CASO CLÍNICO XI:
A
paciente do caso X, da semana passada, retornou ao serviço com um novo quadro
clínico:
Anamnese:
Identificação: Nome: JLP;
Idade: 30 anos; Sexo: feminino; Etnia: Caucasiana; Religião: Evangélica;
Profissão: Garçonete; Estado civil: Solteira; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente
Queixa Principal: “Fraqueza
em braço esquerdo”.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância, comorbidades atuais, cirurgias e internamentos anteriores
e alergias.
História Mórbida Familiar: Refere que
a mãe possui hipertireoidismo e a irmã Lúpus eritematoso sistêmico. Pai tem
hipertensão arterial sistêmica. Avô falecido aos 70 anos por IAM.
Exame físico
Geral: paciente em
regular estado geral, corada, hidratada, LOTE.
PA: 110X75 (sem alteração ao ficar em pé),
Pulso: 150 (arrítmico), FR: 20, T: 36,2C.
Cabeça e pescoço: mucosas
úmidas e coradas, sem linfonodomegalias. Jugulares não ingurgitadas. Discreto
aumento de volume da tireóide com bordos regulares, consistência fibroelástica
e ausência de nódulos a palpação. Apresenta sopro sistólico.
Aparelho respiratório: paciente eupnéica,
MV + bilateralmente, som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV
normais.
Aparelho cardiovascular: taquicárdica.
Bulhas cardíacas arrítmicas e normofonéticas sem sopros.
Abdome: plano,
ruídos hidroaéreos presentes, flácido, indolor a palpação, sem massas
palpáveis, som timpânico a percussão.
Membros: sem edema,
quentes e úmidos, pulso irregular (não acompanha a frequência cardíaca).
Neurológico: função
mental preservada. Alteração de II par craniano (hemianospia homônima esquerda)
e do VII par craniano (paralisia facial em região inferior esquerda). Apresenta
negligência esquerda-direita, hemiparesia esquerda (2+) com perda
hemissensorial também a esquerda. Reflexos tendinosos superficiais e profundos
sem alterações.
Hb: 12
Leucócitos:
8.500
Plaquetas:
240.000
Eletrólitos: continuam
normais
TSH: dentro do
valor de referência.
T4 livre: dentro do
valor de referência.
RX tórax: sem
alterações
ECG:
Pergunta:
Quais novos exames complementares também
poderiam contribuir com o diagnóstico deste novo quadro desta paciente?
Dâmia Kuster Kaminski Arida.
CURIOSIDADE:
ATESTADO
MÉDICO FALSO
Imagem: fiedra.com.br
Segundo Sania Cozer,
Delegada adjunta do Nucrisa, em entrevista dada a rádio CBN de Curitiba no dia 13/06/2013
, o número de reclamações por empresas de atestados médicos falsos trazidos por
funcionários aumentou em 100% no último
ano.
Esta prática pode resultar
da adulteração do documento pelos funcionários, mas em muitas vezes deve-se a
emissão falsa pelo próprio profissional médico.
Está
previsto no código de ética médica:
Artigo
80: Expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o
justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade.
Artigo
81: Atestar como forma de obter vantagens.
Artigo
82: Usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar fatos
verificados na clínica privada.
E
no código penal:
Artigo
302: dar o médico no exercício de sua profissão, atestado falso: Pena: detenção
de um mês a um ano.
Portanto,
valorize e cuide do seu carimbo!
Imagem:
novonegocio.com.br
Referências:
Rádio CBN de Curitiba – Disponível em: http://www.cbncuritiba.com.br/site/texto/noticia/Entrevista/11485
Código de Ética Médica - Res. (1931/2009) - Capítulo X -
Documentos médicos. Disponível em: http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20665:codigo-de-etica-medica-res-19312009-capitulo-x-documentos-medicos&catid=9:codigo-de-etica-medica-atual&Itemid=122
Art. 302 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40. Disponível
em:
CASO CLÍNICO X:
Anamnese:
Identificação: Nome: JLP;
Idade: 30 anos; Sexo: feminino; Etnia: Caucasiana; Religião: Evangélica;
Profissão: Garçonete; Estado civil: Solteira; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente
Queixa Principal: “Palpitação
e tontura”.
História da Moléstia Atual: paciente
refere início de palpitações há 2 horas associadas a desconforto precordial não
irradiado, tontura e náuseas. O quadro iniciou-se enquanto assistia o último
capítulo de sua novela favorita. Refere que há 2 meses vem apresentando
emagrecimento, ansiedade, insônia, sudorese
e episódios de diarréia (sem muco ou sangue). Nega febre e outros sintomas
associados.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância, comorbidades atuais, cirurgias e internamentos anteriores
e alergias.
História Mórbida Familiar: Refere que
a mãe possui hipertireoidismo e a irmã Lúpus eritematoso sistêmico. Pai tem
hipertensão arterial sistêmica. Avô falecido aos 70 anos por IAM.
Condições e Hábitos de Vida: fumou por
10 anos (5 cigarros/dia), mas parou há 5 anos. Nega etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com
os pais. Caminha 20 minutos para ir para o trabalho, mas nega outras atividades
físicas. Encontra-se preocupada que esteja tendo um infarto, pois refere que
seu avô faleceu por este problema.
Revisão de Sistemas: vem
apresentando irregularidades menstrual nos últimos meses.
Exame físico
Geral: paciente em
regular estado geral, ansiosa, corada, hidratada, sudoréica, pele pegajosa,
LOTE.
PA: 110X75 (sem alteração ao ficar em pé),
Pulso: 160 (arrítmico), FR: 20, T: 36,2C.
Cabeça e pescoço: mucosas
úmidas e coradas, sem linfonodomegalias. Jugulares não ingurgitadas. Discreto
aumento de volume da tireóide com bordos regulares, consistência fibroelástica
e ausência de nódulos a palpação. Apresenta sopro sistólico.
Aparelho respiratório: paciente eupnéica,
MV + bilateralmente, som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV
normais.
Aparelho cardiovascular: taquicárdica.
Bulhas cardíacas arrítmicas e normofonéticas sem sopros.
Abdome: plano, ruídos
hidroaéreos presentes, flácido, indolor a palpação, sem massas palpáveis, som
timpânico a percussão.
Membros: sem edema, quentes
e úmidos, pulso irregular (não acompanha a frequência cardíaca).
Resposta:
Exames
complementares
Hemograma:
Hb: 12
Leucócitos:
8.500
Plaquetas:
240.000
Eletrólitos: normais
TSH: abaixo do
valor de referência.
T4 livre: acima do
valor de referência.
RX tórax: sem
alterações
Ecocardiograma: sem
alterações
ECG:
Diagnóstico: FIBRILAÇÃO
ATRIAL POR HIPERTIREOIDISMO.
A fibrilação atrial (FA) é
uma arritmia cardíaca caracterizada por uma ativação atrial desorganizada,
acelerada e irregular. A atividade do nó sinusal é substituída por estímulos
nascidos na musculatura atrial com uma frequência de 400 a 600 por minuto. No
entanto, nem todos os estímulos passam para o ventrículo devido à presença de
uma barreira protetora na junção atrioventricular.
Nesta arritmia, há perda da
contratilidade atrial, resultando em um menor enchimento ventricular. Isto gera
uma resposta ventricular acelerada e, devido ao esvaziamento deficiente do
átrio, há maior risco de formação tromboembólica.
Pode ser causada por estenose
mitral, doença de chagas, cardiopatia isquêmica, hipertireoidismo agudo,
intoxicação alcoólica aguda, pós-cirurgia de grande porte, pericardite,
miocardite, medicamentos, entre outros.
No caso desta paciente, a
causa devido a um quadro de hipertireoidismo (até 15% dos pacientes com
hipertireoidismo podem ter esta arritmia).
A incidência de FA aumenta
com a idade: >5% dos adultos com mais de 70 anos apresentam esta arritmia.
Considerando que muitos dos pacientes são assintomáticos, esta incidência pode
ser ainda maior.
Como já foi dito, muitos
pacientes são assintomáticos. Outros se queixam de palpitações leves ou
irregularidades no pulso. No entanto, podem apresentar palpitações intensas,
hipotensão, congestão pulmonar e sintomas de angina. Intolerância aos
exercícios físicos e fadiga fácil também estão presentes. Tontura e síncope
grave também podem ocorrer.
O ritmo cardíaco é
irregular: há alterações na intensidade da 1ª bulha e no intervalo entre as
bulhas (delirium cordis). Há também
um “déficit de pulso”, em que o número de pulsações radiais é menor do que a
frequência cardíaca, pois não há tempo para o enchimento dos ventrículos quando
as contrações se sucedem rapidamente.
Nos eletrocardiograma (ECG),
não há onda P, estando substituída por ondulações irregulares, de pequena amplitude. Ritmo
cardíaco é irregularmente irregular e frequência variável. Intervalo PP
<200ms. Também é interessante fazer um ecocardiograma para investigação de
possíveis cardiopatias estruturais.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR,
John T. Casos clínicos em medicina interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
CURIOSIDADE:
LETRA DE MÉDICO
Imagem:
proibidoler.com
O que explica a
ilegibilidade da caligrafia dos médicos, tão frequente em discussões entre
pacientes e profissionais da saúde? Há quem diga que isto é consequência do
médico estar sempre com pressa, ter que escrever muita coisa em cada consulta e
estar sempre cansado devido à intensa jornada de trabalho. Outros dizem que a
caligrafia não resiste aos quase 10 anos de anotações de um grande volume de
coisas, e rapidamente, durante a formação médica. Levando em conta esta segunda
hipótese, será que com as novas tecnologias de anotações em aparelhos
eletrônicos a letra do médico tenderá a ser preservada? Ou, pelo contrário,
será ainda mais prejudicada pelo seu desuso?
Independentemente do motivo,
letra ilegível é uma questão séria. Há muitos casos de intoxicação por erro de
administração dos medicamentos pela falta de compreensão da caligrafia médica
pelo paciente e por venda errada de medicamentos devido à má interpretação
pelos farmacêuticos. Portanto, seja qual for o motivo, capriche na letra!
