VOCÊ
SABE QUAL É A ORIGEM DO TERMO “BEM-HUMORADO”?
Antigamente, acreditava-se
que o bom funcionamento do organismo dependia do equilíbrio de quatro fluídos
(humores): sangue, linfa, bile amarela e bile negra. Quando um destes humores
predominava, comandava o temperamento da pessoa.
Uma pessoa “sanguínea” era
ativa, enérgica. Uma “biliosa” já era chata, amarga. O papel do médico era de
promover o equilíbrio entres os humores.
Imagem: ricardocosta.com
Scliar, M. O livro da medicina.
São Paulo: Schwarcz, 2000.
CASO CLÍNICO IV:
Anamnese:
Identificação: Nome: RT;
Idade: 25 anos; Sexo: Feminino; Etnia: Caucasiano; Religião: evangélica;
Profissão: advogada; Estado civil: Solteiro; Naturalidade: Curitiba-PR;
Residência: Bigorrilho – Curitiba; Referência: a própria paciente.
Queixa Principal: “Distensão
abdominal”.
História da Moléstia Atual: Paciente
refere ter iniciado há 7 meses com distensão abdominal associada a dor
abdominal do tipo cólica, leve, episódica, em baixo ventre. Refere também muita
flatulência e eructação. Refere melhora do quadro com a evacuação e piora
pós-prandial e em período menstrual. Ultimamente tem observado alterações em
seu hábito intestinal. As fezes têm sido eliminadas fragmentadas em pequenos
pedaços, com muco e com uma sensação de eliminação incompleta. Por vezes
apresenta episódios de diarréia. Nega pirose, náusea, vômito, astenia, febre,
eliminação de sangue nas fezes, alteração no peso, lesões cutâneas, distúrbios
articulares.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância. Refere como comorbidade atual apenas depressão. Passou por
cirurgia plástica das mamas aos 21 anos. Nega outras cirurgias, internamentos,
alergias e transfusão. Em uso de: escitalopram 15mg.
História Mórbida Familiar: Refere que
o pai e mãe possuem gastrite. Avó materna com câncer de mama aos 55 anos. Nega
história de câncer intestinal na família.
Condições e Hábitos de Vida: nega
tabagismo e etilismo. Possui alimentação com horário regular e refere
alimentar-se de forma equilibrada (ingere muitas frutas, verduras). No entanto,
diz extrapolar um pouco na ingesta de doces.
Perfil Psicosocial: Mora com
os pais. Entende a doença como sendo resultado do estresse pelo qual passa em
seu trabalho.
Revisão de Sistemas: Não há outras queixas
pertinentes.
Exame físico:
Geral: paciente em bom estado geral, corada, hidratada, LOTE.
PA: 120X80, Pulso: 78, FR: 16, T: 36,1C
Cabeça e pescoço: mucosas úmidas e coradas.
Sem linfonodomegalia. Jugulares não ingurgitadas. Glândula tireóide sem
alterações.
Aparelho respiratório: paciente eupnéica, com som
claro atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: bulhas cardíacas rítmicas e
normofonéticas. Sem sopros.
Abdome: globoso, distendido, RHA aumentados, flácido,
timpânico a percussão, dolorido a palpação difusa superficial e profunda, particularmente
em hipogástrio, ausência de massas palpáveis. Hepatimetria 10cm.
Membros: ausência de edema, pulsos presentes, perfusão
normal. Não apresenta lesões cutâneas ou alterações articulares.
Exame complementares:
- Hemograma:
Hb: 13
Leucocitos: 8.000
Plaquetas: 250.000
- VHS: <10mm
- TSH, T4 livre: normais
- Parasitológico de fezes:
negativo.
- Ausência de sangue oculto
nas fezes.
Pergunta:
1.
Quais sinais e sintomas seriam determinantes
para uma investigação com outros exames complementares?
2.
Quais seriam os diagnósticos diferenciais?
Critérios
diagnósticos para SII:
Resposta:
1.
Atenção para os sinais de alerta que nos
fazem pensar em doenças orgânicas e não funcionais: anemia, leucocitose,
aumento de VHS, alteração metabólica, perda de peso, início em paciente >50
anos, sintomas noturnos, Hx familiar de câncer colorretal, RCUI, Doença de
Crohn, Doença celíaca, epidemiologia de doenças infecciosas, diarréia ou
constipação grave, sangramento a evacuação, artrite, dermatite, febre,
enterorragia ou sangue oculto, melena, ulceras orais, massa abdominal.
2.
