CURIOSIDADE:
Sinais de Insuficiência Aórtica:
Sabe-se que na presença de uma insuficiência aórtica
importante, a inspeção dos pulsos arteriais é informativa, principalmente pelos
amplos batimentos arteriais visíveis. Estas alterações traduzem o grande volume
sistólico ejetado na raiz da aorta.
Os sinais periféricos são numerosos e com epônimos, por isso
listados aqui:
2) Sinal de Quincke: pulso capilar visível.
3) Pistol Shot: sensação de choque à ausculta de certas
artérias como a pediosa.
4) Sinal de Duroziez: duplo sopro auscultado à compressão da
artéria femoral.
5) Duplo som de Traube: ausculta na artéria femoral de um
primeiro ruído tipo pré-sistólico e um segundo ruído correspondente à segunda
bulha.
6) Sinal de Minervini: pulsação na base da língua.
7) Dança Arterial: pulsações visíveis das carótidas;
8) Sinal de Musset (já citado em outra curiosidade): leves
oscilações da cabeça para baixo e para frente.
9) Sinal de Muller: pulsações sistólicas da úvula.
CASO
CLÍNICO XV:
ID:
feminino,
46 anos, branca, natural e residente de Curitiba-PR,
QP:
“Dor
no peito”
HMA:
Paciente
iniciou dor súbita em região retroesternal há 4 horas. Refere dor de grande
intensidade, em aperto, sem irradiação, de duração contínua, sem relação com
exercício físico ou estresse. Nega fator de alívio ou de piora. Como sintomas
associados apresenta também dispneia súbita concomitante ao início da dor, de
grande intensidade, em repouso e um episódio de síncope. Nega sudorese, febre,
palpitações, náuseas ou vômitos e tosse.
HMP:
Nega
operações ou internamentos anteriores. Paciente hipertensa em uso de enalapril
10mg 2x/dia e hidroclorotiazida 25mg 1x/dia e em terapia de endometriose há um
mês com uso de LHRH. Nega DM e dislipidemia. Nega alergias.
HMF:
Pai
faleceu aos 55 anos de IAM e mãe aos 60 anos de trombose. Irmão de 42 anos,
hipertenso.
CHV:
Tabagista
há 26 anos meio maço/dia. Nega etilismo ou tóxicos. Pratica exercícios físicos
3 vezes/semana durante 30 minutos. Viagem há semana para Goiânia de ônibus.
RS:
Vascular
periférico: edema de MID.
EXAME
FÍSICO:
GERAL:
Paciente
em REG, LOTE, anictérica, hidratada, normocorada, acianótica. PA: 90-60mmHg;
pulso: 120bpm; T: 37,0°C; FR: 28rpm; SO2: 83%.
C/P:
Mucosas
úmidas e coradas. Oroscopia normal. Ausência de sopros em região cervical
anterior. Jugulares ingurgitadas com a elevação de 45° da cabeceira.
TÓRAX:
MV
presente bilateralmente e simétrico sem RA.
ACV:
Bulhas
cardíacas taquicárdicas e com hiperfonese de P2 sem sopros.
ABDÔMEN:
globoso,
flácido com RHA presentes. Ausência de dor ou massas a palpação.
VASCULAR
PERIFÉRICO: Pulsos presentes, simétricos
bilateralmente. Edema com cacifo (+++/4+) de coxa direita com leve dor à
palpação. Sinal de Holmans negativo.
Quais
as principais hipóteses diagnósticas?
As principais hipóteses diagnósticas são IAM e TEP. A
paciente apresenta uma dor súbita retroesternal em aperto semelhante a uma dor
coronariana. Além disso, dispneia súbita e um episódio de síncope.
Fatores de risco para IAM: hipertensão, hx familiar de
infarto e tabagismo.
Fatores de risco para TEP: hipertensão, terapia hormonal, hx
familiar de trombose não esclarecida, tabagismo, viagem de longa duração há
menos de uma semana.
No exame físico, encontramos pressão arterial no limite
inferior, taquipneia, taquicardia, hipoxemia, ingurgitamento jugular, P2
hiperfonética e edema unilateral de membro inferior com dor à palpação. Sinais
mais compatíveis com TEP, como a sobrecarga aguda do ventrículo direito e o
estabelecimento de um choque obstrutivo.
