vitor Martins Lago
Curiosidade
Qual a origem e o que significa a palavra flogose?
Por que a artrite piora à noite?
Inflamação e flogose são
sinonímias, contudo originárias do latim e do grego, respectivamente. Flogose
do grego phleg ou phologos significa queimar e phox, chama. Já o termo inflamação, do
latim inflamatio equivale a
incendiar, por extensão de calor.
Embora os sinais de inflamação tenham
sido descritos em um papiro egípcio (3000 a.C.), Celsus, escritor romano do
primeiro século d.C., foi o primeiro a citar os quatro sinais cardinais de
inflamação: rubor, tumor, calor e dor. Um quinto sinal clínico, perda da função
(functio laesa), foi depois acrescentado por Virchow.
Após o repouso, principalmente à
noite há uma piora da dor articular pela flogose, podendo até causar distúrbios no sono do
indivíduo. Uma possível explicação para isso seria pelo acúmulo de
líquido na articulação durante um período de repouso e por uma menor secreção
de cortisol endógeno (inibe a fosfolipase A2 e, consequentemente, a inflamação) e uma maior secreção de prolactina (efeito pró-inflamatório) à noite.
Sinais cardinais ou flogísticos |
Caso Clínico VII:
Anamnese
Identificação: MSS, 60 anos, feminino, branca, natural e residente
de Curitiba-PR, casada, doméstica.
Queixa Principal: “Dor no dedo e nas juntas”
HMA: Paciente iniciou artralgias de forma generalizada e
progressiva há 1 ano, principalmente em IFD, IFP, primeiras carpo metacarpianas do
primeiro dedo das mãos e joelhos de
forma simétrica e aditiva. Relata que a dor é de moderada intensidade, de
caráter surdo, sem irradiação e duração contínua. Apresenta piora a movimentação
e alívio parcial ao repouso. Como sintoma associado relata rigidez matinal de
20 minutos. Nega sinais flogísticos nessas articulações, nódulos reumatoides,
alterações cutâneas.
Refere que há 3 dias apresenta dor acentuada
no 3° dedo na IFD da mão direita, diferente das outras, de caráter latejante
(sic), sem irradiação. Relata duração contínua e demonstra alívio a
movimentação e piora noturna. Como sintomas associados apresenta rubor, calor e
edema. Nega febre e infecções anteriores.
HMP: Nega cirurgias e internamentos anteriores. Hipertensa e
diabética controlada, em uso de captopril, metformina e atorvastatina.
HMF: Pai faleceu aos 58 anos de AVE e mãe aos 70 anos de pneumonia.
Relata que a mãe possuía nódulos em IFD semelhantes aos que apresenta.
CHV: Alimentação balanceada, negando ingesta de gorduras em excesso.
Nega tabagismo e etilismo.
Exame Físico:
Geral: Paciente em BEG, LOTE, anictérica, hidratada e normocorada.
PA: 130/80mmHg; pulso: 80 bpm; T: 36,5°C; FR: 16 rpm.
CPP: Expansibilidade torácica normal e MV+ bilateralmente e sem
ruídos adventícios.
ACV: BCRNFSS.
Abdômen: flácido, globoso com RHA presentes. Som claro timpânico a
percussão, espaço de Traube livre e hepatimetria 7 cm na linha HCD. Ausência de
massas palpáveis e dor a palpação.
Músculo-esquelético: Mão com desvio lateral da falange distal do 2°
dedo da mão direita, defeitos em flexão do 4° e 5° dedo da mão direita, mãos em
quadrado. Nódulos de Heberden em 2° e 4° dedo da mão
direita e 3° e 4° da mão esquerda, Nódulos de Bouchard em 2°, 3° e 4° dedos da
mão direita e no 3° da mão esquerda. Presença de nódulo com sinais flogísticos
e doloroso na 3ª IFD da mão direita. Presença de crepitação a movimentação
passiva dos dois joelhos. Sinal da tecla rotuliana e manobra de Finkelstein
negativos.
Exames
complementares:
Punção da 3ª IFD direita:
Líquido amarelo
Leucócitos: 20.000
Glicose: 95 (sanguínea de 102)
Viscosidade baixa
Exame Microscópico: grumos
globulares semelhantes a moedas
Qual o provável diagnóstico geral?
Qual a principal hipótese para explicar a artrite do 3° dedo?
Qual o nome específico da alteração que leva a "mão em quadrado"?
Resposta ao Caso
Clínico VII:
O diagnóstico geral da paciente é
osteoartrite ou artrose, doença reumática mais comum, caracterizada por perda
progressiva da cartilagem articular e alterações reativas às margens das
articulações e do osso subcondral. Clinicamente, demonstrada por dor,
deformidade, limitação do movimento e progressão lenta para a perda de função
articular. A osteoartrite é considerada comumente como uma consequência
inevitável do envelhecimento, uma manifestação do desgaste ou resultado de uma
mecânica articular anormal.
No caso descrito, a paciente
apresentava artrose de interfalangianas, base do polegar e de joelhos. O
principal diagnóstico diferencial é com A.R., contudo a osteoartrite geralmente
acomete IFD e poupa punhos, diferente da A.R. Além disso, nódulos de Heberden
(IFD) e Bouchard (IFP) são característicos de artrose e não há sinais
flogísticos.
A principal hipótese para a
artrite do 3° dedo é deposição de cristais de hidroxiapatita (mineral
encontrado nos ossos) ou pirofosfato de cálcio, secundária a artrose pelo estresse mecânico que culmina
com a deposição desses cristais na articulação. Observa-se nesses casos, um
nódulo quente com sinais inflamatórios bem evidentes como dor importante,
vermelhidão e edema. O diagnóstico é sugerido por achados radiológicos de
calcificação intra e/ou periarticular, com ou sem erosões, associados e achados
de osteoartrite. O líquido sinovial é, nos casos agudos, de característica
inflamatória, ou seja, com viscosidade baixa e leucócitos entre 2000-50000. Os
cristais de hidroxiapatita podem surgir como agrupamentos ou parecerem moedas
brilhantes no interior das células, mas não apresentam birrefringência ao
microscópio de luz polarizada. Entretanto, a identificação completa só pode ser
feita por ME ou através de difração por RX. O tratamento é feito com AINES e a
condição geralmente é auto-limitada. É importante diferenciar com gota, já que
a paciente era hipertensa e diabética.
Por fim, a rizartrose
(osteoartrite da 1ª trapezo-metacarpiana ou base do polegar) leva a mão em
quadrado.
José Vitor Martins Lago
12/05/13
Curiosidade:
Qual a origem da palavra
reumatologia?
Os quatro humores |
Nos tempos modernos, o
termo “rheuma” é primeiramente descrito por Guillaume de Baillou. Médico
francês (1538-1616), Baillou usou “Rhumatismes” para descrever a febre
reumática. Patologia que cursa com poliartrite migratória, ou seja, artrite que
passa para uma nova articulação, desaparecendo na previamente acometida.
Portanto, é possível que
Baillou tenha resgatado o termo grego “rheuma”,
de forma a descrever a acepção de fluido
(edema presente na articulação inflamada),
quanto à explicação de fluxo/movimento
(migração do sítio de inflamação). Como naquela época havia uma dificuldade
para diferenciar as diversas patologias que cursavam com artrite migratória ou
aditiva, o termo acabou sendo atribuído a todas elas.
Caso
Clínico VI:
Anamnese:
Identificação:
JSM,
23 anos, masculino, caucasiano, natural e residente de Curitiba-PR, solteiro,
estudante.