Diagnósticos diferenciais: Dor em área
epigástrica ou periumbilical deve ser diferenciada de doença do trato biliar,
úlcera péptica, isquemia intestinal, câncer de pâncreas e estomago. A dor em
baixo ventre deve atentar para o diferencial de doença diverticular do colo,
doença inflamatória intestinal e câncer de colo. A dor pós-prandial acompanhada
por distensão, náusea e vômito sugere gastroparesia ou obstrução intestinal
parcial. Pode-se pensar também em infestações por parasitas. Quando a diarréia
representa a queixa principal, diferenciar de deficiência da lactase, uso
abusivo de laxativos, má absorção, doença celíaca, hipertireoidismo, doença
inflamatória intestinal, doença infecciosa. Quando a queixa predominante é
constipação, lembrar também de
medicamentos causando efeitos colaterais (anticolinérgicos, anti-hipertensivos,
antidepressivos), hipotireoidismo, hipoparatireoidismo, porfiria intermitente
aguda e intoxicação por chumbo.
Diagnóstico:
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL
A síndrome do intestino
irritável (SII) é um distúrbio
intestinal funcional caracterizado por dor ou desconforto abdominal e hábitos
intestinais alterados na ausência de anormalidades estruturais. Este distúrbio
é mais prevalente em mulheres e acomete cerca de 10 a 20% de adultos e
adolescentes no mundo. A patogenia da SII ainda não é totalmente conhecida, mas
já foram evidenciados mecanismos de hipersensibilidade visceral (respostas
sensoriais exageradas à estimulação visceral) e alterações motoras.
A clínica deste distúrbio se
apresenta com dor abdominal, que é
altamente variável, frequentemente episódica, do tipo cólica, mas pode ser
constante. Pode ser leve ou intensa, exacerbada quando o paciente come ou por
estresse emocional e melhora com a eliminação de gases ou fezes. Agravamento
dos sintomas nas fases pré-menstrual e menstrual. Outro sintoma é a alteração do hábito intestinal. O
padrão mais comum é uma alternância entre constipação e diarréia, podendo haver
a predominância de um destes padrões. As fezes podem ser acompanhadas pela
eliminação de muco. A maioria dos pacientes também refere sensação de evacuação
incompleta, distensão abdominal,
flatulência e eructação. Cerca de 25 a 50% dos pacientes queixam-se também de
dispepsia, pirose, náusea e vômitos.
Dor ou desconforto abdominal
recorrente pelo menos 3 dias por mês nos últimos 3 meses associado a dois ou
mais dos seguintes (com inicio dos sintomas pelo menos 6 meses antes do
diagnóstico):
1.
Melhora com a defecação
2.
Inicio associado a uma mudança na frequência
das evacuações
3.
Inicio associado a uma mudança no formato
(aspecto) das fezes
Atenção para os sinais de
alerta que nos fazem pensar em doenças orgânicas e não funcionais: anemia,
leucocitose, aumento de VHS, alteração metabólica, perda de peso, início em
paciente >50 anos, sintomas noturnos, Hx familiar de câncer colorretal,
RCUI, Doença de Crohn, Doença celíaca, epidemiologia de doenças infecciosas, diarréia
ou constipação grave, sangramento a evacuação, artrite, dermatite, febre,
enterorragia ou sangue oculto, melena, ulceras orais, massa abdominal.
Diagnósticos diferenciais:
Dor em área epigástrica ou periumbilical deve ser diferenciada de doença do
trato biliar, úlcera péptica, isquemia intestinal, câncer de pâncreas e
estomago. A dor em baixo ventre deve atentar para o diferencial de doença
diverticular do colo, doença inflamatória intestinal e câncer de colo. A dor
pós-prandial acompanhada por distensão, náusea e vômito sugere gastroparesia ou
obstrução intestinal parcial. Pode-se pensar também em infestações por
parasitas. Quando a diarréia representa a queixa principal, diferenciar de
deficiência da lactase, uso abusivo de laxativos, má absorção, doença celíaca,
hipertireoidismo, doença inflamatória intestinal, doença infecciosa. Quando a
queixa predominante é constipação, lembrar também de medicamentos causando efeitos
colaterais (anticolinérgicos, anti-hipertensivos, antidepressivos), hipotireoidismo,
hipoparatireoidismo, porfiria intermitente aguda e intoxicação por chumbo.
Os exames complementares vão
depender da suspeita clínica. Podem incluir hemograma, VHS, parasitológico de
fezes, pesquisa de sangue oculto nas fezes, testes com dietas isentas de
lactose ou glúten, colonoscopia, biópsia intestinal.
Referências:
HARRISON, Tinsley Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison
manual de medicina. 17. ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
PORTO, Celmo Celeno; PORTO,
Arnaldo Lemos. Semiologia médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2011.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
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