Atividades de caligrafia:
Referência:
CASO CLÍNICO IX:
Anamnese:
Identificação: Nome: MA;
Idade: 65 anos; Sexo: Feminino; Etnia: Caucasiano; Religião: Católico;
Profissão: dona de casa; Estado civil: Casada; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Desmaio”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter tido um episódio de síncope há 30 minutos enquanto assistia
televisão sentada no sofá. Refere que o quadro foi precedido por um súbito escurecimento
da visão e tontura. Após a síncope, teve um episódio convulsivo durante alguns
segundos. Seu acompanhante refere que a paciente permaneceu aproximadamente 2
minutos inconsciente. Nega dor pré-cordial, tensão emocional e outras situações
associadas.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância. Refere DM tipo 2 há 5 anos e HAS há 3 anos. Nega outras
ocmorbidades, internamentos/cirurgias anteriores e alergias. Faz uso regular
de: Enalapril 20mg e Cloridrato de Metformina 500mg.
História Mórbida Familiar: mãe
hipertensa e pai com problemas cardíacos (não sabe dizer qual foi o problema,
mas refere que passou por implantação de marcapasso aos 50 anos).
Condições e Hábitos de Vida: foi
tabagista por 10 anos (1 maço/dia). Parou há 5 anos. Nega etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com o
marido. Não pratica exercícios físicos regularmente.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas pertinentes.
Exame
físico:
Geral: paciente em
bom estado geral, corada, hidratada, LOTE.
PA: 120X75 (sem alteração ao ficar em pé),
Pulso: 35, FR: 20, T: 36,2C.
Cabeça e pescoço: mucosas
úmidas e coradas, sem linfonodomegalias. Jugulares não ingurgitadas.
Aparelho respiratório: paciente eupnéica,
com som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: bradicárdica.
Bulhas cardíacas rítmicas e normofonéticas sem sopros. Sem deslocamento de
ictus.
Abdome: plano,
ruidos hidroaéreos presentes, flácido, indolor a palpação, sem massas
palpáveis, som timpánico a percussão.
Membros: sem edema, leve
cianose nas extremidades, pulsos presentes com amplitude diminuida.
Exames
complementares:
Hemograma:
Hb: 13
Leucócitos:
9.000
Plaquetas:
250.000
Creatinina: 0,8 mg/dl.
Eletrólitos séricos: normais.
Glicemia aleatória: 100 mg/dl
Enzimas cardícas: normais.
ECG:
Ecocardiograma: sem
alterações.
Quais são os diagnósticos diferenciais diante
deste quadro clínico e exames complementares?
Diagnóstico: SÍNCOPE
POR BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR (2º GRAU MOBITZ TIPO II)
Pergunta:
Síncope é a perda súbita e
transitória da consciência e do tônus muscular postural. As causas de síncope
podem ser cardíacas (por diminuição de fluxo sanguíneo cerebral) ou
extracardíacas.
Neste caso, a paciente
apresentou uma síncope por causa cardíaca devido a uma bradiarritmia causada
por um bloqueio atrioventricular.
O bloqueio atrioventricular
é a dificuldade ou impossibilidade de condução do estímulo produzido no nó
sinusal de chegar nos ventrículos. Podem ser classificados em: 1º grau (os estímulos chegam no
ventrículo, mas com atraso na velocidade de condução. No eletrocardiograma
(ECG), apresenta um intervalo PR >20s); 2º
grau (nem todos os estímulos alcançam os ventrículos. Pode ser Mobitz tipo
I – onda “P” não é seguida por complexo QRS, Mobitz tipo II – para cada complexo
ventricular há duas ondas “P”: uma seguida de QRS e a outra não, ou Bloqueio
avançado – duas ou mais ondas “P” consecutivas são bloqueadas) ou 3º grau ou total (nenhum estímulo
ultrapassa o nó atriventricular. No ECG, as ondas “P” e complexos QRS não apresentam
relação entre si).
O bloqueio atriventricular
desta paciente foi de 2º grau (Mobitz tipo II).
O bloqueio atriventricular
pode ocorrer devido a causas autonômicas, metabólicas, farmacológicas,
infecciosas, infiltrativas, congênitas/hereditárias, inflamatórias, doença
arterial coronariana ou por causa degenerativa.
No caso desta paciente, o
bloqueio AV foi gerado por uma fibrose progressiva idiopática. O envelhecimento
pode gerar alterações degenerativas descritas como “esclerose da estrutura cardíaca
esquerda”. O processo começa em torno dos 40 anos, podendo ser acelerado por
DM, HAS e aterosclerose.
Como consequência da falha
do sistema de condução, ocorre uma bradiarritmia.
Na síndrome bradicárdica
clássica (Síndrome de Stokes-Adams) o indivíduo apresenta a perda de
consciência acompanhada por convulsões. Em geral, 2 a 5 segundos após a
arritmia, surge a tontura. Após 10 a 15 segundos, perda de consciência. Depois
de 20 a 40 segundos surgem as convulsões. Caso a parada cardíaca dure mais do
que 1 minuto, ocorre parada respiratória, levando a morte em 1 a 3 minutos.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR,
John T. Casos clínicos em medicina interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
ORIGEM
DA PALAVRA “DOUTOR”
Imagem:
patrulhafisiouepb.blogspot.com
A palavra doutor tem
origem na palavra docere do latim,
que significa “ensinar”. Os médicos, ao receber este título, devem compartilhar
seu conhecimento médico com colegas, estudantes, outros profissionais e com
seus pacientes.
Referência:
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
A paciente do caso VI
(confira mais abaixo) voltou, agora com um novo quadro.
Anamnese:
Identificação: Nome: JCA;
Idade: 17 anos; Sexo: feminino; Etnia: Caucasiano; Religião: Espírita;
Profissão: Estudante; Estado civil: Solteiro; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa principal: Falta de ar.
História da Moléstia Atual: Paciente refere ter iniciado
há 12 horas com dispnéia, acompanhada por tosse seca, dor em hipocôndrio
direito, tontura, náusea, disfagia, sudorese. Nega dor torácica e outros
sintomas associados.
História Mórbida Pregressa: Nega doenças da infância,
outras comorbidades, cirurgias, alergias e uso de medicamentos regularmente.
Passou por internamento anterior há uma semana por pericardite aguda.
História Mórbida Familiar: Refere que o pai possui
enxaqueca. Possui dois irmãos com hipertensão arterial sistêmica.
Condições e Hábitos de Vida: tabagista (5 cigarros/dia).
Nega etilismo. Refere ter alimentação não balanceada com grande ingesta de
gordura e alimentos industrialiados.
Perfil Psicosocial: Mora com os pais e dois
irmãos. Não pratica exercicios físicos regularmente.
Revisão de Sistemas: Não há outras queixas
pertinentes.
Exame
físico:
Geral: paciente em
mal estado geral, corada, hidratada, LOTE.
PA: 85X60, Pulso: 122, FR: 24, T: 36,2C.
Cabeça e pescoço: mucosas úmidas
e coradas, sem linfonodomegalias. Jugulares ingurgitadas.
Aparelho respiratório: paciente dispnéica,
com som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: bulhas
cardíacas rítmicas e hipofonéticas. Sem sopros. Ausência de atrito pericárdico.
Abdome: plano,
ruidos hidroaéreos presentes, flácido, dolorido a palpação de hipocôndrio
direito. Hepatomegalia.
Membros: sem edema,
perfusão diminuida, cianose, pulso paradoxal (pulso radial diminui durante a
inspiração).
Exames
complementares:
Hemograma:
Hb:
13
Leucócitos:
9.000
Plaquetas:
250.000
Creatinina: 2,0 mg/dL
Rx tórax:
ECG:
Imagem: www.scielo.com
Pergunta:
Diante deste quadro
clínico e exames complementares, qual seria a hipótese diagnóstica mais provável?
Qual exame complementar poderia confirmar nossa hipótese?
Resposta:
Ecocardiograma:
Através da ecocardiografia, pode-se diferenciar o acúmulo
de líquido de uma cardiomegalia. Além disso, é possível quantificar a
quantidade de líquido presente no espaço pericárdico.
Diagnóstico:
TAMPONAMENTO CARDÍACO devido à pericardite.
No processo inflamatório do
pericárdio, pode haver acúmulo de liquido no saco pericárdico. O derrame
pericárdico modifica as manifestações clínicas da pericardite. Ao afastar os
folhetos, faz com que diminua a dor e o atrito pericárdico desaparece. Haverá
uma dificuldade de enchimento do coração, levando ao chamado tamponamento
cardíaco.
Outras causas, além da
pericardite, também podem fazer tamponamento cardíaco: neoplasias,
insuficiência renal, traumatismos, sangramentos no espaço pericárdico, entre
outros.
As três principais
manifestações do tamponamento constituem a Tríade
de Beck: hipotensão arterial, abafamento de bulhas cardíacas,
ingurgitamento jugular. Há limitação do enchimento ventricular e diminuição do
debito cardíaco.
Nos derrames de instalação
rápida, o paciente apresenta dispnéia e tosse seca devido à congestão pulmonar
e dor em hipocôndrio direito pela distensão da cápsula de Glisson devido à congestão
hepática consequente ao aumento rápido da pressão venosa.
Ao exame físico, apresenta ictus cordis impalpável, bulhas
cardíacas hipofonéticas, ingurgitamento jugular, hepatomegalia, pulso paradoxal
(o pulso radial ao invés de aumentar, diminui de amplitude na inspiração).
No eletrocardiograma, aparece
com ondas QRS de baixa amplitude e alternância elétrica de ondas P, QRS ou T.
No RX tórax, a área global cardíaca encontra-se aumentada.. Pode-se proceder
com uma punção pericárdica para analise diagnóstica do liquido e alivio
terapêutico do tamponamento.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph;
FAUCI, Anthony S. Harrison manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed.,
2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR,
John T. Casos clínicos em medicina interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida.