Queixa
Principal: “Dor nas costas”
HMA:
Paciente
afirma dor insidiosa há 5 meses em região lombar baixa bilateral com piora há 8
dias, quando 2 dias antes praticou musculação intensa. Refere que é uma dor de
média intensidade, de caráter surdo, sem irradiação de duração constante.
Relata piora da dor quando deita e leve melhora com exercícios e AINES. Como
sintomas associados apresenta: dor e fotofobia com borramento visual em olho
esquerdo, rigidez matinal de 45 minutos, distúrbios do sono, acordando várias
vezes na noite. Nega lesões cutâneas, artrites, alterações intestinais, trauma.
HMP:
Nega
operações e internamentos anteriores. Há 2 anos foi diagnosticado com tendinite
do tendão de Aquilez. Nega DM, HAS, reumatismos e infecções urinárias ou
intestinais há menos de 2 meses. Não faz uso de medicamentos de uso contínuo,
contudo utiliza AINES quando há lombalgia.
HMF:
Mãe,
52 anos, saudável. Pai, 57 anos, com história de IAM. Tio materno apresenta
psoríase.
CHV:
Prática
ciclismo de maneira regular 2x/semana. Nega tabagismo, etilismo e relações
sexuais sem o uso de preservativo.
Exame
Físico:
Geral:
Paciente
em BEG, LOTE, anictérico, hidratado e normocorado. Sem atitudes
características. PA: 120-80 mmHg; pulso: 80 bpm; temperatura: 36,6°C; FR: 16
rpm.
C/P:
Hiperemia
em olho esquerdo, presença de flare no humor aquoso, reflexo fotorreagente
lento (miose), diminuição da acuidade visual.
CPP:
Expansibilidade
torácica 86/88 diminuída. MV + bilateralmente sem ruídos adventícios.
ACV:
BCRNFSS
Abdômen:
globoso,
flácido com RHA presentes. Som timpânico a percussão, espaço de Traube livre e
hepatimetria normal. Ausência de massas ou dor a palpação.
Musculoesquelético:
Ausência
de sinais flogísticos em articulações e alterações posturais. Presença de sinal
do arco com dor a palpação do tendão do supraespinhoso no lado direito. Manobra
do tripé com dor na região glútea. Indice de Shober: 10/13,5 cm. Manobra de
Lasègue e Spurling negativas.
Exames
Complementares:
Fosfatase Alcalina:
aumentada
FR e FAN: negativos
HLA B27: em processamento
Raio-x de sacroilíacas:
Qual o provável diagnóstico?
José Vitor Martins Lago
Resposta
ao Caso Clínico VI:
O
diagnóstico é Espondilite Anquilosante uma
espondiloartropatia soronegativa. Caracteriza-se por uma artropatia axial,
crônica, com predominância masculina 3:1. Inicia-se entre a puberdade e os 35
anos de idade, com pico na segunda década.
A maioria
dos pacientes se queixa de dor lombar
baixa, insidiosa, e na parte inferior das nádegas, não bem localizada,
acompanhada caracteristicamente de rigidez matinal (>30 minutos) e que melhora
após movimentação. É muito importante a diferenciação
com dor do tipo mecânica, que piora com a movimentação e melhora ao
descanso, diferente da inflamatória que
piora ao descanso e melhora com exercício. Além disso, o paciente chega a
acordar à noite, por causa da dor, ocasionando distúrbios do sono.
Outros
sintomas são artrite periférica de
padrão oligoarticular e assimétrico com predominância dos membros inferiores
ou articulaçõs próximas ao tronco (quadris
e ombros). Entesopatias (entese é o
local de inserção do tendão) são comuns, principalmente de tendão de Aquilez e
fasciite plantar. Uveíte anterior aguda
unilateral (padrão descrito na anamnese e no exame físico) ocorrem em ¼ dos
pacientes e tem associação com HLA B27
positivo.
Ao exame
físico, observa-se, às vezes, hábito
espondilítico (em esquiador), no qual o doente perde a lordose lombar e
apresenta cifose torácica e pode flexionar os joelhos para compensar a
contratura dos quadris. Manobra do Tripé
(pede-se para paciente ficar em decúbito ventral e faz-se pressão contra o
sacro, irradiando a dor para as nádegas) positiva pode sugerir sacroileíte. Índice de Shober e expansibilidade torácica geralmente estão diminuídos,
em razão do espasmo muscular secundário à dor e a inflamação.
Nos exames
complementares, fosfatase alcalina e níveis de IgA podem relacionar-se com o
grau de atividade da doença. FR e FAN são negativos. E sacroileíte costumar estar presente ao raio-x como no caso, sendo
um grande fator diagnóstico. RM, TAC e cintilografia podem demonstrar
alterações anos antes do raio-x. HLA B27 está frequentemente presente, mas não
é indispensável.
Não existe
tratamento específico para EA, é importante ressaltar os exercícios físicos que
possam manter a postura funcional. A maioria requer uso de AINES, o mais
utilizado é a indometacina. Alguns estudos tem demonstrado bons resultados com
sulfassalazina e metotrexate para artropatia periférica.
Curiosidade:
Por que quando vamos à piscina/mar temos vontade de urinar?
Basicamente, a pressão
hidrostática exercida pela água da piscina/mar aumenta o retorno venoso para o
tórax. Isso pode ser explicado pela pressão maior nas regiões inferiores, pois
a altura de líquido é maior e, consequentemente, há uma pressão maior (a
densidade do líquido e a gravidade também são proporcionais à pressão, onde Ph=
d.g.h). Logo, o sangue vai de uma região de maior para uma de menor pressão.
Assim, o retorno venoso aumenta e há um
aumento do DC.
Consequentemente a esse aumento,
o organismo possui mecanismos de autorregulação de pressão arterial. Então,
como os barorreceptores são sensibilizados pela distensão da parede vascular,
há uma inibição do sistema renina-angiotensina-aldosterona e do ADH. Também, em consequência, da distensão atrial
direita há liberação de peptídeo natriurético atrial (PNA). A água fria
exacerba a resposta. Portanto, todas essas inibições e a estimulação de
produção de PNA levam ao aumento do débito
urinário com natriurese e perda de potássio.
Portanto, quanto mais tempo
ficarmos na piscina/mar e maior será a diurese.
Referência Bibliográfica:
FINHOLDT, M. C., Análise da função autonômica sobre o sistema cardiovascular em humanos submetidos a mudança postural e imersão em água. 2007. 41 f. Dissertação (Mestrado em Patologia Clínica)- Universidade Federal do Triângulo Mineiro, 2007.
Caso Clínico V:
Anamnese:
Identificação: NDF, 20 anos, masculino, pardo, natural e residente
de Curitiba-PR.
Queixa Principal: “Urina de cor escura”
HMA: Paciente iniciou há 15 dias quadro de hematúria de média
intensidade, sem associação com dor em flancos, de duração constante sem
fatores de alívio ou piora. Refere também oligúria, edema bilateral das pernas,
cefaleia occipital bilateral de média intensidade e pulsátil com escotomas,
astenia, dispneia com ortopneia e dispneia paroxística noturna. Nega disúria,
noctúria, polaciúria, artrite, alterações cutâneas e febre.
HMP: Refere que tem traço falciforme desde a infância e há cinco
anos apresentou quadro hematúria macroscópica atribuída a esse diagnóstico.
