CURIOSIDADE:
Quais são esses
sinais e representam em conjunto qual doença?
DOENÇA DE GRAVES:
1) Oftalmopatia de
Graves:
Essa condição é também denominada
oftalmopatia associada à tireoide, visto que ocorre na ausência de Doença de
Graves em 10% dos pacientes. Dessa última parte a maioria exibe hipotireoidismo
autoimune ou é portador de anticopos tireoidianos.
Está presente em 20-40% dos casos
de Doença de Graves. Os sinais mais frequentes da oftalmopatia são a retração
palpebral e o edema periorbitário. Embora um menor grau de retração palpebral
(1-2 mm) possa dever-se a hiperatividade simpática e, portanto, ocorrer em qualquer
causa de hipertireoidismo, é provável que uma retração mais marcante se deva à
oftalmopatia de Graves. Outros sinais são o edema e hiperemia conjuntival,
exoftalmia ou proptose bilateral (aumento do tecido retrobulbar) e a diplopia
(inflamação e edema dos músculos extraoculares em 5 a 10%). Raramente, pode
ocorrer a compressão do nervo óptico no ápice da órbita que pode provocar
defeitos visuais.
2) Dermopatia
Tireoidiana:
É encontrada em menos de 5% dos
pacientes, geralmente em associação com oftalmopatia moderada a grave e
acropatia. A lesão é descrita como mixedema pré-tibial, graças ao acúmulo de
glicosaminoglicanos. Apresenta-se em placas e o aspecto é em “casca de
laranja”, porém com colaração violácea. Apesar de serem mais frequentes na
sobre as superfícies anterior e lateral da perna, as alterações cutâneas podem
ocorrer em outros locais, particularmente após traumatismos. Pode haver um
comprometimento extenso, simulando elefantíase.
3) Acropatia
Tireoidiana:
Pode ser encontrada em 1% dos
pacientes e é representada pelo baqueteamento digital. Está fortemente
correlacionada com a dermopatia. Caso não haja correlação deve-se procurar por
outras causas de hipocratismo digital como DPOC, cirrose hepática, cardiopatias
congênitas cianóticas, neoplasias malignas pulmonares.
4) Unhas de Plummer:
Caracterizadas pelo deslocamento
da porção distal da unha do leito ungueal.
Referências Bibliográficas:
NEVES, C.; ALVES, M.; DELGADO, J. L.; MEDINA, J. L.
Doença de Graves. Arquivos de Medicina, v. 22, n. 4/5, p. 137-146, 2008.
HARRISON, T. R.; LONGO, D. L. Harrison: medicina interna. 18. ed. Porto
Alegre: AMGH Ed., 2013.
CASO
CLÍNICO IV:
Identificação:
21 anos, feminino, branca, solteira, natural e residente de Curitiba-PR,
operária fabril.
QP: “Fraqueza”
HMA: Paciente
iniciou há dois meses quadro de astenia associado a emagrecimento com anorexia
de 5kg (62kg para 57kg), fraqueza ao levantar, depressão, perda da libido,
vômitos 2x/semana, febre baixa, geralmente de 37,8°C, dor abdominal difusa, de
caráter inespecífico, de moderada intensidade, de duração intermitente, sem
fator de alívio ou de piora. Nega tosse, sudorese noturna, dispneia, alteração
nos hábitos intestinais.
HMP: Nega
doenças na infância, operações e internamentos anteriores. Nega TB anterior, doenças
auto-imunes e outras morbidades. Nega uso de medicamentos contínuos.
HMF: Pai
vivo, 55 anos, hipertenso. Mãe viva, 51 anos, sem morbidades. Nega história de
Câncer na família.
CHV: Nega
hábitos alcoólicos, tabagismo e tóxicos. Nega casos próximos de tuberculose.
RS: Pele:
escurecimento de pregas palmares e lábios.
EXAME
FÍSICO:
Geral: Paciente
emagrecida em REG, LOTE, anictérica, desidratada (++/4+), normocorada. PA
sentada: 100/60mmHg; em pé: 65/40mmHg; pulso: 110bpm; FR: 16rpm; T: 36,2°C.
Pele: Seca
e ausência de lesões. Perda dos pelos axilares. Hiperpigmentação de pregas
palmares.
C/P: Conjuntivas
normocoradas, escleras anictéricas, línguas papiladas, vasos sublinguais finos,
hiperpigmentação de lábios e mucosa oral. Ausência de linfonodomegalias. Jugulares não ingurgitadas.
CPP: MV
presentes bilateralmente e simétricos, sem RA.
ACV: Bulhas
cardíacas taquicárdicas normofonéticas sem sopros.
Abdômen: globoso,
flácido, RHA presentes. Ausência de dor ou massas a palpação superficial e
profunda e a descompressão brusca. Baço e fígado não palpáveis.
EXAMES
COMPLEMENTARES:
Hemoglobina: 12.8g/dl
Leucócitos: 7.400
·
Eosinófilos 11% (N: 40-600)
·
Basófilos 0% (N: 0-100)
·
Linfócitos 44% (N: 1500-3500)
·
Monócitos 4% (N: 200-900)
·
Segmentados: 39% (N: 2500-7500)
·
Bastões: 2% (0-900)
Plaquetas: 264.000 (N: 120.000-400.000)
VHS: 11 mm (N 0-10 mm)
Proteína C: negativa
Sódio: 130 mmol/L (N: 135-145)
Potássio: 6.8 mmol/L (N: 3,5-5,3)
Cálcio, magnésio, fósforo normais
Provas de função hepática, creatinina, ureia,
coagulação, glicemia de jejum normais.
