DIGITÁLICO: POR QUE
ESTE NOME?
A palavra digital refere-se a
dedo (“impressão digital”). O remédio se
chama digitalina ou digitálico, pois é feito de uma planta conhecida como
digital ou dedaleira, que dá uma flor cuja forma lembra um dedinho. Seu uso foi
introduzido pelo médico William Withering ao observar benefícios em pacientes
com edema. Hoje, é amplamente utilizado
na cardiologia em pacientes com insuficiência cardíaca, por exemplo.
Referência:
Scliar, M. O livro da medicina. São
Paulo: Schwarcz, 2000.
CASO CLÍNICO V:
Anamnese
Identificação: MS; 38
anos; feminino; caucasiano; espírita; cozinheira; casada; natural de
Curitiba-PR; reside em Bigorrilho – Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Dor abdominal”.
História da Moléstia Atual: paciente
refere que há cerca de 2 meses iniciou com dor abdominal em QSD, intensa,
irradiada para a região dorsal, associada à náusea e vômito e febre (38,9), com
piora ao alimentar-se e alívio parcial com analgésicos. Nos últimos 10 dias
houve piora da dor, com surgimento de icterícia, colúria, acolia fecal e
intenso prurido cutâneo. Nega emagrecimento, alteração do hábito intestinal e
outros sintomas associados.
História Mórbida Pregressa: Nega
doenças da infância e comorbidades atuais. Passou por cirurgia de
apendicectomia há 20 anos. Nega outras cirurgias, internamentos e alergias. Em
tratamento para redução de peso (IMC:30) com fitoterápicos. Nega uso de outros
medicamentos.
História Mórbida Familiar: Refere que
o pai possui HAS.
Condições e Hábitos de Vida: Reside em
casa com esgoto e água encanada. Possui alimentação com horário irregular e
refere ingerir muita fritura. Nega tabagismo e etilismo.
Perfil Psicosocial: Mora com o
marido e seus dois filhos. Não pratica exercicios fisicos regularmente.
Revisão de Sistemas: Não há
outras queixas pertinentes.
Exame
físico:
Geral: paciente em
regular estado geral, corada, hidratada, ictérica (+++/4+), afebril, LOTE.
PA: 120X80, Pulso: 94, FR: 12, T: 36,1C
Cabeça e pescoço: mucosas
úmidas e coradas. Sem linfonodomegalia. Jugulares não ingurgitadas.
Aparelho respiratório: som claro
atimpânico a percussão, expansibilidade e FTV normais.
Aparelho cardiovascular: bulhas
cardíacas rítmicas e normofonéticas. Sem sopros.
Abdome: plano, RHA presentes,
flácido, timpânico a percussão, dolorido a palpação superficial e profunda de
QSD, sinal de Murphy +, ausência de massas palpáveis. Hepatimetria 9cm. Espaço de
Traube livre. Circunferência abdominal: 104 cm.
Membros: ausência
de edema, pulsos presentes, perfusão normal.
Exames complementares:
Hemograma:
Hb:
13,2
Leucócitos:
12.000 com desvio nuclear a esquerda.
Plaquetas:
250.000
Amilase e lipase: normais
Bilirrubina total: 18,2 mg/dl
Bilirrubina direta: 16,0 mg/dl
Gama GT: 110 u/l
Fosfatase alcalina: 1.140u/l
Urobilinogênio: negativo
US: cálculo em infundíbulo de vesícula biliar e dilatação
do ducto hepático comum.
Pergunta:
1. Quais são as possíveis causas de icterícia nos pacientes
com litíase biliar?
2. Quais outros exames podem contribuir com o diagnóstico
diferencial?
Resposta:
1.
As causas mais comuns de icterícia, nos
pacientes com litíase biliar, incluem coledocolitíase, papilite estenosante,
pancreatite aguda e neoplasias das vias biliares e pancreática associadas.
Raramente, a icterícia pode ser decorrente da Síndrome de Mirizzi.
2. Além da US, a Tomografia Computadorizada de abdome pode
sugerir o diagnóstico ao revelar cálculos na área do infundíbulo, próximo à
junção do ducto cístico com o colédoco, e dilatação das vias biliares acima do
local da compressão. A colangiopancreatografia retrograda endoscópica (CPRE)
tambem pode contribuir mostrando compressão ou estreitamento do ducto hepático
comum. Sua vantagem é de também ser utilizado
como terapêutico. Tem a ecoendoscopia, que pode ser mais acurada que a CPRE e a
colangioressonância que pode demostrar com precisão a dilatação biliar, a
obstrução, a localização dos cálculos, o grau de inflamação e possiveis
malformações anatômicas presentes.
Tomografia
computadorizada compatível com litíase, com dilatação de via biliar:
CPRE
mostrando ducto hepático comum e vias biliares dilatadas com alteração de
enchimento na junção do ducto cístico com coledoco:
Colangioressonância
com falha no enchimento na via biliar:
Imagens: Creuz,
PC. Hospital Geral de Jacarepaguá - Serviço de Cirurgia Geral: Síndrome de
Mirizzi.
Diagnóstico:
SÍNDROME
DE MIRIZZI
A síndrome de Mirizzi é uma
complicação rara em que um cálculo fica impactado no infundíbulo da vesícula
biliar ou no ducto cístico, causando compressão sobre o ducto hepático comum.
O quadro clínico é colecistite
aguda associada à colestase extra-hepática causada pela obstrução. Ou seja, vai
apresentar dor abdominal em QSD, intensa, podendo ser irradiada para a região
dorsal, associada à náusea, vômito e febre com piora ao alimentar-se + prurido
cutâneo generalizado, acolia fecal e colúria.
Laboratorial: aumento de
bilirrubina direta, aumento de fosfatase alcalina, aumento de TGO e TGP,
urobilinogenio negativo.
A imagem radiológica
demonstra compressão extrínseca do colédoco e pode ser observado cálculo grande
a nível do cístico. A suspeita radiológica desta síndrome pode ser permitida
quando se observa: a) a via biliar intra e extra-hepática dilatada acima do
ducto cístico; b) cálculo biliar no colo da vesícula ou ducto cístico; c)
vesícula biliar com paredes espessadas e contraídas; d) colédoco distal ao
cálculo com diâmetro normal.
Referência:
HARRISON, Tinsley
Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison manual de medicina. 17.
ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
Torres, OJM et al. Síndrome de Mirizzi. Revista do
Hospital Universitário/UFMA, 2002.
Dâmia Kuster Kaminski Arida
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