CURIOSIDADE:
MEDICINA BASEADA EM
EVIDÊNCIAS
“Processo de
sistematicamente descobrir, avaliar e usar achados de investigações como base
para decisões clínicas" (Guyatt et al. 1992 ).
Você já ouviu falar em
Medicina baseada em evidências? Movimento iniciado no final da década de 1970
no Canadá e introduzido na prática clínica como um aspecto essencial da
formação nas profissões da saúde em 1990. Refere-se as decisões clínicas
sustentadas por dados obtidos a partir de experimentos clínicos prospectivos,
randomizados e controlados. Esta abordagem é diferente daquela em que o
médico baseia-se em sua experiência
pessoal isolada.
Este conceito levou órgãos
governamentais e organizações profissionais a desenvolverem diretrizes baseadas
em evidências para auxiliar os médicos na tomada de decisões clínicas. Há
inúmeras vantagens nesta linha de conduta: proteção ao paciente, que receberá
assistência nos padrões ideias, proteção aos profissionais de acusações
indevidas de suas condutas e proteger a
sociedade de custos excessivos por uso abusivo de recursos. No entanto, há quem
diga que estas diretrizes podem simplificar excessivamente as complexidades da
medicina, não levando em conta a singularidade de cada pessoa e sua doença.
Diante disso, fica o desafio
para os médicos: incorporar as recomendações úteis oferecidas, mas sem
aceitá-las desprovido de critérios e bom senso.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
SÍNDICO,
S.R. F. Fontes de Informação em Medicina Baseada em Evidências. Biblioteca
virtual em Saúde FIOCRUZ, 2009.
Disponível em: http://bvsfiocruz.fiocruz.br/local/temp/Treinamento2009_2/Treinamento2009-2ApreCochrane.pdf.
Anamnese:
Identificação: Nome: SMA;
Idade: 35 anos; Sexo: Feminino; Etnia: Caucasiano; Religião: Espírita;
Profissão: Professora; Estado civil: Casada; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Rouquidão”.
História Mórbida Pregressa: refere que
sofria de faringites de repetição na infância. Nega outras comorbidades,
internamentos/cirurgias anteriores, alergias e tranfusões.
Geral: paciente em bom estado geral, corado, hidratado, LOTE. Disfônico. PA: 110X70, Pulso: 88, FR: 18, T: 36,1C.
Cabeça
e Pescoço: mucosas úmidas e coradas, sem linfonodomegalias. Rubor malar e Jugulares
ingurgitadas.
Aparelho
respiratório: eupnéica, com som claro atimpânico a
percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho
cardiovascular: Ictus impalpável. Bulhas cardíacas rítmicas.
B1 hiperfonética, P2 acentuado, estalido de abertura da valva mitral seguido
por sopro grau II em ruflar diastólico audível em ápice (decúbito lateral
esquerdo). Acentuou-se após exercício leve.
Abdome: abdome plano, RHA
presentes, flácido, indolor a palpação superficial e profunda, sem massas
palpáveis, hepatimetria normal, som timpânico a percussão.
Membros: edema 1+/4+ em ambos
MMII, extremidades cianóticas, pulsos presentes, perfusão normal.
Exames
complementares:
ECG:
Enquanto
aguardamos a paciente voltar do RX tórax e Ecocardiografia, vamos pensando em
quais são as hipóteses diagnósticas diante deste quadro!
Resposta:
Resposta:
Outros
exames complementares:
Ecocardiograma:
a. Orifício
átrio-ventricular esquerdo <2,5cm2 (estenose mitral)
RX tórax:
a. Retificação
da borda esquerda superior da silhueta cardíaca
b. Proeminência
do tronco das artérias pulmonares
c. Dilatação
das veias pulmonares do lobo superior
d. Deslocamento
posterior do esôfago devido ao aumento do AE
e. Linhas
B de Kerley
Hipóteses
diagnósticas:
1.
Síndrome de Ortner associada a Estenose
mitral
2.
Insuficiência mitral: há aumento de VE, B1
hipofonética ou ausente. Sopro holossistólico apical, presença de B3.
3.
Comunicação interatrial: ausência de aumento
de AE, ausência de linhas B de Kerley, desdobramento fixo de B2, sopro
mesodiastólico na borda esternal esquerda .
4.
Mixoma do átrio esquerdo: sintomas sugestivos
de doença sistêmica (perda de peso, febre, anemia, embolia sistêmica, aumento
de IgG e IL-6).
Diagnóstico: Síndrome
de Ortner por ESTENOSE MITRAL devido à moléstia reumática na infância.
A síndrome de Ortner, também
conhecida como síndrome cardiovocal, é uma entidade rara, que pode ser
secundária a muitos distúrbios cardiopulmonares. Dentre eles, encontra-se a
estenose mitral que por gerar um aumento do átrio esquerdo, faz com que haja
compressão do nervo laríngeo recorrente esquerdo com paralisia da corda vocal
esquerda.
A estenose mitral consiste
no estreitamento do orifício atrio-ventricular esquerdo por espessamento e
fibrose das cúspides valvares. A causa principal é a moléstia reumática. Outras
causas são: congênita, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, mixoma
do átrio esquerdo, endocardite infecciosa com grandes vegetações, entre outras.
A lesão tem uma progressão
lenta. Há um período latente de 1-2 décadas entre a cardite inicial e o
aparecimento dos sintomas (quando há cicatrização da cardite e a área do
orifício átrio-ventricular tem redução de 50%). Os pacientes, em geral, começam
a manifestar incapacidade entre a 3ª e 4ª década de vida.
O quadro clínico é de
dispnéia aos esforços, dispnéia paroxística noturna, ortopnéia, hemoptise
(ruptura das conexões venosas brônquicas secundarias a hipertensão pulmonar),
edema agudo de pulmão, Rouquidão (Síndrome de Ortner: Compressão do nervo
laríngeo recorrente esquerdo pelo AE), disfagia.
Ao exame físico pode
apresentar rubor malar com fácies cianótica. Ictus impalpável. B1 é em geral
hiperfonética, P2 acentuado, estalido de abertura da valva mitral seguido por
sopro em ruflar diastólico audível em ápice (decúbito lateral esquerdo).
Acentua-se por exercícios leves antes da ausculta.
Referências:
SUBRAMANIAM, Vijayalakshmi
et al . Síndrome de Ortner: série de casos e revisão da literatura. Braz. j. otorhinolaryngol. (Impr.), São Paulo,
v. 77, n. 5, Oct. 2011 .
Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-86942011000500004&lng=en&nrm=iso>.
access on 17 May
2013. http://dx.doi.org/10.1590/S1808-86942011000500004.
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida.
CURIOSIDADE:
CURIOSIDADE:
COMO DAR NOTÍCIAS RUINS?
Geralmente, na formação
médica universitária, não há uma orientação prática e teórica de como o
profissional deverá agir diante de situações como a morte de seus pacientes e
comunicado aos respectivos familiares. Diante disso, trazemos noções básicas de
como agir nestes casos, especialmente em ambiente de atendimento de emergência.
Confira o roteiro “Orientações para
reduzir o sofrimento dos familiares” elaborado por Paula Maria Prado com a
colaboração do Dr. José Paulo Ladeira, médico plantonista das Unidades de
Terapia Intensiva do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“ 1. Chame e informe
pessoalmente os familiares, caso não tenham sido avisados, sobre a gravidade da
situação.
2. Obtenha o máximo de informações
possíveis a respeito dos eventos envolvidos.
3. Revise passo a passo os
eventos que aconteceram durante o atendimento antes de falar com a família.
4. Preferencialmente,
converse com eles em área reservada. Apresente-se e dirija-se ao familiar com
grau de parentesco mais próximo.
5. Descreva brevemente as
circunstâncias que levaram a morte. Repasse aos familiares os eventos que
aconteceram durante o atendimento do paciente.
6. Utilize linguagem
objetiva, como “óbito”, “falecimento” ou “morto”. Evite “ele nos deixou” ou
“ele foi descansar” (pode parecer frio ou agressivo, mas a clareza de palavras
pode ser necessária para a compreensão dos fatos).
7. Permita um tempo para os
familiares absorverem a informação. Seja paciente e não perca o contato visual.
Toque fisicamente e compartilhe as emoções dos familiares. Expresse seus
sentimentos como “meus pêsames” e não diga “me desculpe” (os familiares
precisam perceber o quanto você se importou com o paciente e com eles).
8. Verifique a possibilidade
de o paciente vir a ser doador de órgãos.
9. Demore o tempo que for
necessário para esclarecer dúvidas; repasse os eventos várias vezes para
certificar-se da correta compreensão do evento pelos familiares.
10. Permita que os
familiares vejam o seu parente (a maioria dos familiares se sente melhor após a
despedida).
11.Saiba antecipadamente os
passos burocráticos e os procedimentos a serem seguidos até a liberação do
corpo; saiba quem irá preencher o atestado de óbito.
12. Solicite o auxílio de um
assistente social ou de um religioso para orientar os familiares após a
comunicação do óbito.
13.Coloque-se a disposição
para entrar em contato com o médico da família ou outro profissional que cuidou
do paciente, e para auxílio/esclarecimento durante o período de luto no
hospital. ” (PRADO, 2012)
Referência:
PRADO, P.M. Médicos da juventude. [Editorial]. MedAtual,
Ano 3, nº4 , pg. 20-21, 1º semestre 2012.
CASO CLÍNICO VI:
Anamnese:
Identificação: Nome: JCA;
Idade: 17 anos; Sexo: feminino; Etnia: Caucasiano; Religião: Espírita;
Profissão: Estudante; Estado civil: Solteiro; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Dor no
peito”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter iniciado há 12 horas com dor retroesternal intensa, irradiada para o
pescoço e braço esquerdo, constante, acompanhada por febre, mal-estar e
secreção clara de via aérea superior. Refere ser agravada pela respiração e em
decúbito dorsal, aliviada quando sentada e inclinada para frente. Nega sintomas
urinários, articulares ou outros sintomas associados.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância, outras comorbidades, cirurgias e internamentos anteriores,
alergias e uso de medicamentos regularmente.