Parâmetros plasmáticos endócrinos:
·
ACTH: 2302.0 pg/ml (N: 7.0-51);
·
Cortisol (manhã e tarde): <0.2 mg/dl (N: 4.3-22.4);
·
Aldosterona: indetectável (N: 10-160 pg/ml);
·
Renina: 969.0 pg/ml (N: 3.6-20.1pg/ml)
·
TSH: 3,2 (N: 0,3-3)
·
T4L: 0,7 (N: 0,6-1,8)
HbsAg, anti-HIV, anti-CMV e VDRL negativos.
BK no suco gástrico e urina: negativos
PPD: negativo
Ecografia abdominal e a radiografia do tórax:
normais.
TAC de abdômen: atrofia bilateral das adrenais sem lesões
expansivas ou calcificações.
Qual o
provável diagnóstico?
Qual o
motivo para hiperpigmentação?
RESPOSTA AO CASO CLÍNICO IV:
O diagnóstico é doença de Addison ou insuficiência adrenal
primária. As principais causas dessa doença são adrenalite autoimune e
tuberculose. No entanto, a principal causa de insuficiência adrenal é a forma
secundária (ACTH baixo) decorrente do uso crônico de glicocorticoides exógenos.
As suprarrenais são as glândulas
endócrinas mais frequentemente acometidas em pacientes com SIDA, pois o
envolvimento pode ser decorrente de infecções oportunistas (TB, CMV,
micobactérias atípicas, micoses), drogas (rifampicina, cetoconazol) e a lesões
metastáticas (sarcoma de Kaposi, linfomas).
O Paracoccidioides brasilienses
tem sido observado em regiões brasileiras onde esta micose é endêmica (no
Paraná inclusive). Existem outras causas como hiperplasia adrenal congênita,
adrenoleucodistrofia e síndromes poliglandulares autoimunes.
As manifestações clínicas da
insuficiência adrenal primária baseiam-se na deficiência dos hormônios. A
deficiência de glicocorticoides (astenia, perda de peso, anorexia, náuseas e
vômitos, hipotensão arterial); mineralocorticoides (avidez por sal,
hipovolemia, hipotensão, hipotensão ortostática, hiponatremia, hipercalemia e
acidose metabólica leve) e androgênios (amenorreia, redução da pilificação
axilar e corporal, diminuição da libido nas mulheres). Sintomas psiquiátricos
podem estar presentes como depressão, psicose, alteração de memória e confusão
mental. As manifestações inicias da doença geralmente são náuseas, vômitos,
anorexia com perda ponderal e dor abdominal que pode ser tão intensa a ponto de
simular abdômen agudo.
A hiperpigmentação cutaneomucosa
é um achado clássico do exame físico na doença de Addison, uma vez que decorre
do excesso de ACTH, beta lipotrofina e, possivelmente, beta MSH, todos
componentes da molécula precursora POMC. Esse excesso leva a estimulação dos
melanócitos. Pode ser generalizada ou notada somente em torno dos lábios,
gengiva, linhas da palma da mão, leito ungueal, mamilos, em áreas expostas ao
sol e sujeitas ao trauma. As cicatrizes após a instalação da doença também
tornam-se pigmentadas.
Os achados laboratoriais
inespecíficos auxiliam muito na suspeita diagnóstica. Como hiponatremia, hipercalemia, tendência à hipoglicemia, além de
anemia normocítica normocrômica, eosinofilia, lincocitose relativa e uma
discreta neutropenia. A hipoglicemia é incomum, mas pode acometer indivíduos
expostos a várias horas de jejum e infecções. Já os testes mais específicos são
os testes hormonais, a princípio deve-se utilizar a dosagem de cortisol basal
das 8h, sendo: um valor menor que 10µg/dL muito sugestivo; um valor inferior a
3-5µg/dL quase patognomônico; níveis superiores a 18-20µg/dL tornam o
diagnóstico improvável. Para níveis intermediários é necessária a realização do
teste de estímulo com ACTH. Se após administração de ACTH, ocorrer um pico de
cortisol < 18-20µg/dL confirma o diagnóstico. Na doença de Addison, o ACTH
excede o limite superior do normal e usualmente está acima de 200 pg/mL. Além
disso, pode realizar a dosagem de anticorpos anticórtex adrenal (ACA), sendo a
enzima 21-hidroxilase o principal antígeno desses anticorpos. O TSH pode estar
ligeiramente elevado, devido ao fato do cortisol participar do feedback
negativo desse hormônio.
José
Vitor Martins Lago
Considerando a hiperpigmentação cutânea um sintoma-guia, poderiamos pensar em afecções que geram este quadro. Dentre elas, o distúrbio que tem associado fraqueza, emagrecimento, hipotensão postural,hiponatremia e hiperpotassemia, cortisol baixo e ACTH aumentado pode ser a Insuficiência Adrenal primária.
ResponderExcluirÓtima resposta!
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