Nega operações. Relata que há 30 dias teve um quadro gripal (sic) com febre,
mialgias, dor em orofaringe medicado com penicilina benzatina IM e diclofenaco
sódico por 5 dias. Nega HAS, DM e doenças reumáticas. Não faz uso de
medicamentos contínuos.
HMF: Mãe, 42 anos, hepatite C crônica. Irmã 22 anos, HIV + em uso de antirretroviral. Não conhece o pai.
CHV: Nega tabagismo, etilismo e uso de drogas. Não apresenta
comportamento sexual de risco.
RS: sp.
Exame Físico:
Geral: BEG, LOTE, hipocorado +/4+, hidratado, anictérico sem
fascies características. PA: 180/110; FC: 80 bpm; temperatura: 37°C; FR: 30
rpm.
C/P: Orofaringe com leve hiperemia, sem focos purulentos. Ausência
de linfonodomegalia e estase jugular.
CPP: MV reduzido em base direita, ausência de ruídos adventícios.
ACV: BRNF com sopro holossistólico em regurgitação em foco mitral.
Abdômen: flácido, globoso, RHA presentes. Som timpânico a
percussão. Hepatimetria de 6 cm em LHCD, espaço de Traube livre. Ausência de
massas ou dor à palpação.
Vascular periférico: Edema +++/4+ de MMII com cacifo e sem
alteração da pigmentação.
Exames
Complementares:
Exames de sangue: Hb: 10,5g/dL; leucócitos: 7800; plaquetas
200.000; reticulócitos: 1,6%; esquizócitos ausentes; DHL, TGO,TGP, gama-GT,
glicose normais. Albumina: 2,5; gama-globulina: 2,0 g/dL – ausência de
paraproteínas; C3 diminuído e C4 normal; FAN, anti-DNA , crioglobulinas, ANCA, FR,
todos negativos ou normais; ASLO 500 U (VR: < 200); sorologias para HBV,
HCV, HIV negativas.
Urinálise: densidade urinária 1018;
pH 6,0; proteínas > 1g/L;
leucócitos 10/campo, eritrócitos > 100/campo, com dismofismo moderado
(cilindros hemáticos); proteinúria de 24 horas: 11,0 g; creatinina 8,0 mg/dL;
uréia 280 mg/dL; Na 136; K 5,4; Ca 8,6 mg/dL; P 4,2 mg/dL; HCO3 15,0 mEq/L.
RX de tórax: derrame pleural moderado à direita, área cardíaca
normal.
Biópsia Renal: Glomerulonefrite Proliferativa Endocapilar Difusa,
com crescentes (6/14).
Imunofluorescência: Fragmento renal representado pela cortical com
nove glomérulos. Depósitos granulares de fator C3 do complemento sobre mesângio
e alças capilares, com distribuição difusa.
Qual diagnóstico sindrômico?
Qual provável diagnóstico?
José Vitor Martins Lago
Resposta ao Caso
Clínico V:
Paciente
jovem que apresentou quadro de instalação rápida com oligúria (<400 mL/dia),
edema, hipertensão (explicando a cefaleia com escotomas), hematúria, perda de
função renal e proteinúria nefrótica (>3,5), acompanhada de hipoalbuminemia.
Na história mórbida pregressa apresenta história de IVAS, provavelmente
amigdalite, traço falciforme com história de hematúria.
A
partir disso, paciente apresenta uma síndrome
nefrítica, com componente nefrótico muito importante. Dentre as doenças associadas ao aparecimento desta síndrome
destacam-se a glomerulopatia pós-infecciosa, a endocardite infecciosa, a
nefropatia da IgA e o lúpus eritematoso sistêmico.
Para
elucidação diagnóstico, os exames complementares ajudaram, mostrando ASLO
aumentada, FAN e anti-DNA negativos e C3 consumido. Isso afasta nefropatia por
IgA, que não cursa com consumo de complemento e LES com FAN negativo. Contudo,
favorecem a hipótese de glomerulonefrite
pós-infecciosa pelo ASLO aumentado e
pela história de amigdalite.
Quanto ao antecedente de
hematúria macroscópica, esta pode ser decorrente do traço falciforme; 3-4% desses indivíduos apresentam, em algum
momento, hematúria com estas características. De um modo geral, este evento
ocorre por falcização na vasa recta,
secundária a situações que se apresentam com pressão de O2 diminuída, pequenos traumas locais, necrose
medular/papilar e eventual evolução com fibrose intersticial. O uso de AINH
facilita esse fenômeno, que não nos pareceu estar relacionado com o quadro
atual do paciente.
O diagnóstico histopatológico
confirmou, nesta situação, a hipótese clínica de GN pós-estreptocócica (GNDA). A idade do paciente chama a atenção,
uma vez que o mesmo se situa fora da faixa etária de maior incidência da GNDA
(2 a 6 anos) e, ainda assim apresentou uma história muito característica. A
patogênese da GNDA é representada por uma reação inflamatória dos glomérulos
renais em resposta à infecção por cepas nefritogênicas de estreptococos
beta-hemolíticos do grupo A de Lancefield. O período de latência entre a
infecção e o aparecimento das lesões corresponde ao período de formação e
posterior deposição dos imunocomplexos nos glomérulos.
Outros fatos bastante marcantes
eram a gravidade do quadro: o paciente evoluiu rapidamente para insuficiência
renal dialítica e ICC (síndrome cardiorrenal), com complicações decorrentes de
hipervolemia (edema agudo de pulmão/emergência hipertensiva).
28/04/13
Curiosidade:
Qual a importância da dosagem da creatinina e da ureia? Por que
calcular clearence de creatinina se existem valores de referência específicos
para creatinina sérica?
Quanto será a creatinina do rapaz? |
No entanto, com o desenvolvimento
da insuficiência renal e a conseqüente elevação da concentração plasmática de
creatinina, a fração secretada aumenta
muito. Isto acarreta, na avaliação da taxa de filtração glomerular, um
resultado superestimado.
Já a ureia é o produto final do
metabolismo nitrogenado e a sua concentração plasmática depende de muitos
fatores que afetam o metabolismo do nitrogênio como ingesta, catabolismo
proteico, trauma, infecção e febre, absorção de sangue do TGI e DEEC. O valor
normal gira em torno de 20-40mg/dL. Logo, ao contrário da creatinina, a
concentração plasmática pode variar muito sem que haja alteração do clearence
de ureia.
A ureia é livremente filtrada no rim
(aproximadamente 90%) e não é secretada. Contudo, é reabsorvida aproximadamente metade da filtração pelos túbulos renais.
Quando a taxa urinária está baixa, a ureia acaba sendo mais reabsorvida nos
túbulos distais junto à água pelo ADH (explicando ureia muito mais alta na DEEC
que creatinina). Sabe-se, portanto, que a ureia subestima a filtração glomerular pela metade do filtrado ser
reabsorvido.
Logo, a creatinina acaba sendo um
valor muito mais fidedigno para triagem de doença renal e a ureia e a
creatinina apresentam mais importância juntas, quando há um declínio da função
renal. Alguns autores atribuem a média do clearence das duas substâncias para
uma abordagem correta, pelo menos para uma creatinina plasmática acima de 4
mg/100Ml.
Então, afinal qual a importância
do clearence de creatinina?
A importância do cálculo do
clearence reside no fato que a creatinina varia de acordo com a massa muscular.
Por exemplo, um jovem masculino de 20 anos de 80 kg que vai à academia
regularmente apresenta uma massa muscular muito maior que uma idosa de 80 anos
de 55 kg. Portanto, apesar da creatinina
dos dois serem iguais e dos dois estarem acima do limite superior da
normalidade, o jovem teria um clearence de creatinina de 107mL/min e a idosa
teria um clearence de 27 mL/min, caracterizando no primeiro uma função renal
normal e na segunda sugerindo uma IR.