História Mórbida Familiar: Refere que
o pai possui enxaqueca. Possui dois irmãos com hipertensão arterial sistêmica.
Condições e Hábitos de Vida: tabagista
(5 cigarros/dia). Nega etilismo. Refere ter alimentação não balanceada com
grande ingesta de gordura e alimentos industrialiZados.
Perfil Psicosocial: Mora com
os pais e dois irmãos. Não pratica exercícios físicos regularmente.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas pertinentes.
Exame
físico:
Geral: paciente em
regular estado geral, corada, hidratada, LOTE.
PA: 120X75, Pulso: 104, FR: 9, T: 37,2C
Cabeça e pescoço: mucosas úmidas e coradas, sem linfonodomegalias, jugulares não ingurgitadas.
Aparelho respiratório: paciente levemente
dispnéica, com som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: bulhas
cardíacas rítmicas e normofonéticas. Sem sopros. Atrito pericárdico na borda esternal
inferior esquerda no final da expiração
Abdome: plano, ruídos hidroaéreos presentes, flácido, indolor a palpação superficial e profunda,
ausência de massas palpáveis, som timpânico a percussão.
Membros: sem edema,
pulsos presentes, perfusão normal.
Exames
complementares:
Hemograma:
Hb:
13
Leucócitos:
9.000
Plaquetas:
250.000
Uréia e creatinina normais
Rx tórax: silhueta cardíaca regular, sem
infiltrado ou derrame
ECG:
Pergunta:
Qual o principal diagnóstico diferencial neste
caso?
Principal
diagnóstico diferencial é com IAM. No eletrocardiograma, apresenta supradesnivelamento
difuso do segmento ST. No IAM o supradesnivelamento é regional.
PERICARDITE AGUDA
É a patologia mais comum que
envolve o pericárdio. É a inflamação do saco pericárdico que envolve o coração.
As pericardites agudas podem ter etiologia infecciosa (viral, bacteriana,
fúngica, parasitológica), podem surgir acompanhando afecções sistêmicas como as
colagenoses (moléstia reumática, lúpus
eritematoso sistêmico, artrite reumatoide), neoplasias, metabólicas (uremia),
infarto do miocárdio e traumáticas.
A clínica é de dor súbita, intensa,
retroesternal e pré-cordial esquerda, podendo irradiar para o pescoço, braços e
ombro esquerdo. Agravada pela inspiração e em decúbito dorsal e aliviada ao
sentar-se. Ao exame físico, o achado que auxilia no diagnóstico é o atrito
pericárdico, que é a expressão esteato acústica das alterações na superfície
dos folhetos pericárdicos, os quais se tornam rugosos, irregulares e cobertos
por uma substância fibrinosa ou serosa.
Identificado o quadro de
pericardite aguda, deve-se buscar o fator etiológico: infeccioso, colagenoses
(identificar títulos de anticorpos, manifestações clinicas da doença de base),
uremia, neoplasia (citologia do liquido pericárdico ou biopsia pericárdica).
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR,
John T. Casos clínicos em medicina interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
CURIOSIDADE:
Você já ouviu falar em MUSICOTERPIA?
Musicoterapia é o uso de
estímulos sonoros para auxiliar a recuperação do equilíbrio corporal do
paciente.
Os estudos científicos nesta
área se iniciaram na década de 1940. No entanto, sua utilização já havia sido relatada
em 1859 pela enfermeira Florence Nightingale. Isa Maud Ilsen, mais tarde,
observou que a inserção de músicos em hospitais dos EUA e países da Europa
aumentava o bem-estar dos soldados durante a guerra e responsabilizou-se pela
Associação Nacional de Música nos Hospitais.
No Brasil, foi introduzida
como especialização em 1970. O currículo da graduação aborda disciplinas das
áreas de musica, neurociências, anatomia e fisiologia humana, psicologia,
filosofia, noções de expressão artística, expressão corporal, dança, técnicas
grupais e métodos de educação musical.
Os sons usados são estímulos
sonoros como música, vozes ou sons da natureza. Para determinar o melhor
tratamento, o musicoterapeuta deve ter conhecimento sobre o mecanismo da doença
que acomete o paciente e suas necessidades psicossociais.
A musicoterapia vai agir estimulando
a plasticidade neuronal (formação de novos caminhos sinápticos), mascarando a
dor pelo desvio da atenção, estimulando o processamento e a percepção auditiva,
a cognição, o equilíbrio, a locomoção e a noção espaço-temporal.
Não está 100% livre de
efeitos adversos. O caso mais relatado é o de epilepsia neurogênica. Portanto,
o profissional deve estar atento para qualquer manifestação e ter conhecimentos
neurofisiológicos relacionados aos efeitos dos estímulos musicais.
Referência:
PRADO, P.M. Médicos da juventude. [Editorial]. MedAtual,
Ano 3, nº4 , pg.14, 1º semestre 2012.
CASO CLÍNICO V:
Anamnese:
Identificação: Nome: ASP;
Idade: 28 anos; Sexo: Masculino; Etnia: Caucasiano; Religião: Católico;
Profissão: administrador; Estado civil: Solteiro; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Dor no
peito”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter iniciado há 2 horas com dor súbita em hemitórax direito, intensa, não
irradiada, tipo pontada, continua, associada a dispnéia e tosse seca. Refere piora
da dor ao respirar e não há medidas de alivio. Nega outros sintomas associados.
Refere que a crise álgica iniciou enquanto tomava banho. Nega traumatismos
recentes.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância, comorbidades, cirurgias/internamentos anteriores, alergias
e uso de medicamentos regularmente.
História Mórbida Familiar: mãe possui
fibromialgia e pai tem Hipertensão Arterial Sistêmica.
Condições e Hábitos de Vida: é
tabagista (um maço/dia há 8 anos). Nega etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora
sozinho. Pratica atividade física regularmente (3X na semana). É satisfeito com
a sua ocupação.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas pertinentes.
Exame
físico:
Geral:
paciente em regular estado geral (REG), corado, hidratado, lúcido e orientado
em tempo e espaço. PA: 90X50, Pulso: 105, FR: 20, T: 36,2oC.
Aparelho
respiratório: paciente dispnéico, expansibilidade
torácica diminuída, murmúrio vesicular e frêmito toracovocal abolidos, tórax
hiperssonoro a percussão.
Aparelho
cardiovascular: bulhas cardíacas rítmicas e normofonéticas.
Sem sopros.
Abdome:
abdome plano, ruídos hidroaéreos presentes, flácido, indolor a palpação
superficial e profunda, sem massas palpáveis, som timpânico a percussão.
Membros: ausência
de edema, pulsos presentes, panturrilhas livres, Sinal de Homans e da Bandeira
negativos, leve cianose em extremidades.
Perguntas:
1 Diante deste quadro clínico,
quais exames complementares devemos solicitar?
2 Quais seriam as hipóteses
diagnósticas?
Exames
complementares:
ECG:
normal
RX tórax:
Diagnóstico:
PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO HIPERTENSIVO
Pneumotórax é a presença de
ar no espaço pleural. Pode ser primário, ocorrendo espontaneamente em
indivíduos em aparente estado de higidez, ou secundário a realização de uma
pleuroscopia, traumatismos de tórax, tuberculose, enfisema, pneumoconiose, sarcoidose,
neoplasias etc.
O pneumotórax, quando é
espontâneo, costuma acometer indivíduos hígidos após o exercício físico ou em
repouso. É também chamado de pneumotórax idiopático, simples ou primário. Acomete
mais adultos jovens, do sexo masculino, tipos longilíneos e tabagistas. Em
geral, ocorre mais a direita e pode ter eventos de repetição em 20 a 30% dos
casos.
Ocorre devido à ruptura de
bolhas pleurais apicais (blebs), que são pequenos espaços císticos localizados
dentro ou imediatamente sob a pleura visceral. Em geral, manifesta-se se
maneira súbita com dispneia, dor torácica (unilateral) e tosse seca. Mas, pode
ser assintomático quando em pequenas proporções. Ao exame físico, o hemitórax
comprometido apresenta diminuição ou ausência da expansibilidade, do murmúrio vesicular
e do frêmito toracovocal. Há uma hiperssonoridade a percussão. Os sinais
clínicos podem variar conforme o tipo do pneumotórax (parcial, total,
hipertensivo, hipotensivo, valvular): respiração brônquica pode estar presente
no pneumotórax total e, em alguns casos, podemos encontrar aumento da freqüência
cardíaca que, associado à cianose,
hipotensão arterial e desvio de mediastino, nos faz suspeitar de pneumotórax
hipertensivo, por exemplo.
O diagnóstico do pneumotórax
se baseia na história clínica, no exame físico e na análise dos exames
radiológicos. A radiografia de tórax confirma a suspeita clínica pela
presença de ar (linha de reflexão pleural visceral) na cavidade pleural.
Devemos lembrar que
pneumotórax hipertensivo é uma emergência e, portanto, o diagnóstico e
tratamento precoce são essenciais para o prognóstico do paciente.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
CURIOSIDADE:
HEBIATRIA
A Hebiatria é uma
especialidade médica que cuida da saúde do adolescente. O nome foi inspirado em
Hebe, deusa da JUVENTUDE ETERNA, da mitologia grega.
Imagem:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hebe
Surgiu na década de 1950 nos
Estados Unidos e na Inglaterra e chegou ao Brasil após 20 anos, quando ganhou
importância devido a um aumento na mortalidade dos jovens em um contexto de uso
de drogas e acidentes automotivos. A especialidade, no entanto, só foi
reconhecida pela Associação Médica Brasileira em 1998.
O profissional que atua
nesta área tem a formação de pediatria e cursa mais um ano de Hebiatria.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje há cerca
de 200 hebiatras para cerca de 40 milhões de adolescentes.
É uma especialidade
procurada pelo jovem em um momento em que se sente crescido demais para ir ao
pediatra, mas ainda não quer procurar orientações de um especialista como
ginecologista ou urologista. O especialista deve aprender a lidar inclusive com
questões familiares, sociais, amorosas e sexuais dos jovens.