EXAMES
COMPLEMENTARES:
ECG:
RX:
CPK (na admissão): 50 (até 165)
CK-MB (na admissão): 8 (até 25)
Qual o provável diagnóstico?
O acometimento pulmonar é central ou periférico?
O que observamos no ECG?
O que observamos no RX?
Quais os dois melhores exames para confirmação do
diagnóstico?
RESPOSTA AO CASO CLÍNICO XV:
O provável diagnóstico é Tromboembolismo Pulmonar (TEP)
caracterizada por uma obstrução arterial da circulação pulmonar por um ou
vários êmbolos. Os eventos estão relacionados quase sempre com Trombose Venosa
Profunda (TVP), principalmente nos vasos da pelve e da coxa. A fisiopatologia
da trombose está relacionada com a Tríade de Virchow: lesão endotelial,
hipercoagubilidade e estase sanguínea. Os principais fatores de risco para TVP
são: estados de hipercoagubilidade (fator V de Leiden, deficiência de antitrombina
III, etc); neoplasias; HAS; DPOC; viagens de longa distância, poluição do ar;
obesidade; tabagismo; consumo de grandes quantidades de carne vermelha;
contraceptivos orais, gravidez, reposição hormonal, cirurgias principalmente de
pelve e de MMII pelo tempo de imobilização, traumatismo, queimaduras, varizes,
policitemias, cardiopatias (ICC classe III e IV e FA) história prévia
individual ou familiar de TVP.
Quanto à apresentação clínica, o TEP é conhecido como o
“grande mascarado”. Isso, porque possui “n” diagnósticos diferenciais, por
exemplo, IAM, ICC, pneumonia, etc. A dispneia súbita é o principal sintoma e a
taquipneia é o principal sinal. Existem algumas características peculiares da
localização do TEP:
Embolismo central ou proximal: dispneia de início recente,
síncope, hipotensão com choque obstrutivo e dor retroesternal, decorrente de
isquemia do ventrículo direito¹.
Embolismo distal: dor pleurítica, tosse e hemoptise que se
correlacionam com o acometimento distal próximo a pleural.
1) À medida que a resistência vascular pulmonar aumenta, a
tensão do VD aumenta e provoca dilatação adicional e disfunção do ventrículo. A
contração do VD continua, mesmo após relaxamento do VE no final da sístole.
Isso ocasiona a projeção do septo interventricular para dentro do VE. Então, há
o comprometimento diastólico do VE, resultando em um baixo débito esquerdo.
Além disso, o aumento da tensão da parede do VD comprime a artéria coronária
direita, diminui a perfusão subendocárdica e pode precipitar, assim, isquemia
do miocárdio. Por fim, pode ocorrer colapso circulatório decorrente de choque
obstrutivo e morte.
Em relação ao ECG, a anormalidade clássica, porém pouco
frequente é, além da taquicardia sinusal, o sinal S1Q3T3 (onda S acentuada em
DI, onda Q em DIII e onda T isquêmica em DIII, como observado no ECG do caso
clínico). Talvez a anormalidade mais comum encontrada seja a inversão da onda T
nas derivações de V1 a V4.
Nesse RX, encontramos o Sinal de Palla, ou seja, o aumento
da artéria pulmonar descendente direita. Outros sinais eventualmente achados
são o de Westermark (oligoemia focal) e o sinal de Hampton (hipotransparência
periférica em forma de triângulo com ápice proximal, território perfundido pela
artéria obstruída). Outros achados inespecíficos são: consolidação,
atelectasia, derrame pleural, elevação diafragmática.
O principal exame que deve ser pedido numa suspeita de TEP é
a angiotomografia de pulmão, pois é um exame não tão invasivo, não tão caro e
com resultados semelhantes quando comparada à angiografia pulmonar. Apesar de a
última ser considerada padrão-ouro, fica reservada para casos não conclusivos e
para planejamento de procedimento de intervenção, como trombólise ou
embolectomia direcionada com cateter. Outros exames úteis são a cintilografia
pulmonar, US venoso, RM e ecocardiograma e o dímero D, que a única utilidade é
afastar diagnóstico, caso negativo.
JOSÉ VITOR MARTINS LAGO
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