Atualmente, existem fórmulas de
clearence de creatinina mais acuradas e complexas como MDRD e a CKD-EPI,
disponíveis em aplicativos.
Referências
Bibliográficas:
RIELLA, Miguel Carlos. Princípios de nefrologia e distúrbios
hidroeletrolíticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 1247 p.
Caso Clínico IV:
Anamnese:
Identificação: 38 anos, feminina, negra, solteira, doméstica.
Queixa Principal: “Inchaço e dor nas articulações”
HMA: Paciente iniciou quadro progressivo de edema generalizado há 2
meses. Relata que apresenta edema de MMII, ascite e edema de face com “olhos
empapuçados”, principalmente quando acorda. Relata duração constante, com piora
do edema de MMII no final do dia. Refere alguma melhora com a elevação dos
membros inferiores. Como sintomas associados apresenta urina espumosa, dispneia
sem ortopneia, ganho de peso (10kg).
Afirma também que iniciou há 6
meses artrite em joelho direito, tornozelo esquerdo, cotovelo esquerdo e punho
direito de forma aditiva e assimétrica. Refere intensidade moderada, de caráter
surdo associado calor e edema das mesmas. Refere duração contínua inclusive à
noite ao repouso e rigidez matinal de 30 minutos. Apresentava alívio parcial
com uso de ibuprofeno e dipirona. Nega nódulos reumatoides, convulsões,
psicose, fotossensibilidade, alterações cutâneas, história de infecções,
disfagia, alterações oculares e intestinais.
HMP: Nega operações e internamentos anteriores. Paciente nega HAS,
DM, neoplasia, hepatites, alergia medicamentosa. Em uso de prednisona 40 mg/dia
e furosemida 40mg/dia há 10 dias.
HMF: Mãe, avó e tios maternos tem diagnóstico de artrite reumatoide
(acompanhados em outro serviço). Pai com HAS. Nega história de câncer na
família.
CHV: Tabagista desde os 19 anos, 5 maços/ano.Consumo de álcool
social 3 latas de cerveja quando há festa. Nega uso de drogas.
RS: sp.
Exame Físico:
Geral: BEG, LOTE, hipocorada ++/4+, anasarca +++/4+, anictérica,
acianótica, afebril, eupneica, peso = 80,7kg; altura = 1,58m; FC = 68bpm; PA =
120x70mmHg; T: 36,5; FR: 30 rpm.
C/P: Ausência de linfonodomegalia e jugulares ingurgitadas.
CPP: MV+ bilateral, sem ruídos adventícios.
ACV: BRNF em 2T sem sopros.
Abdômen: globoso, distendido, com RHA+, som maciço a percussão, hepatimetria
dificultada pela ascite e espaço de Traube livre. Ausência de visceromegalia,
descompressão rápida e giordano negativos. Presença de macicez móvel e
Piparote.
Vascular periférico: sem sinais de TVP, edema simétrico de MMII
++++/4+.
Exames
Complementares:
Laboratoriais:
Uréia: 236 (VR: 40)
Creatinina: 3,7 (VR: 0,6-1)
Sódio: 128 (135-145)
Potássio: 6,5 (3,5-5,0)
Cálcio: 4,5 (8,3-10,6)
Fósforo: 5,1 (2,5-4,5)
Magnésio: 2,45 (1,3-2,7)
Hb/Ht: 8,5/25,2% (12-16,5/35-47%)
Leucócitos: 9210 (4000-11000)
Neutrófilos: 7200 (1800-8000)
Linfócitos: 1100 (1500-5000)
Plaquetas: 340000 (120000-400000)
LDH: 436 (100-190)
INR: 1,19
Reticulócitos: 0,41% (0,8-4,1%)
Albumina/glob: 2,0/3,7 (VR:
3,7-5,3/2,2-4,0)
pH/bicarbonato: 7,32/15,3
(7,35-7,45/21-28)
Colesterol total: 297 (<200)
LDL: 180
TG: 174
TGO/TGP: normais
C3: 85 (VR: 88 a 201 mg/dL)
C4: 13 (VR: 16 a 47 mg/dL)
CH100: 245U (VR: 170 a 330 U/mL)
FAN: 1/320
FR: reagente
Anti-DNA: Negativo
Crioglobulinas: Negativo
Urina tipo 1:
- ph 5,0 (5-5)
- densidade: 1015 (1012-1022)
- proteínas: > 1g/L
- leucócitos/campo: 15 (<5)
- hemáceas/campo: > 100
(<3-5)
- proteinúria de 24h: 3g volume
total de 200 mL
Anti-HIV: não reagente
Hepatite B: Não reagente
Anti-HCV: Reagente
Exames de Imagem:
Ecocardiograma transtorácico:
Aumento moderado de AE. Demais câmaras de tamanho normal. Desempenho sistólico
biventricular preservado. Pericárdio sem derrame. Ausência de trombos
cavitários ou vegetações endocárdicas. Valvas cardíacas com morfologia e
dinâmicas normais.
USG Rins e Vias Urinárias: Rins
tópicos, com dimensões normais e contornos regulares. Parênquima de espessura
normal e ecogenicidade preservada, com boa diferenciação corticomedular.
Quais as principais hipóteses diagnósticas?
Qual o próximo passo para selar
o diagnóstico?
Referência Bibliográfica:
Lo, S.C, Coelho, J.P.R, Cardoso,
E.S. Caso Clínico 102: Paciente com poliartrite inflamatória, FAN positivo,
evolui com insuficiência renal de instalação recente e oligo-anúrica. Disponível
em: http://www.sbn.org.br/index.php?casoClinico&tipo=1&caso=24.
Acesso em: 27 de abril 2013.
José Vitor Martins Lago
Resposta ao Caso
Clínico IV:
Trata-se de paciente do sexo
feminino, de 38 anos, com hx familiar de artrite reumatóide e história clínica de LES > 4 CRITÉRIOS (poliartrite, FAN positivo, hematúria e
proteinúria na urina e linfopenia discreta), com uso prévio de AINH, evoluindo
com insuficiência renal aguda com quadro
de síndrome predominantemente nefrótica (edema generalizado, ausência de proteinúria > 3,5g/dia, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia) e menos acentuada nefrítica (hematúria, edema, proteinúria subnefrótica <3,5g/dia, oligúria e ausência de hipertensão arterial). Não se caracterizou nenhum evento
infeccioso ou hemodinâmico.
Nos exames laboratoriais colhidos
durante a evolução da paciente, observou-se sorologia positiva para hepatite C
e FR positivo, além de anemia (provavelmente de doença crônica, com provas de
hemólise negativas), hipoalbuminemia, hipercolesterolemia e proteinúria não
nefrótica (3g/dia), porém em fase de oligoanúria (débito urinário de 200ml na época) e
complemento no limite inferior da normalidade. Apresentou anti-DNA negativo
apesar da suspeita de LES com atividade renal. Estava normotensa na entrada.
Hipóteses diagnósticas:
1- Nefropatia lúpica classe IV com crescentes:
O quadro clínico da glomerulonefrite proliferativa difusa se caracteriza
por consumo de complemento e anti-DNA
positivo, além de hipertensão,
sedimento urinário ativo e redução da filtração glomerular. Trata-se de
lesão de pior prognostico com
necessidade de imunossupressão. O caso acima não se encaixa perfeitamente
no quadro, pois não apresentava complemento muito consumido, anti DNA estava
negativo e a paciente se mostrou normotensa.