Referência:
PRADO, P.M. Médicos da
juventude. [Editorial]. MedAtual, Ano 3, nº4 , pg.13, 1º semestre 2012.
CASO CLÍNICO IV:
Anamnese:
Identificação: Nome: JA;
Idade: 45 anos; Sexo: Masculino; Etnia: Caucasiano; Religião: Católico;
Profissão: agricultor desde os 14 anos; Estado civil: Casado; Naturalidade: Maringá-PR;
Residência: zona rural – Maringá; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Úlceras
em boca e nariz”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter iniciado há 4 meses com lesões ulceradas em pele, mucosa bucal e de
nasal acompanhada por odinofagia, disfagia, disfonia, dispnéia progressiva e
tosse com expectoração mucopurulenta. Refere também que nos ultimos 2 meses vem
apresentando astenia, anorexia, emagrecimento (não sabe quantificar) e sua pele
encontra-se mais bronzeada que o normal. Dois dentes cairam no último mês. Nega
alterações intestinais e outros sintomas associados.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância, presença de outras comorbidades, internamentos/cirurgias
anteriores, alergias e tranfusões.
História Mórbida Familiar: Nega
comorbidades nos familiares.
Condições e Hábitos de Vida: Tabagista
há 30 anos (um maço dia). Foi etilista por 15 anos.
Perfil Psicosocial: Mora com a
esposa e dois filhos. Gosta do seu trabalho e encontra-se desanimado com a
falta de disposição para realização de suas atividades.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas pertinentes.
Exame
físico:
Geral: paciente em
regular estado geral (REG), corado, hidratado, LOTE. Apresenta hiperpigmentação
difusa da pele. PA: 90X50, Pulso: 102, FR: 16, T: 36,3oC.
Cabeça e pescoço: mucosas
úmidas e coradas. Ausência de linfonodomegalias. Apresenta ulcerações
"limpas", não infectadas, fundo granuloso fino, com pontilhado
hemorrágico, nas mucosas da cavidade oral e nasal e na pele (MSD).
Tórax: murmúrio vesicular presente
bilateralmente, com som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV
normais.
Cardiovascular: bulhas cardíacas rítmicas e
normofonéticas, sem sopros.
Abdome: plano, RHA presentes, flácido, dor
difusa a palpação superficial, sem massas palpáveis, som timpânico.
Hepatimetria normal, baço impalpável.
Membros: ausência de edema, pulsos
presentes, perfusão normal.
Neurológico: não apresenta déficit motor e
sem outras particularidades.
Exames complementares:
Hemograma
completo: Hb normal, plaquetas normais, leve leucocitose
Velocidade
de hemossedimentação
Provas
bioquímicas hepáticas: ALT, AST, gGT, fosfatase alcalina
Eletroforese
de proteínas
Sódio e
Cloro: baixos
Potássio,
Cálcio, Uréia: elevados
Raio X
simples de tórax:
Ultrassonografia
abdominal: presença de calcificação adrenal sem aumento de tecidos moles
Perguntas:
Quais são
os diagnósticos diferencias?
Quais
outros exames devemos solicitar para confirmação da hipótese diagnóstica?
Solução do caso:
Solução do caso:
Quais são
os diagnósticos diferenciais?
Os
padrões respiratórios se assemelham a tuberculose, a histoplasmose, a
coccidioidomicose e a sarcoidose. As lesões mucosas devem ser diferenciadas da
leishmaniose tegumentar, das lesões mucosas da histoplasmose, das lesões
neoplásicas.
Quais
outros exames devemos solicitar para confirmação da hipótese diagnóstica?
PPD (não
reagente)
Exame direto:
fungo Paracoccidioides brasilienses
Histopatologia:
Célula
gigante multinucleada com o fungo Paracoccidioides brasiliensis em seu interior
Imagem:
FRANÇA DCC et al. Paracoccidioidomicose: Relato de Caso.
Diagnóstico: PARACOCCIODIOMICOSE OU BLASTOMICOSE
SULAMERICANA
É a micose pulmonar de maior
interesse no Brasil pela sua elevada frequência e gravidade. É mais prevalente
nas Regiões Sul e Sudeste e a infecção é prioritariamente adquirida nas duas
primeiras décadas de vida, com um pico de incidência entre 10 e 20 anos de
idade. A apresentação de manifestações clínicas ou a evolução para doença é
incomum neste grupo, ocorrendo mais freqüentemente em adultos entre 30 e 50
anos, como reativação de foco endógeno latente. Acomete especialmente indivíduos
que trabalham em zonas rurais e lavouras.
O agente causal é o Paracoccidioides brasilienses. Vive no
solo e é transmitido ao homem através da inalação de conídios aerossolizados.
Na maioria dos casos, a doença desenvolve-se tardiamente, anos após a
exposição.
Clínica: sintomatologia
respiratória (dependendo do grau de acometimento pulmonar) semelhante à
tuberculose e lesões ulcerativas de mucosa. Na forma generalizada, todas as
vísceras podem ser afetadas (principalmente suprarrenais, intestino, fígado e
baço). O comprometimento intestinal ocorre em consequência da disseminação da
doença no sistema linfático mesentérico. Há um bloqueio do fluxo linfático,
consequência da adenite mesentérica, provocando linfangiectasias, edema,
hipersecreção da mucosa.
As lesões bucais tem inicio
na gengiva e mucosa alveolar, se estendem para os lábios, língua, palato e
bucofaringe. As lesões bucofaringeas se apresentam com edema labial, erosão das
comissuras e estomatite moriforme (ulceras vegetantes, bordos irregulares, indolores,
fundo avermelhado, com granulações finais e pontilhados hemorrágicos). O
paciente apresenta salivação abundante, gengivas inflamadas e hemorrágica,
reabsorção das cristas ósseas e ossos alveolares, com odoltalgia, mobilidade e
as vezes queda dos dentes. Gânglios da cadeia cervical aumentados. Disfonia por
comprometimento das cordas vocais.
Diagnostico: exame clínico,
citologia expoliativa, histopatologia, reação intradermica, radiografia tórax. No
RX tórax, os achados mais típicos aparecem nas formas mais avançadas: lesões
bilaterais extensas, infiltrados densos e irregulares com padrão alveolar
intersticial e misto que se fundem em um conglomerado. Lesões tendem a poupar
ápice e base, resultando em quatro áreas de bolhas subpleurais (pontos
cardinais para o diagnostico). Raramente consegue-se identificar as
adenomegalias e as cavernas são de parede fina e tamanho variável.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
MARQUES, Silvio Alencar et
al . Paracoccidioidomicose: freqüência, morfologia e patogênese de lesões
tegumentares. An. Bras. Dermatol., Rio
de Janeiro, v. 82, n. 5, Oct.
2007 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365-05962007000500003&lng=en&nrm=iso>.
access on 27 Apr.
2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0365-05962007000500003.
COSTA, Marlos Augusto
Bitencourt et al . Manifestações extrapulmonares da paracoccidioidomicose. Radiol
Bras, São Paulo, v. 38,
n. 1, Feb. 2005 .
Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842005000100010&lng=en&nrm=iso>.
access on 27 Apr.
2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-39842005000100010.
SHIKANAI-YASUDA, Maria
Aparecida et al . Consenso em paracoccidioidomicose. Rev. Soc. Bras. Med. Trop.,
Uberaba, v. 39, n. 3, June
2006 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822006000300017&lng=en&nrm=iso>.
access on 27 Apr.
2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822006000300017.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
CURIOSIDADE:
O MÉDICO MODERNO
Confira este trecho presente
na primeira edição do livro “Harrison’s Principles of Internal Medicine”:
“Não se pode conferir a um
ser humano nenhuma oportunidade, nenhuma responsabilidade ou obrigação maior do
que a de tornar-se médico. Ao cuidar de pessoas que sofrem, [o médico] precisa
ter habilidade técnica, conhecimento científico e compreensão humana... Tato,
solidariedade e compreensão são o que se espera do médico, pois o paciente não
é uma mera coletânea de sinais, sintomas, funções desordenadas, órgãos
lesionados e perturbação das emoções. [O paciente] é humano, tem medos e
esperanças, busca alívio, ajuda e tranquilização”.
Harrison’s Principles of Internal Medicine, 1950.
Já se passaram mais de 60
anos desde a publicação deste texto. Mas, apesar de todo avanço científico e
mudanças da prática clínica adquiridas deste período, os princípios referidos
nesta passagem ainda prevalecem e devem ser cultivados.
Referência:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
CASO CLÍNICO III:
Anamnese:
Identificação: JN; 40
anos; Masculino; Caucasiano; Espírita; Caixa de supermercado; Casado;
Naturalidade: Curitiba-PR; Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: o
próprio paciente
Queixa Principal: “Sente dor de cabeça, que o
coração vai sair para fora e que vai morrer”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter iniciado há 2 horas com cefaléia holocraniana, de forte intensidade,
sem irradiação, tipo latejante, acompanhada de palpitações, sudorese profusa, de
náusea e vômitos, palidez, tremor, dor abdominal difusa e sensação de morte
iminente. Refere ser precipitada por esforços físicos e sem medidas de alívio.
Há dois meses vem apresentando episódios semelhantes, mas, em geral, a crise
tem duração de aproximadamente 15 a 20 minutos. Ocorre 3 vezes na semana,
coincidindo com os dias em que partica exercícios físicos aeróbicos.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância. Nega DM, HAS e outras comorbidades. Nega
cirurgias/internamentos anteriores, alergias e tranfusões. Não faz uso de
medicamentos regularmente.
História Mórbida Familiar: Nega
presença de comorbidades na família.
Condições e Hábitos de Vida: Nega
tabagismo, etilismo e uso de outras substâncias como a cocaína.
Perfil Psicosocial: Mora com a
esposa. Encontra-se estressado e insatisfeito com o atual trabalho. Pratica
exercícios físicos aeróbicos três vezes na semana.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas pertinentes.
Exame
físico:
Geral:
paciente em regular estado geral, rubor facial, hidratado, alerta. Ligeiramente
tremulo. PA: 180X140 (deitado)/150X110 (em pé), Pulso: 132 (deitado)/112 (em
pé) , FR: 20, T: 36C
Cabeça
e pescoço: mucosas úmidas e coradas, sem linfonodomegalias,
jugulares não ingurgitadas. Fundoscopia normal.
