“FAZER DIAGNÓSTICO É
FAZER JULGAMENTO”
Imagem: anamariabruni.blogspot.com
Ao discorrer sobre erros diagnósticos, Celmo Celeno Porto e
Fábio Zicker colocam a seguinte afirmação: “Fazer diagnóstico é fazer
julgamento”. Diante disso, relembram os princípios de Hutchinson, enunciados do
começo do século, para servir de apoio no julgamento dos dados clínicos e do
resultado dos exames complementares na prática médica:
1.
Não seja demasiado sagaz
2.
Não tenha pressa
3.
Não tenha predileções
4.
Não diagnostique raridades
5.
Não tome um rótulo por diagnóstico
6.
Não tenha prevenções
7.
Não seja demasiado seguro de si
8.
Não diagnostique simultaneamente duas doenças no
mesmo paciente
9.
Não hesite em rever seu diagnóstico, de tempo em
tempo, nos casos crônicos.
Referência:
PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos. Semiologia
médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
Veja, neste caso clínico, que a queixa principal (“dor
abdominal”) é a mesma do caso passado.
Anamnese:
Identificação: Nome: MSC; Idade: 70 anos;
Sexo: Feminino; Etnia: Caucasiano; Religião: Espírita; Profissão: aposentada;
Estado civil: Viúva; Naturalidade: Curitiba-PR; Residência: Bigorrilho –
Curitiba; Referência: o próprio paciente.
Queixa Principal: “Dor abdominal”.
Perfil Psicosocial: Mora sozinha em uma casa nos
fundos do quintal da filha. Passa o dia todo em casa e não pratica atividades
físicas.
Geral:
paciente em MEG, corada, hidratada, LOTE, fácies álgica.
PA:
100X70, Pulso: 104, FR: 18, T: 38,1oCAparelho respiratório: expansibilidade e FTV normais, com som claro atimpânico à percussão, MV + bilateralmente, sem ruídos adventícios.
Aparelho cardiovascular: bulhas cardíacas rítmicas e normofonéticas. Sem sopros.
Abdome: abdome distendido, ruídos hidro-aéreos diminuídos, som timpânico à percussão, rígido, doloroso a palpação superficial e profunda de epigástrio e região periumbilical, descompressão brusca dolorosa.
Membros: ausência de edema, perfusão normal e pulsos presentes.
Perguntas:
1. Quais são as hipóteses diagnósticas diante
deste quadro clínico?
2. Quais exames complementares podem ajudar
neste contexto ?
Resposta:
1.
Hipóteses diagnósticas
a. Isquemia
intestinal
b. Pancreatite
c. Víscera
perfurada (úlcera péptica),
d. Obstrução
intestinal aguda
e. Infarto
do miocárdio
f. Aneurisma
dissecante de aorta
2.
Exames complementares:
a.
Hemograma: leucocitose (>20.000)
b.
CPK-MB: aumentada
c.
Amilase e lipase: podem estar aumentadas
d.
Gasometria: acidose metabólica
e.
ECG: ausência de arritmias. Presença de
alterações sugestivas de infarto miocárdico antigo.
f.
Raio X abdome: edema de parede intestinal
g.
Angiografia: obstrução em artéria mesentérica
superior
Diagnóstico: ISQUEMIA MESENTÉRICA ARTERIAL OBSTRUTIVA
A isquemia intestinal é a lesão isquêmica dos tecidos
quando há perfusão insuficiente para as tecidos intestinais. É incomum, mas sua
mortalidade chega a ser maior de 50%. A isquemia pode ser de três tipos:
mesentérica arterial obstrutiva, mesentérica não obstrutiva e trombose venosa
mesentérica. No presente caso vamos nos ater a isquemia mesentérica arterial obstrutiva
(IMAO), que resulta da interrupção do fluxo sanguíneo por um êmbolo ou trombose
progressiva da via arterial que irriga o intestino. Os êmbolos vêm do coração
em 75% dos casos.
Os fatores de risco para isquemia arterial aguda incluem
fibrilação atrial, infarto agudo do miocárdio recente, cardiopatia valvar,
cateterização cardíaca ou vascular cardíaca.
A IMAO manifesta-se com dor abdominal aguda intensa,
constante, desproporcional as anormalidades apresentadas ao exame físico,
associada à náusea, vômito, diarreia transitória e fezes sanguinolentas. Ao
exame físico pode apresentar leve distensão abdominal e diminuição dos ruídos
peristálticos. Na evolução, pode progredir com peritonite e colapso
cardiovascular.
Os exames complementares que podem contribuir com o
diagnóstico são os laboratoriais (hemograma completo, bioquímica sérica, perfil
de coagulação, gasometria, amilase, lipase, ácido láctico, tipo sanguíneo e
prova cruzada e enzimas cardíacas), eletrocardiograma (arritmia? Pode ser a
fonte do êmbolo), radiografias abdominais (edema da parede intestinal, ar/perfuração?),
tomografia computadorizada, angiografia mesentérica, ecodoppler mesentérico.
Referências:
HARRISON, Tinsley
Randolph; FAUCI, Anthony S. Harrison manual de medicina. 17.
ed. Porto Alegre: AMGH Ed., 2011.
Virgini-Magalhães CE,
Mayall MR. Isqueuemia mesentérica. Revista Hospital Universitário
Pedro Ernesto. 2009;8(1):70-80
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