2- Nefropatia lúpica classe V:
O quadro clínico da glomerulonefrite membranosa se caracteriza
por síndrome nefrótica. Entretanto, na biópsia, cerca de 40% terão proteinúria
subnefrótica e 20% terão proteinúria < 1g/24h. A atividade sorológica é
menos intensa, e o quadro renal é mais brando que na classe IV. Os pacientes
com nefropatia lúpica classe V têm maior predisposição para eventos
trombóticos (albumina diminuída leva à diminuição do transporte de antitrombina III), incluindo trombose de veia renal e embolia pulmonar.
3- Nefrite intersticial aguda:
A causa etiológica principal de
NIA são drogas, em especial AINH e
antibióticos. No caso acima, a paciente fez uso de AINH previamente ao quadro
que a levou a procurar este serviço médico. Não foi a principal hipótese diagnóstica,
pois paciente não apresentou sintomas clássicos da doença após a exposição à
droga, que são: febre, rash
maculo-papular e eosinofilia. Normalmente não se configura hipertensão nem edema. Já as características renais da
NIA são: perda da função renal súbita, associado à proteinúria <1g/24h, e
sedimento urinário alterado (hematúria e piúria). Aproximadamente um terço dos
pacientes com NIA necessitarão de diálise. A eficácia da corticoterapia ainda é
controversa.
4- Glomerulonefrite por Crioglobulinas
Apesar da paciente apresentar
quadro sugestivo de LES com acometimento renal, não é possível afastar GNMP ou mesangial por
crioglobulinemia por hepatite C. A
crioglobulinemia é classificada em tipo I a III. A tipo I é monoclonal e está relacionada a mieloma múltiplo e outras doenças linfoproliferativas. A tipo II e
III, por outro lado, são policlonais. A tipo II, a qual se encaixaria melhor
nesta paciente, está relacionado ao
vírus da hepatite C e apresenta FR positivo. Já a tipo III também apresenta
associação com o vírus da hepatite C, porém também pode estar associado a LES e
artrite reumatoide, doença hepática crônica, infecções parasitárias e
bacterianas, além de doenças linfoproliferativas. Há consumo de complemento, principalmente de C4.
5- Necrose tubular aguda:
A IRA na síndrome nefrótica pode ser causada pela proteinúria maciça
e consequentemente queda importante da albumina sérica, levando a uma queda do
volume circulatório efetivo e consequente colapso circulatório e IRA pré-renal. Outro mecanismo de IRA
ocorre quando temos proteinúria importante; há produção de cilindros na luz do
néfron distal, levando a oclusão da mesma, ou compressão extra-tubular por edema
intersticial, levando a aumento da pressão intratubular proximal, e consequente
queda da filtração glomerular. Demais mecanismos de injúria renal aguda
(necrose tubular aguda): sepse, uso de contraste iodado, drogas nefrotóxicas
(antibióticos) e AINH. Neste caso, a insuficiência renal aguda pode ter sido
precipitada pela síndrome nefrótica causada por nefropatia lúpica
(podocitopatia? Classe V?).
6- Podocitopatia Lúpica
Usualmente a Síndrome Nefrótica do LES é associada com depósitos imunes em paredes de capilares
glomerulares, frequentemente acompanhada de proliferação endocapilar ou
necrose. Porém, muitos casos de
síndrome nefrótica em pacientes lúpicas
têm sido descritos (2/130) na ausência desses achados. Na biópsia
encontra-se apenas fusão podocitária
(lesão mínima) ou glomeruloesclerose segmentar e focal. A lesão mínima
caracteriza-se proteinúria maciça. Caracteristicamente, é de “alta
seletividade”, e o paciente pede predominantemente proteína de baixo peso
molecular, no caso albumina. O colesterol total, o LDH e o TG estão elevados.
Hiponatremia é, em geral, falsa, decorrente de hiperlipidemia. O VHS está
aumentado. Responde bem a terapia com corticoide.
Diagnóstico Final:
Lesão Histológica mínima (podocitopatia do LES)
Necrose Tubular moderada
14/04/13
Curiosidade:
Síndrome de Reiter e
Granulomatose de Wegener
Na Medicina, há um grande número de atribuições a nomes de doenças a médicos que as descobriram, os epônimos.
Hans Reiter |
No caso de Reiter, é
descrita uma patologia que se inicia 2-4 semanas após uma infecção intestinal
ou uma exposição sexual que tem como tríade clássica: uretrite, conjuntivite ou
uveíte anterior e artrite.
Reiter era um médico
alemão que descreveu este conjunto de sintomas em um hospital militar em 1916.
Esta nomina começou a ser utilizada no começo da década de 1940 pela literatura
inglesa. Naquela altura, Reiter já havia tornado-se um adepto de Hitler.
Recentemente, detalhes da carreira de Hans Conrad Reiter deixaram bem claro que
ele esteve intensamente envolvido nas atrocidades nazistas, em uma dimensão bem
maior do que se imaginava.
Outro caso interessante é
o de vasculite de médios e pequenos vasos com
acometimento do trato
respiratório superior (seios da face) e inferior (pulmões) e dos rins,
identificada como sendo um tipo específico de inflamação conhecida como
Granulomatose de Wegener. A identificação desta enfermidade foi feita, em 1937,
por um patologista de Berlim, Friedrich Wegener.
Após o término da 2ª
Guerra, Wegener foi preso pelos aliados, pois havia suspeitas de sua participação
e colaboração na medicina nazista. Mas, foi logo libertado, pois os aliados não
encontram provas evidentes de sua participação em práticas médicas criminosas.
Friedrich Wegener |
O patologista subiu
rapidamente na hierarquia nazista, chegando a uma patente militar relativamente
alta. Após a Alemanha ter invadido a Polônia, em 1939, ele foi promovido à
patologista do exército, baseado em Lodz, nesse país, passando boa parte da
guerra em um consultório a três quarteirões do gueto judaico nessa cidade
polonesa, onde os nazistas trancafiaram mais de 250.000 judeus.
Então, alguns sugerem que Síndrome de
Reiter passe a ser denominada como Artrite
Reativa e a Granulomatose de Wegener seja chamada de Vasculite
Granulomatosa associada ao ANCA (teste laboratorial de natureza diagnóstica).
Referências Bibliográficas:
SCHEINBERG, M.A. Medicina: Passado nazista altera
nome de uma doença. Morasha, n.75, 2012. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=939&p=1
Caso Clínico III:
Anamnese:
Anamnese:
Identificação: TFE, 56 anos, feminino, caucasiana, natural e residente de Curitiba-PR, aposentada, ex-doméstica.
Queixa Principal: “Dor nas
juntas”.
HMA: Paciente iniciou
artralgia generalizada há 1 ano. Refere que o padrão de acometimento é em todo
o corpo, sem localização específica e sem poupar coluna e IFD. Relata que é uma
dor de média intensidade, de caráter surdo e sem irradiação. Afirma que é de
duração contínua com dor noturna e com rigidez matinal de 45 minutos
aproximadamente. Afirma certa melhora com a movimentação. Como sintomas
associados há mialgia, fadiga. Nega úlceras orais, fotossensibilidade,
alterações intestinais e oculares, xerostomia, urina espumosa, sangramentos,
contudo refere exame de sangue há 1 mês com trombocitopenia.