Aparelho
respiratório: paciente eupnéico, com som claro atimpânico
a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho
cardiovascular: paciente taquipnéico, bulhas cardíacas
rítmicas e normofonéticas. Sem sopros.
Abdome:
abdome levemente distendido, ruídos hidro-aéreos presentes. Flácido, levemente
doloroso a palpação superficial difusa do abdome, sem presença de massas
palpáveis. Percussão com som timpânico.
Membros:
ausência de edema, pulsos periféricos amplos e simétricos.
Perguntas:
Quais exames complementares você pediria
diante deste quadro clínico?
Exames complementares:
Laboratoriais:
Hemograma:
Contagem
normal de leucócitos
Hb:
14
Sódio: 140 mEq/L
Potássio: 4,7 mEq/L
Creatinina: 1,2 mg/dl
Urina
de 24hrs:
Metanefrinas:
3,0 mg/mg de creatinina
Ácido
vanilmandélico (VMA) elevado
Catecolaminas
urinárias livres (Noradrenalina e adrenalina)
Catecolaminas plasmáticas:
Soma da NA + AD = >2.000 pg/ml
Imagem:
Tomografia:
Quais seriam as hipóteses diagnósticas?
Hipóteses diagnósticas:
Hipertensão
essencial
Ataques
de ansiedade
Uso
de cocaína ou anfetaminas
Angina
Mastocitose
ou síndrome carcinoide
Lesões
intracranianas
Retirada
de clonidina
Epilepsia
autônoma
Crises
factícias
Diagnóstico:
Crise Hipertensiva por Feocromocitoma
Os feocromocitomas são
tumores originados nas células derivadas da crista neural (células cromafins)
que se transformam na medula das suprarrenais. Podem surgir esporadicamente ou
por herança (25%), podendo estar associados a síndromes como Neurofibromatose
tipo 1 e Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 2A ou 2B ou Doença de von
Hippel-Lindau. São tumores raros produtores de catecolaminas e incidem em 0,1 a
0,5% dos pacientes com hipertensão arterial. Seu pico de incidência é entre a 3ª e 4ª
década de vida. Seguem a “Regra dos DEZ”: aproximadamente 10% são bilaterais, 10%
são extra-suprarrenais e 10% são malignos.
As manifestações clínicas decorrem da liberação de grandes quantidades
de catecolaminas e são tão variáveis que o feocromocitoma é chamado de “O
grande mascarado”. Pode permanecer assintomático durante anos ou apresentar a Tríade clássica é: palpitação, cefaléia, sudorese profunda. Estes sintomas
associados a uma crise de hipertensão arterial sugerem o diagnóstico de
feocromocitoma. Outros sintomas podem estar presentes: ataques de pânico, palidez,
náusea, dor abdominal, astenia, fraqueza, perda de peso, poliúria e polidipsia,
constipação, hipotensão ortostática (secundaria a hipovolemia e alterações das
respostas constritivas arteriovenosas), sensação constritiva na região
retroesternal e sensação de morte iminente.
As crises podem ser desencadeadas por cirurgias, exercícios, gestação,
micção, medicações (antidepressivos tricíclicos, opiáceos, metoclopramida) e devem
ser identificadas precocemente para evitar consequências como insuficiência
cardíaca, edema pulmonar, arritmias e hemorragia intracraniana.
O diagnóstico laboratorial é feito pela dosagem de catecolaminas urinárias
e seus metabólitos (acido vanilmandélico, metanefrinas) e a dosagem das
catecolaminas no sangue. Para a localização do tumor, usa-se a tomografia/
ressonância magnética.
Conduta: estabilizar
a pressão arterial e exérese completa do tumor.
Referências:
HARRISON, Tinsley
Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison manual de medicina. 17.
ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos. Semiologia
médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR, John T. Casos clínicos em
medicina interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
MALACHIAS, MVB. Feocromocitoma – diagnóstico etratamento.
In: Rev Bras Hipertens. 2002; 9(2). Acesso disponível em:
http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/9-2/feocromocitoma.pdf.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
CURIOSIDADE:
A
EVOLUÇÃO DOS
EXAMES
COMPLEMENTARES
Paralelamente a evolução do
método clínico, que descrevemos na semana passada, devemos conhecer um pouco da
evolução dos exames complementares.
O marco inicial da aplicação
dos exames laboratoriais como parte fundamental do diagnóstico foi a obra
“Celular Pathologie” de Virchow, em 1858, com o esfregaço sanguíneo para identificação de afecções hematológicas.
Imagem: www.vialibri.net
Pasteur e Koch, entre 1880 e
1890, tornam possível conhecer e isolar os agentes causadores de inúmeras
enfermidades através da bacterioscopia.
Salkowski, entre 1874 e 1893, contribuiu com a incorporação de exames
laboratoriais na prática médica com a publicação do “Manual de Química Fisiológica”.
Roentgen, em 1895, contribui
com a mais importante descoberta referente ao diagnóstico por imagem: os raios X.
Imagem:http://muldoonshealthphysicspage.com/Part_1_History.htm
Einthoven, entre 1902 e
1906, constrói o primeiro eletrocardiógrafo.
Imegem: http://www.rbconline.org.br/wp-content/uploads/04155.jpg
Pierre e Marie, entre 1890 e
1930 realizaram estudos sobre a radioatividade
e aplicações dos radioisótopos na área médica. Os primeiros aparelhos capazes
de captar a radioatividade dos marcadores iodados ficados pela tireoide foram
usados em 1940.
Um marco no diagnóstico de
afecções neurológicas foi a criação do eletroencefalógrafo
em 1924 por Hans Berger.
Imagem: http://www.brainclinics.com/historie-van-het-eeg
Wolf e Schindler, em 1932,
contribuíram com o desbravamento da endoscopia profunda com a construção do gastroscópio semiflexível.
Imgem: www.grupotaper.pt
Hirschowitz e col., em 1958,
possibilitaram a introdução da fibroendoscopia
na prática médica através da descoberta das fibras ópticas.
Uma nova época no
diagnóstico das enfermidades foi inaugurada com a construção da primeira unidade de processamento eletrônico por
von Neuman entre 1940 e 1950.
Após 1950, o progresso
tecnológico acelerou e a tecnologia médica passou a ser desenvolvida por
equipes anônimas em indústrias eletrônicas. Por isso, os descobridores de
técnicas como a termografia,
ultra-sonografia, xerografia e ressonância magnética não puderam ser
identificados.
Crick e Watson, em 1953,
abrem um novo campo na compreensão das doenças criando a Medicina Preditiva através da descrição da estrutura em dupla hélice do DNA.
Imagem: http://pos-darwinista.blogspot.com.br/2010/05/artigo-original-de-watson-e-crick-sobre.html
O grande desafio atual é
conciliar o método clínico com os avanços tecnológicos. Sabe-se que os recursos
tecnológicos só tem sua real valia quando se parte de um exame clínico bem
feito.
Referência:
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011
CASO CLÍNICO II:
Anamnese:
Identificação: BMR; 16 anos; Feminina; Caucasiana; Evangélica;
Estudante; Solteira; Naturalidade: Curitiba-PR; Residência: Bigorrilho –
Curitiba; Referência: a mãe da paciente
Queixa Principal: “Desorientação”.
História da Moléstia Atual: Mãe da paciente refere que sua filha iniciou há algumas
horas com torpor e desorientação. Há 7 dias vinha apresentando disúria,
polaciúria, odor forte da urina que evolui para febre de 39oC e dor
em flanco direito do tipo cólica, continua, sem medidas de alivio/piora ou
irradiação. Nos dias seguintes, apresentou-se com intensa astenia, náusea, 4
episódios de vômito, poliúria e polidipsia, que se intensificaram há algumas
horas. A acompanhante nega que a paciente referiu cefaléia e outros sintomas
associados.
História Mórbida Pregressa: refere que teve caxumba, sarampo e rubéola na infância.
Possui DM tipo 1 diagnosticada há um ano. Apresenta estrabismo convergente por
lesão do VI par craniano. Refere que possui infecções de repetição por Candida
albicans na região vulvar. Nega cirurgias/internamentos anteriores e alergias.
Em uso de: insulina NPH (2X dia) + Regular (2X dia).
História Mórbida Familiar: Refere que a mãe possui hipotireoidismo e a avó materna
possui DM tipo 1. A irmã de sua mãe teve morte súbita aos 35 anos por doença
cardíaca.
Condições e Hábitos de Vida: Nega tabagismo e etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com o pai, mãe e irmã mais velha. Está cursando o
ensino médio. Pratica exercicios físicos apenas 2X na semana, na aula de
educação física da escola.
Revisão de Sistemas: Não apresenta outras queixas pertinentes.
Exame físico:
Geral: Mal estado geral, desidratada, corada,
desorientada. Escala de Glasgow: 13. Hálito cetônico. PA: 120X80 deitada,
100X70 em pé; Pulso: 115 deitada, 140 em pé, FR: 24, T: 38,5oC.
Cabeça e
Pescoço: Mucosas
secas, coradas. Olhos encovados. Sem linfonodomegalias. Paralisia isolada do VI
par craniano (motor ocular externo) com estrabismo convergente. Presença de
sulcos no dorso e borda da língua. Fundo de olho normal. Jugulares não
ingurgitadas.
Instituto Pan-Americano da visão
Tórax: Inspiração profunda e rápida, seguida de uma
pausa; uma expiração súbita e gemente, seguida igualmente por nova pausa
(padrão de respiração de Kussmaul). Murmúrio vesicular presente bilateralmente,
som claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Respiração
de Kussmaul: http://www.youtube.com/watch?v=0YJxz-Sxx90
Cardíaco: Apresenta-se taquicárdica. Bulhas cardíacas
rítmicas e normofonéticas. Ausência de ingurgitamento jugular.