HMP: Na infância refere 3
episódios de convulsões não tratadas com medicamentos sem recorrência
posteriormente. Relata que há 10 anos ficou internada por derrame pleural, sem
saber a causa. Nega outras doenças como HAS, DM e operações. Em uso de
meloxicam 15mg, prescrito pelo médico do posto. Afirma que tem 3 filhos, sem
história de aborto.
HMF: Nega história
reumática na família. Pai morreu aos 58 anos de IAM e mãe aos 66 de CA de mama.
CHV: Nega tabagismo e
etilismo.
Exame Físico:
Geral: Paciente em BEG,
LOTE, anictérica, hidratada, normocorada. PA: 120-80mmHg; pulso: 80bpm;
temperatura: 36,5°C e FR: 18 rpm.
Pele: sp
C/P: Ausência de rash
malar e linfonodomegalia.
CPP: MV + bilateralmente,
sem ruídos adventícios.
ACV: BCRNFSS
Abdômen: Globoso, flácido
com RHA normais. Som timpânico a percussão, hepatimetria de 8 cm em linha HCD,
espaço de Traube livre. Palpação indolor e sem massas.
Vascular periférico:
Ausência de edema.
Músculo esquelético:
Ausência de deformidades. Dor a palpação do joelho esquerdo e tornozelo direito
com presença de sinais flogísticos em ambos. Sinais de Phalen, Tinnel, Lasègue,
Spurling negativos. Ausência de cisto de Baker. Teste de Shober: 10/15.
Exames Complementares:
Hemograma: Hb: 13,6 g/dL
(12-15,5)
Hematócrito 40,8 (35-45)
Leucócitos: 7.200/mm³
(4000-11000)
Plaquetas: 90.000 mil/mm³
VHS - 103mm (valor de
referência: 0 a 20mm)
PCR – 5,2 mg/L (valor de
referência: até 5mg/L)
Creatinina: 0,9 mg/Dl
TGO e TGP: normais
Qual provável diagnóstico?
Há possibilidade de fechar
diagnóstico sem outros exames?
Resposta
ao Caso Clínico III:
O provável diagnóstico é
Lupus Eritematoso Sistêmico. Doença de etiologia desconhecida, na qual células
e tecidos são danificados por auto-anticorpos patogênicos e complexos
antígeno-anticorpos. Embora ambos os sexos possam ser acometidos, é
predominante em mulheres (9:1) em idade reprodutiva.
Para diagnóstico de LES,
utiliza-se alguns critérios (4 ou mais)
do Colégio Americano de Reumatologia 1982:
1- Rash Malar: Eritema fixo plano ou elevado sobre as regiões malares
e dorso do nariz, tendendo a economizar
dobras nasolabiais.
2- Rash Discoide: Placas eritematosas com escamação
aderente,comprometimento dos pelos e cicatrização com atrofia.
3- Fotossensibilidade: Rash cutânea que aparece após exposição à luz
solar. Contado pelo paciente ou observado pelo médico.
4- Úlceras orais: Ulceração de nasofaringe ou boca vista por médico.
5- Artrite: Não erosiva comprometendo duas ou mais
articulações periféricas.
6- Serosite: PLEURITE- hx bem típica ou atrito pleural escutado pelo médico ou
evidências de derrame pleural; PERICARDITE- documentada pelo ECG,
atrito ou evidência de coleção líquida.
7- Desordem renal: PROTEINÚRIA persistente na urina maior
do que 500mg por dia ou +++ em exame comum; CILINDROS CELULARES- hemáceas granulosas, tubulares ou mistas.
8- Desordem neurológica: CONVULSÕES – na ausência de outras
causas; PSICOSE – na ausência de
outras causas
9- Desordens
hematológicas: ANEMIA HEMOLÍTICA-
com reticulocitose, LEUCOPENIA-
menos de 4000 leucócitos/mm3 em 2 ou mais ocasiões, LINFOPENIA- menos de 1500 linfócitos/mm3 em 2 ou mais ocasiões, TROMBOCITOPENIA- menos de 100.000
plaquetas/mm3 na ausência de outra causa.
10- Desordens
imunológicas: Anti-DNA positivo ou anti-Sm positivo ou PRESENÇA DE ANTICORPOS ANTIFOSFOLIPÍDEOS
(anticorpos anticardiolipina, lúpus anticoagulante) ou falso teste positivo para lues (VDRL) por mais de 6 meses com
FTA-ABS normal.
11- FAN positivo: Na ausência de uso das drogas que podem induzir
lúpus.
No caso anterior, a
paciente apresentava:
1-Artrite
em duas articulações com sinais flogísticos
2-
Trombocitopenia < 100.000
3-
Hx de convulsão na infância sem causa.
4-
Derrame pleural há 10 anos.
Logo,
há como fechar o diagnóstico, haja vista que há 4 critérios presentes.
É importante ressaltar a idade da paciente que apesar de ser da meia idade,
provavelmente o LES já vinha desenvolvendo desde cedo pela história de
convulsões. Além disso, trabalhar bem os critérios na HMA e HMP. Por exemplo,
na HMA: urina espumosa, sangramentos, infecções e a tríade da anemia hemolítica
(icterícia, esplenomegalia e anemia). Na HMP sempre se atentar também a
possíveis internamentos anteriores e causas, como no caso, de derrame pleural e
convulsões. Na história obstétrica, sempre perguntar sobre filhos e se houve
abortos, pensando em síndrome do anticorpo antifosfolipideos (trombose nos
vasos da placenta).
José Vitor Martins Lago
Curiosidade:
“Pequeno
Baco Doente” é um auto-retrato de Michelangelo Merisi Caravaggio, realizado em
1594, após adoecer em Roma dois anos antes.
O que percebe-se no quadro de Baco (isto é, Caravaggio) é a icterícia, como pode ser visto a partir dos tons de pele, que correspondem aos dos pêssegos na mesa a sua frente.
Em
1956, totalmente curado, o artista retratou-se em "Jovem Baco". Percebe-se, nesse
quadro, a coloração normal da pele e até mesmo da esclera, primeiro local
acometido pela icterícia, branca.
Jovem Baco (1596) |
Baco,
Deus Romano, corresponde a Dionísio na Mitologia Grega. Conhecido como Deus do vinho, da ebridade e dos excessos,
especialmente sexuais.
Então,
por que Caravaggio, durante a síndrome ictérica, teria escolhido Baco como
auto-retrato?
Não
se sabe ao certo o que ele queria expressar com a obra, contudo há duas
possíveis vertentes.
Caravaggio
era considerado um “farrista” inconsequente e um grande apreciador de bebidas
alcoólicas. Sempre estava envolvido em brigas, as quais procurava nos
“pulgueiros” da cidade.
Além
disso, o pintor inspirava-se em pessoas excluídas da sociedade como moradores
de rua, prostitutas e alcoólatras crônicos. Portanto, o italiano já teria
presenciado várias mortes de pessoas ictéricas com doenças hepáticas.
Contudo,
segundo uma publicação na revista Clinical
Infectious Diseases, a icterícia teria sido causada pela malária, umas das
diversas causas de anemia hemolítica.
Em
outra publicação, Aronson e Ramachandran atribuem a provável causa da icterícia
à hepatite infecciosa, consequente a uma zoonose, como brucelose ou febre Q (Coxiella burnetti).
Analisando
a característica do amarelo do quadro, parece mesmo uma icterícia pré-hepática, sugerindo malária.
Isso pelo amarelo-palha apresentado
e não um amarelo alaranjado sugestivo de uma causa hepática.