Abdome: plano, ruídos hidro-aéreos presentes,
flácido, leve dor difusa a palpação, especialmente a palpação profunda de
hipogástrio e flanco direito. Sem dor a descompressão brusca e presença de
massas palpáveis. Giordano + (lado direito).
Membros: Ausência de lesões em membro inferior e em
outras áreas cutâneas. Pulsos periféricos presentes, ausência de edema,
panturrilhas livres, perfusão normal.
Sistema nervoso: reflexos e sensibilidade (vibratória, tátil,
térmica e dolorosa) preservada.
Exames complementares:
Laboratoriais:
Laboratoriais:
Glicemia:
472 mg/dL
Osmolaridade: 320
Na sérico: 130 mEq/L
K sérico: 5,3 mEq/L
pH: 7,15
PO2:
94mmHg
PCO2: 25mmHg
Creatinina: 1,2 mg/dL
Bicarbonato:
12 mEq/L
Hemograma: leucocitose, Hb: 13
Análise urina:
>105 unidades
formadoras de colônia por milímetro de urina
Presença de cilindros leucocitários
Cetonúria: +++
Amilase: 220 U/l
Ânion GAP elevado
Imagem:
Rx tórax:
normal
US
abdome: sem alterações.
ECG: normal
Pergunta: Qual seriam as possíveis
hipóteses diagnósticas?
Solução do Caso:
Dâmia Kuster Kaminski Arida
Solução do Caso:
Hipóteses
diagnósticas:
Intoxicação por salicilatos, organofosforados (Hx de contato com
estes agentes)
Infecção
grave (hemograma com desvio a esquerda)
Gastroenterite
aguda (não apresenta poliúria)
Tubulopatia renal (neste caso não haverá cetonemia e hiperglicemia)
Pneumonia (alterações na ausculta pulmonar e radiológica)
Broncoespasmo
Abdome agudo (a dor
abdominal não melhora após a hidratação)
Diagnóstico: Cetoacidose
Diabética em paciente diabética do tipo 1, precipitada por pielonefrite.
A Cetoacidose Diabética é um
distúrbio metabólico caracterizado por uma tríade: aumento de ânion GAP,
hiperglicemia, cetose. É uma emergência médica e apresenta taxa de mortalidade
<5% se receberem tratamento precoce e adequado. É uma das complicações
agudas dos pacientes diabéticos tipo 1. Em geral, é precipitada por infecções
(ITU, pneumonias), baixa aderência ao tratamento clínico, IAM, AVC, associação
com outros medicamentos etc.
Este distúrbio ocorre por uma
deficiência de insulina que gera hiperglicemia e diminuição de glicose nos
tecidos. Com isso, haverá um aumento na produção hepática de glicose a partir
de glicogenólise e neoglicogênese. O aumento de hormônios contrarreguladores de
insulina, como o glucagon, possibilita o catabolismo do tecido adiposo para
esta via e isto gera uma produção excessiva de ácidos graxos livres que serão
convertidos em corpos cetônicos. O excesso de cetoácidos promove então a
acidose metabólica.
O quadro clínico será de
poliúria, polidipsia, intensa astenia, náuseas, vômitos, podendo evoluir com
torpor e coma. Ao exame físico apresentará taquicardia, desidratação (devido a
diurese osmótica pela hiperglicemia), hipotensão postural, hálito cetônico
(“cheiro de maçã podre”), hipertermia (em casos de infecção), respiração tipo
Kussmaul, dor abdominal (pode ser referente ao fator precipitante, como uma
pielonefrite , ou devido a própria cetoacidose que leva a alterações de
prostaglandinas da parede muscular intestinal).
Laboriatorialmente, apresentará
glicemia elevada (400-800mg/dL), valor corporal total de sódio e potássio
baixos, cetonúria, pH<7,3, bicarbonato <15mEq/L, amilasemia discretamente
elevada, ânion gap elevado. Além destes exames, deve-se buscar pela causa que
precipitou este distúrbio. Solicitar RX tórax (pneumonia?), ECG (IAM), US
abdome, por exemplo.
Conduta:
Combater o fator precipitante, fazer hidratação EV com Soro Fisiológico
0,9%, administrar insulina de ação rápida EV, reposição de potássio.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison manual de
medicina. 17. ed. Porto Alegre:
AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR, John T. Casos clínicos em medicina
interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
: CURIOSIDADE:
A EVOLUÇÃO
DO
MÉTODO CLÍNICO
Cerca de 500 anos antes de
Cristo, Hipócrates sistematizou o “Método Clínico” conferindo uma estruturação à
anamnese e ao exame físico (inspeção e palpação).
Entre os anos de 1561 e 1636,
Sanctorius propõe o uso do Termômetro Clínico para a medida da temperatura
corporal.
Imagem: http://www.portalesmedicos.com/publicaciones/articles/2213/5/
Auenbrugger, em 1761, sistematiza
a percussão do tórax e a
correlaciona a achados anatomopatológicos com a sua publicação do trabalho
“Inventum Novum”. No entanto, somente em 1806 com a publicação de Corvisart
(“Essai sur les Maladies et Lésions du Coeur et des Gros Vaisseaux”) a percussão é incorporada à prática clínica.
No mesmo ano, com a publicação do livro de Morgagni “De Sedibus et Causis Morborum per Anatomen Indagatis”, o método clinico é sistematizado para o diagnóstico em pacientes vivos, correlacionando os dados clínicos posteriormente com os achados de necropsia.
No mesmo ano, com a publicação do livro de Morgagni “De Sedibus et Causis Morborum per Anatomen Indagatis”, o método clinico é sistematizado para o diagnóstico em pacientes vivos, correlacionando os dados clínicos posteriormente com os achados de necropsia.
Laennec, em sua obra “De la Auscultation
Médiate”, em 1819, descreve o estetoscópio
e seu uso nas doenças cardíacas e pulmonares.
Imagem: http://hardluckasthma.blogspot.com.br/2012/01/1781-1826-laennec-inventor-of.html
Em 1839, Skoda correlaciona o exame físico do tórax
(percussão e ausculta) com achados de necropsia em seu trabalho “Abhandlung
uber Perkussion und Auscultation”.
Helmholtz e Ruete, em 1851/52
trazem à prática clínica o uso do oftalmoscópio.
Imagem:
http://ca.wikipedia.org/wiki/Fitxer:Ophtalmoscope.JPG
Em 1880, Samuel von Basch, em
1896, Riva-Rocci, contribuíram para a construção de esfigmomanômetros. Korotkoff, em 1905, propôs o método
auscultatório para a determinação da pressão arterial.
Imagem:
http://ecg.med.br/tensao-arterial-a-historia-e-tecnica
Freud, em 1890/1930, publicou o
livro “Interpretação dos sonhos”, possibilitando a compreensão de aspectos
psicodinâmicos que envolvem a relação
médico-paciente.
Imagem:
http://juarez-chagas.blogspot.com.br/2008/09/freud-alm-da-alma-ii.html
Referência:
PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos. Semiologia
médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
CASO CLÍNICO I:
CASO CLÍNICO I:
Anamnese:
Identificação: MDL; 36 anos; feminina; negra; católica;
caixa de supermercado; solteira; natural de Curitiba-PR; reside no Bigorrilho
(Curitiba). Referência: o próprio paciente
Queixa Principal: “Fraqueza e cansaço”.
História da Moléstia Atual: paciente refere astenia nos dois
últimos meses. O quadro persiste ao longo de todo o dia, apresenta piora ao
realizar atividades físicas e está associado a situações de vertigem, aumento
do volume abdominal e artralgia das metacarpofalangeanas de ambas as mãos. Nega
febre, sintomas gastrointestinais, anorexia, emagrecimento, dispnéia ou outros
sintomas associados. Refere que seus familiares observaram uma alteração na cor
de sua pele, que estava mais amarelada.
História Mórbida Pregressa: Refere Lupus Eritematoso
Sistêmico (LES) há 15 anos. Nega outras
comorbidades, cirurgias/internamentos anteriores, alergias e transfusões
sanguineas. Em uso de Cloroquina 175mg/dia.
História Mórbida Familiar: Refere que a mãe possui
hipotireoidismo.
Condições e Hábitos de Vida: Nega tabagismo e etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com o esposo e as duas filhas.
Refere alteração na sua rotina, pois apresenta dificuldades para realizar suas
atividades diárias devido à artralgia e especialmente a astenia.
Revisão de Sistemas: Não há outras queixas pertinentes.
Exame físico:
Geral: paciente em regular estado geral, ictérica,
hidratada, alerta. PA: 130X90, Pulso: 104, FR: 22, T: 37,2oC. Ausência de
queilite angular, alterações ungueais, petéquias e vitiligo. Língua está
papilada.
Cabeça e pescoço: Mucosas úmidas, mas hipocoradas. Ausência
de linfonodomegalias.
Aparelho respiratório: paciente taquipnéica, com som claro
atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: bulhas cardíacas rítmicas e
normofonéticas. Sopro sistólico em ejeção, foco mitral, grau 2.
Abdome: abdome levemente globoso, ruídos hidro-aéreos
presentes, flácido, hepatimetria normal, baço palpável 2cm abaixo do rebordo
costal direito, não apresenta outras massas palpáveis. Encontra-se indolor a
palpação superficial e profunda. Som timpânico a percussão.
Muscular-esquelético: artrite nas 2ª e 3ª metacarpofalangeanas da mão esquerda e
3ª da mão direita.
Neurológico:
sensibilidade vibratória preservada e teste de Romberg negativo.
Membros: sem edema, pulsos periféricos presentes, panturrilhas
livres, perfusão normal.
Exames complementares:
1) Hemograma:
Hemácias: 3,2milhões/mcl (4 a 5,5), Hb: 11g/dl (12 a 16),
VG: 32% (36 a 47). VCM: 80fl (80-100); HCM: 27pg (27 a 32); CHCM: 30% (30 a
36). Leucócitos: 5.700/mcl (4.000-10.000). Plaquetas: 225.000/mcl (120.000 a
400.000).
Poiquilocitose +, Policromatofilia +, Ponteado basofílico +,
Esferócitos +, auto-aglutinação.
2) Bilirrubina
Indireta encontra-se aumentada.
3) Ferro, TGO, TGP,
creatinina, TSH e T4 livre normais.
Quais são as hipóteses diagnósticas que você pensaria?
Quais são as hipóteses diagnósticas que você pensaria?
Considerando a intensa astenia, podemos pensar em:
Anemia
<!--[if !supportLists]-->a.
<!--[endif]-->Está com fraqueza, vertigem
<!--[if !supportLists]-->b.
<!--[endif]-->LES em atividade: pode levar a alterações
hematológicas
<!--[if !supportLists]-->c.
<!--[endif]-->Icterícia e esplenomegalia (sugere anemia
hemolítica)
<!--[if !supportLists]-->d. Língua papilada, sem queilite angular (se
estivesse presente, poderia sugerir uma anemia carencial)
<!--[if !supportLists]-->e. Sem alterações ungueais como coiloniquia (se
estivesse presente poderia sugerir anemia ferropriva)
<!--[if !supportLists]-->f. Ausência de vitiligo, sensibilidade vibratória
normal e Romberg negativo (não sugere deficiência de vitamina B12)
<!--[if !supportLists]-->g.
<!--[endif]-->Ausência de petéquias (poderiam estar presentes
caso fosse uma anemia aplástica)
Problema de origem cardíaca:
Problema de origem cardíaca:
<!--[if !supportLists]-->a.
<!--[endif]-->Apesar da astenia, não apresenta dispnéia,
edema, hepatomegalia ou ingurgitamento jugular
Neoplasia
Neoplasia
<!--[if !supportLists]-->a.
<!--[endif]-->Apresar da astenias, não apresenta
emagrecimento, massas palpáveis ou quadro febril
Qual outro dado poderia auxiliar na confirmação do
diagnóstico?
Esta paciente apresenta uma Anemia
Normocrômica Normocítica. Na vigência deste tipo de anemia, deve-se
procurar diferenciar se há aumento ou diminuição dos reticulócitos.
Quando os reticulócitos estão
normais ou diminuídos, pensar em uma doença crônica ou na insuficiência de
algum órgão ou em doenças da medula óssea (neste caso terá uma pancitopenia).
Quando os reticulócitos estão aumentados, pensar em anemia hemolítica ou
hemorragia.
Reticulócitos: 13% (até 4,5)
Solução do caso:
A paciente queixa-se de fraqueza,
ao exame físico apresenta esplenomegalia, icterícia (confirmada pelo exame
laboratorial) e aumento na FC e FR (compensatórios da anemia). Como é uma anemia
normocrômica normocítica e os RETICULÓCITOS ESTÃO AUMENTADOS, deve-se pensar em
uma anemia hemolítica ou hemorragia. Como o exame clinico e laboratorial não
sugerem anemia ferropriva, é provável que não seja uma hemorragia gerando perda
de ferro. Sendo assim, trata-se de uma anemia hemolítica: o hemograma também apresenta
ESFERÓCITOS, que são hemácias esféricas que perderam seu formato bicôncavo (sugere
hemólise) e AUTOAGLUTINAÇÃO, que sugere a presença de anticorpos ligados á
hemácia (etiologia auto-imune).
Neste caso, a paciente apresenta
uma anemia hemolítica adquirida secundária ao Lúpus Eritematoso Sistêmico. A
anemia hemolítica pode ser hereditária, por defeito intrínseco das hemácias, ou
adquirida. As anemias hemolíticas adquiridas podem ocorrer a partir de
processos auto-imunes (como no caso da nossa paciente), por fragmentação/trauma
das hemácias (Ex: prótese valvar), adquiridas por infecções (Ex: malária),
entre outras causas.
Este tipo de anemia apresenta-se
com a tríade clássica de: 1) Anemia normocrômica normocítica; 2) Icterícia por
Bilirrubina indireta; 3) Esplenomegalia.
Conduta?
No caso desta paciente, o que
poderia ser feito é um controle mais adequado da atividade do seu Lúpus com
Prednisona, por exemplo.
Referências:
HARRISON,
Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison manual de medicina. 17. ed.
Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos. Semiologia
médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
TOY, Eugene C.; PATLAN JR, John T. Casos clínicos em
medicina interna. 3.ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
CURIOSIDADE:
SÍMBOLO DA MEDICINA
Você sabia que dois símbolos têm
sido usados em conexão com a medicina? O SÍMBOLO DE ASCLÉPIO E O
SÍMBOLO DE HERMES.
O Símbolo de Asclépio é aquele que todos
já devem conhecer: um bastão com uma serpente em volta.
Na mitologia
grega, Asclépio tornou-se um médico famoso. Curava os doentes que o procuravam
e ressuscitava os que ele já encontrava mortos. Visto como um transgressor dos
limites da medicina foi, então, fulminado com um raio por Zeus. Depois disso,
foi cultuado como deus da medicina, tanto na Grécia, como no Império Romano.
Segundo Rezende, em
sua obra “Sombra do Platano: crônicas de história da medicina”, não há
unanimidade de opiniões entre os historiadores da medicina sobre o simbolismo
do bastão e da serpente. As seguintes interpretações têm sido admitidas em
relação ao bastão: árvore da vida, com o seu ciclo de morte e renascimento; símbolo
do poder, como o cetro dos reis e o báculo dos bispos; símbolo da magia, como a
vara de Moisés; apoio para as caminhadas, como o cajado dos pastores. Em
relação à serpente: símbolo do bem e do mal, portanto da saúde e da doença; símbolo
da astúcia e da sagacidade; símbolo do poder de rejuvenescimento, pela troca
periódica da pele; ser ctônico, elo entre o mundo visível e invisível.
Já o Símbolo de Hermes, chamado caduceu,
que consiste em um bastão mais bem trabalhado, com duas serpentes dispostas em
espirais ascendentes, simétricas e opostas, e com duas asas na sua extremidade
superior, foi introduzido mais tardiamente como simbologia da medicina. Hermes,
na mitologia grega, é o deus do comércio, dos viajantes e das estradas. Então, pergunta-se: por que o símbolo do deus
do comércio passou a ser usado também como símbolo da medicina?
Em resumo, o deus
Thoth, da mitologia egípcia, foi assimilado a Hermes e, desse sincretismo entre
a civilização grega com a egípcia, resultou a denominação de Hermes egípcio ou
Hermes Trismegistos (três vezes grande), dada ao deus Thoth (deus do
conhecimento, da palavra e da magia). O sincretismo entre Hermes da mitologia
grega com Hermes Trismegistus resultou no emprego do caduceu como símbolo deste
último, tendo sido adotado como símbolo da alquimia. Da alquimia o caduceu
teria passado para a farmácia e desta para a medicina. Acredita-se que outro
fato que colaborou para estabelecer a confusão entre os dois símbolos foi a
atribuição do nome Caduceu também ao bastão de Asclépio, criando-se uma
nomenclatura binária de caduceu comercial e caduceu médico. Diversos outros
fatos históricos contribuíram para esta confusão entre os símbolos médicos.
Há muita
polêmica envolvida na legitimidade desta simbologia. Há os que defendem o
Símbolo de Hermes, dizendo que possui raízes na mitologia e simboliza
conhecimento, sabedoria, presteza e habilidade. E há os que dizem que é um símbolo
evocativo da situação atual da medicina, em que os aspectos econômicos e
comerciais da saúde se sobrepõem aos aspectos humanos.
Referência: Rezende, J. M. Sombra do Platano: crônicas de
história da medicina. FAP-UNIFESP, 2009.
viva a semio
ResponderExcluiranemia (normo-normo), icterícia,esplenomegalia- poderia se tratar de uma anemia hemolítica, podendo ter relação com a cloroquina.
ResponderExcluirOu até mesmo anemia hemolítica pelo próprio LES.
ResponderExcluirBoas hipóteses!! E o que vocês pensam que poderia contribuir para direcionar o raciocínio diante de uma anemia normocítica normocrômica?
ResponderExcluirTa meio fácil esse caso clínico II...
ResponderExcluircetoacidose diabética, por descompensação de infecção de trato urinário alto.
hipovolemia com psedu-hiponatremia pela osmolaridade elevada/hiperglicemia
Legal a sua hipótese. Mas o que o fez ter certeza que é cetoacidose diabética? Lembrar que nos pacientes diabéticos, especialmente, temos que considerar cada aspecto de sua história e exame físico para não deixar passar nada. As patologias podem não se apresentar da forma usual nestes pacientes. Não pensaria em mais nenhum diagnóstico diferencial?
ResponderExcluirCrises hipertensivas causadas por feocromocitoma??
ResponderExcluirÓtima hipótese! Confira as outras hipóteses ali acima.
ResponderExcluirinsuficiencia adrenal primária
ResponderExcluirO que fez pensar em Insuficiência Adrenal? O que poderia estar causando uma Insuficiência Adrenal + sintomas respiratórios e um RX com aquele padrão?
ResponderExcluircaso VI é um belo de um IAM... quase todas as derivações com supra ST
ResponderExcluirEste é o principal diagnóstico diferencial! Mas, não é o diagnóstico deste caso. Este caso é uma PERICARDITE. Também faz supra ST no eletrocardiograma. Paciente jovem com esta clínica e ausculta de atrito pericárdico, lembrar desta hipótese!
ResponderExcluircaso VIII : TEP, pediria uma angiotomo
ResponderExcluirDiante de uma dispnéia súbita, deve-se sim considerar um TEP. Mas neste caso, a paciente apresentava a tríade clássica de tamponamento cardíaco: hipotensão arterial, abafamento de bulhas cardíacas, ingurgitamento jugular. Além disso, passou por um quadro de pericardite há uma semana, que pode evoluir com tamponamento cardíaco. Diante deste quadro, o ideal seria pedir uma ecocardiografia para identificar se há presença de liquido no espaço pericárdico.
ResponderExcluirAparentemente AVE isquêmico por êmbolo da FA. Exames complementares pediria: glicemia, TAP e RNI (caso esteja tomando warfarina), KPTT (para aproveitar) e o mais importante TC de crânio.
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