Referências
Bibliográficas:
ARONSON,
J. K.; RAMACHANDRAN, M. The diagnosis of art: Caravaggio’s jaundiced Bacchus. Journal
of the Royal Society of Medicine, v. 100, n. 9, p. 429-430, 2007.
Disponível em: <http://www.jrsm.org/cgi/doi/10.1258/jrsm.100.9.429>. .
BOUCHER, H. W.; TALBOT, G. H.; BRADLEY, J. S. et al. Clinical
Infectious Diseases. Clinical Infectious Diseases, v. 48, n. 1, p. 56,
2009.
VIANA,
R.C. Arte Médica: Icterícia em Obra de Caravaggio. Disponível em: http://medicineisart.blogspot.com.br/.
Acesso em: 06 de abril 2013.
Anamnese:
Identificação: FG, 21 anos, masculino, estudante.
QP: “Diarréia há bastante tempo”
HMA: Paciente
refere diarreia crônica há 6 anos. Refere que há dois meses, houve
intensificação dos sintomas com aparecimento de diarreia-sanguinolenta, 8 vezes
ao dia em pouca quantidade, de característica pastosa/líquida e com odor pútrido.
Afirma que é constante durante todo o dia e nega alívio ou piora. Como sintomas
associados refere dor abdominal em epigástrio e flanco esquerdo, ambas em
cólica, a primeira com piora após a alimentação. Além disso: emagrecimento sem
anorexia (10kg/2meses), febre sem calafrios, icterícia, colúria, prurido e
hipocolia. Nega artralgia, palpitações, agitação, poliúria, polidipsia e
alterações de pele.
HMP: Nega
operações e internamentos anteriores. Nega DM, HAS e hipertireoidismo e uso de
medicamentos.
HMF: Pai,
mãe e irmãos vivos, sem quadro semelhante ou outras doenças.
CHV: Mora
em casa de alvenaria com saneamento básico. Alimentação saudável, com higiene
adequada. Nega tabagismo e etilismo, mesmo aos finais de semana. Ausência de
viagens pregressas ou prevalência de diarreia na região onde mora.
RS: sp.
Exame Físico:
Geral: Paciente
emagrecido, REG, LOTE, acianótico, ictérico (++/4+), desidratado (++/4+),
hipocorado (+++/4+). PA : 110-80 mmHg; pulso: 116 bpm; T: 37,8°C; FR: 20 rpm.
C/P: Ausência
de linfonodomegalia.
Pele: sp
CPP: MV
+ bilateralmente com estertores crepitantes em bases.
ACV: BCRNFSS
Abdômen: Globoso,
distentido, RHA aumentados, timpanismo a percussão de abdômen, hepatimetria de 11
cm em LHD, espaço de Traube livre, com dor a palpação em QSD e FE sem massas
palpáveis. Sinal de Murphy negativo, sem sinais de irritação peritoneal.
Presença de macicez móvel e em flancos.
Vascular Periférico: edema
pré-tibial, maleolar bilateral e sacral.
Exames
Complementares:
Colonoscopia:
evidenciando processo inflamatório grave contínuo com úlceras superficiais,
áreas recobertas por muco e pus, presença de edema, friabilidade e sangramento.
Exame
de Urina: presença de bilirrubina, sangue e Hb (3+), e piócitos 10 por campo
(normal 5 por campo)
Raio-x
de abdômen: distensão e edema de alças intestinais, principalmente em cólon
transverso.
US
abdominal total: lesão expansiva heterogênea em lobo hepático esquerdo
(segmentos I,II,III), ascite volumosa e espessamento da parede da vesícula
biliar
TC
de abdômen: massa expansiva
hepática e cólon bastante distendido.
Qual provável diagnóstico?
O que levou a formação dessa massa
hepática?
Resposta
ao Caso Clínico II:
O
provável diagnóstico é colangite
esclerosante primária com colangiocarcinom associado à retocolite ulcerativa.
A RCU uma doença inflamatória intestinal
de causa é desconhecida, mas acredita-se que fatores genéticos, auto-imunes e
ambientais sejam determinantes para seu aparecimento.
Manifestações
extra-intestinais aparecem em mais da metade de pacientes com RCU. Dentre elas,
as mais frequentes são as articulares, dermatológicas, hepato-biliares e as do
trato urinário.
A colangite esclerosante primária (CEP) é
uma doença colestática crônica e progressiva do fígado, caracterizada por
inflamação, obliteração e fibrose da árvore biliar intra e extra-hepática. É
rara na população em geral, mas é muito comumente associada à RCU, acometendo
mais de 5% desses pacientes, de modo que a grande maioria dos pacientes com
colangite esclerosante (mais de 90%), também apresenta DII, sendo mais comum na
RCU que na doença de Crohn.
Os
sintomas da doença variam desde sintomas inespecíficos de fadiga, astenia e
perda de peso até quadro mais característico de colestase com icterícia,
colúria, acolia fecal e/ou prurido. Um terço dos pacientes pode apresentar,
inicialmente, episódios recorrentes de colangite aguda.
O colangiocarcinoma é também uma grave
complicação da CE, com um risco de 10 a 15% para esses pacientes. Sua
instalação inviabiliza o transplante hepático e piora bastante o prognóstico
dos pacientes. A incidência de colangiocarcinoma na CE é muito alta, variando
de 14-28% nas séries mais recentes.
Evolução:
O
paciente apresentou um quadro de abdômen agudo, sendo realizada laparotomia
exploradora de urgência (Figura 3), que evidenciou volumosa tumoração hepática,
a qual foi biopsiada e enviada ao exame anatomopatológico, com confirmação de
neoplasia maligna pouco diferenciada em fígado (Figura 4). Foi solicitado,
ainda, estudo iminohistoquímico – imunocitoquímico com conclusão de colangiocarcinoma.
Em função da gravidade o paciente foi a óbito no 170 DPO.
José Vitor Martins Lago
31/03/13
Curiosidade:
Você
sabe qual a origem da palavra “Diabetes”?
Denominada por Arateus da
Capadócia no século II d.C., diabetes origina-se do grego e significa sifão, visto que, segundo algumas
observações, o líquido não permanecia no corpo. Outra possível interpretação
etimológica para a palavra, derivada do verbo diabano, que significa, “dia” (através) e “bano” (passar, caminhar).
Sifão |
Logo, chega-se a conclusão
que os dois significados etimológicos confluem para os sintomas apresentados
nas doenças denominadas diabetes como a
polidipsia e a, principalmente, a poliúria.
Em 1670, Willis
redescobriu o sabor adocicado da urina, antes percebido pelos hindus, o que
permitiu distinguir, posteriormente, dois tipos de diabetes: mellitus
(sabor de mel) e insipidus (sem gosto).
Referência
Bibliográfica:
REZENDE, J. M. Linguagem Médica: Diabetes. Disponível
em: http://usuarios.cultura.com.br/jmrezende/diabetes.htm.
Acesso em: 30 de março 2013.
Caso
Clínico I:
Identificação:
JMS,
76 anos, branco.
Queixa
Principal: “Dor no abdômen e fezes escurecidas”
HMA:
Paciente apresenta há 5 dias dor insidiosa em região de hipocôndrio direito, de
moderada intensidade, em torção, sem irradiação, de duração constante com piora
depois da alimentação. Relata também icterícia fugaz, anorexia e emagrecimento
de 4 kg em um ano.
Refere também melena há 5
dias com 3-5 episódios ao dia, em pequena quantidade e de odor fétido, sem
relação com a alimentação e sem fator de melhora. Nega hematêmese,
hematoquezia, vômitos, dispepsia e edema.
HMP:
Refere
nefrectomia direita, devido a câncer renal, colectomia com anastomose íleo-anal
por retocolite ulcerativa e câncer de próstata tratado com radioterapia. Há dois
meses, apresentou icterícia obstrutiva indolor. Ao exame de imagem, demonstrou
obstrução na confluência dos ductos hepáticos, uma pedra na vesícula biliar e
um tecido mole de baixa densidade de 3,5 cm adjacente ao processo uncionado do
pâncreas. Então, foi submetido à colocação de stents metálicos transhepáticos
em ambos os ductos hepáticos com melhora da icterícia posteriormente a
cirurgia. Nega uso de AINES.
HMF:
Nega
histórico de doenças hepáticas.
CHV:
Nega
tabagismo e etilismo.
RS:
sp.
Exame
Físico:
Geral: Paciente REG, emagrecido,
LOTE, com mucosas hipocaradas (+++/4+), ictérico (++/4+), desidratação
moderada, PA sentado: 120/80 PA em pé: 100-70, T: 36,4°C, FR: 20 rpm e pulso de
108 bpm (taquicardia postural).
Cabeça
e Pescoço: Ausência de linfonodomegalia, vasos
sublinguais secos.
CPP:
MV
+ bilateralmente, sem ruídos adventícios.
ACV:
BCRNFSS
Abdômen:
Globoso,
flácido, RHA aumentados, timpanismo a percussão de abdômen, hepatimetria de 8
cm em LHD, espaço de Traube livre, com dor a palpação de QSD sem massas
palpáveis. Sinal de Murphy negativo, sem sinais de irritação peritoneal.
Exames
Complementares:
Hemoglobina de 5.3 g/dL
(VCM, HCM e CHCM diminuídos).
Bilirrubinas totais 2,1
mg/dL (0,2-1,2) com predomínio de BD, fosfatase alcalina 714 μ/L (65-300), ALT
112 μ/L (até 41), AST 86 μ/L (até 38),
Albumina 2.3 g/dL
(3,5-4,8)
Provas de coagulação
normais
EDA: volumoso sangramento
proveniente da 2ª porção duodenal, mais especificamente da papila de Vater.
Qual o provável diagnóstico sindrômico específico da HDA?
Qual seria o próximo exame a ser realizado para saber o diagnóstico etiológico e possível tratamento?
Resposta ao Caso Clínico I:
Evolução Clínica:
O provável diagnóstico
sindrômico específico é hemobilia, uma causa incomum de hemorragia digestiva
alta.
O
paciente apresenta a tríade
clássica de hemobilia ou de Sandblom ou Quinke: hematêmese (60%) e/ou
melena (90%), cólica biliar (70%) e icterícia obstrutiva (60%). Somente 22% dos
pacientes apresentam todos esses sintomas. A hemobilia pode ser indolor e deve
ser considerada em pacientes com sangramento do TGI e com icterícia. Esta pode
ser causada por lesão obstrutiva biliar ou por um coágulo de sangue. O coágulo
é formado, porque a bile e o sangue não se misturam. Posteriormente pode passar
com a bile (icterícia fugaz) ou causar icterícia obstrutiva.
Depois
de realizado a EDA e observado o sangramento pela âmpola de Vater, o exame
padrão ouro para o diagnóstico etiológico é angiografia
abdominal com 90% de chance
de localizar o sítio de sangramento e o tratamento com embolização.
Evolução Clínica:
Paciente
evoluiu para hematoquezia franca e foi submetido à uma angiografia abdominal de
emergência, onde foi encontrado um pseudoaneurisma na artéria hepática direita,
adjacente ao stent metálico previamente colocado. A hemostasia foi alcançada
com a embolização da erosão arterial. O paciente evoluiu com colangite tratada
com antibiótiocos. A icterícia obstrutiva foi gradualmente melhorando e o
paciente recebeu alta. Algumas semanas depois foi readmitido com recorrência da
hemobilia e recusou-se a angiografia e evoluiu à óbito pela intratável
hemorragia.
Referência
Bibliográfica:
KHAN,
R. ET AL. Bleeding Bile ( Hemobilia ): An Obscure Cause of Upper
Gastrointestinal Bleeding : Case Report and Review. Practical
Gastroenterology, n. January 2010, p. 36-42, 2010.
José Vitor Martins Lago
um sangramento digestivo alto, provavelmente em decorrência de algum proplema pancreático ou do própro ducto de wirsung. talvez "hemosuccus pancreaticus" ?
ResponderExcluirpediria uma ultrassonografia ou TAC e um estudo angiográfico (no caso de hemosuccus pancreaticus)
Ótima suspeita diagnóstica, contudo talvez o sangramento não seja proveniente propriamente do ducto pancreático, a resposta talvez esteja na característica da dor que o paciente apresenta e o histórico do paciente.
ResponderExcluirContudo, o estudo angiográfico mataria a resposta.
eu pensei num tumor de pancreas. uma hipertensão no ductos causaria dor na vesícula quando ela tentasse contrair, o que ocorre na alimentação.
ResponderExcluirele relata historia de cancer renal, podendo ai ser uma metastase (até em figado, que é comum) ou uma lesão hepatica pela retocolite ulcerativa. talvez tambem uma hepatite. (apesar de ser BD aumentada)
apresenta uma anemia provavelmente ferropriva, com um HB miserável.
eu pediria uma angiotomografia contrastada de abdome acreditando que serviria para observar tanto um tumor pancreatico como lesões hepaticas.
o ultrassom a priori poderia nao observar o retroperitonio, a angiografia da região veria um tumor e embolizaria o vaso, mas nao estadiaria a doença, entao precisariamos dos 2.
muito legal o caso!
Boas hipóteses diagnósticas, contudo ainda não chegamos a resposta. Icterícia fugaz? Hx cirúrgica?
ResponderExcluirSíndrome de Zollinger Ellison - Gastrinoma, geralmente localizado próximo ao pâncreas, que além de poder obstruir os ductos biliares explicando a icterícia, aumenta a acidez gástrica, propiciando a formação de úlceras gástricas (não dói - come - dói) e consequentemente o sangramento alto que explicaria a melena. O exame mais adequado para o diagnóstico é a tomografia.
ResponderExcluirHepatocarcinoma com obstrução das vias biliares. Ou outro tipo histológico de tumor fazendo o mesmo, a confirmação do tipo de tumor seria somente após exame AP de peça de biópsia ou punção. Uma ressonância mostrando se há aumento da vascularização do tecido anormal seria meu exame de escolha. Uma tomo contrastada, com o mesmo objetivo. Além dos laboratoriais que mostram lesão celular (transaminases) + das vias biliares (FA + GGT).
ResponderExcluirNo aguardo.
Tks!
Hipóteses Caso II
ResponderExcluirBoa hipótese, mas e o sangramento digestivo baixo? Transaminases aumentadas 3x, gama-GT e FA bem aumentadas também. Aguardando o resultado da Bx hepática.
ResponderExcluirCaso Clínico III:
ResponderExcluirVIII- maior reabsorção óssea pela diminuição de Ca sérico. anemia de doença cronica por IRC (diminuição de EPO).
ResponderExcluirO raciocínio está basicamente certo, mas a diminuição do Ca sérico decorre da IRC que leva a um declínio de Vitamina D ativada e, consequentemente, um hiperparatireoidismo secundário. Confira a resposta! Obrigado pela participação.
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