CASO CLÍNICO:
ANAMNESE
ID: B G K, 65 anos, Leito: 610-1, Natural de Cachoeira da
Sul/RS, Residente em Curitiba desde 2010, casado, profissional da construção
civil.
QP: “artrite”
HMA: paciente relata que há 8 anos iniciou com hipotonia em
membros superiores de inicio nas mãos, e deformidades nas falanges distais. No
mesmo ano evoluiu com hipotonia em membros inferiores, iniciando pelos pés.
Refere ainda parestesia em ambos os membros.
Relata ter iniciado tratamento para artrite, mas não soube relatar qual.
Há 5 anos relata piora dos sintomas. Permanece com
parestesia, mas com piora cerca de 1 vezes por semana. Refere ter derrubado
objetos e quedas enquanto caminhava e não se sente seguro quanto ao tônus.
Relata perda de sensibilidade térmica, tátil e vibratória. Nega tontura,
fatores de piora ou melhora.
HMP: Duas herniorrafias do mesmo lado, Hiperplasia nodular
da próstata, dislipidemia. Nega outras comorbidades. Não soube informar sobre
medicações contínuas.
HMF: Irmã com artrite reumatóide. Ambos os pais – óbito por
neoplasia (não soube informar qual).
CHV: Ex-tabagista 80 maços/ano – parou há 10 anos.
Ex-etilista 24 garrafas de cerveja/dia -
parou há 10 anos . Mora em apartamento.
PPS: 3 filhos, todos casados. Mora com a esposa . Ponto de
apoio – filhos.
RS: Hernia umbilical.
EXAME FÍSICO
Geral: REG, LOTE, longelíneo, mucosas hipocoradas,
anictérico, afebril.
Pulso: 80 bpm. T: 36C. FR: 16 mrpm. PA: 120/80 mmHg. Turgor cutâneo diminuido.
Tegumentar: Quirodáctilos de ambas as mãos com espasticidade
intensa em hiperflexão e deformidades (encurtamento das falanges distais , com
aspecto de “licked candy stick”). Pododáctilos em ambos os pés com deformidades,
como das mãos. Ambas as extremidades apendiculares apresentam a pele lisa, brilhante
e arredondada. Onicoatrofia em ambos os membros. Há presença de úlceras nas
falanges distais dos quirodáctilos e curativo.
Cabeça e Pescoço: Ectrópio inferior em ambos os olhos,
pterígio em olho dirieto. Sem mais anormalidades. Linfonodos impalpáveis.
Tireóide sem creptações.
Tórax: Inspeção: Tórax com formato normal e sem cicatrizes.
Palpação: expansibilidade torácica simétrica, presença de FTV bilateralmente.
Percussão: som claro pulmonar atimpânico. Ausculta: murmúrio vesicular presente
bilateralmente.
Cardiológico: Bulhas Cardíacas Ritmicas e Normo Fonéticas.
Ictus cordis não palpável.
Vascular: Pulsos periféricos presentes.
Abdome: Abdome flácido e indolor a palpação, com presença de
ruídos hidroaéreos. Ausência de hepato e esplenomegalia.
Neurológico:
Integridade de pares cranianos.
Reflexos: arreflexia
distal.
Força Muscular
Biceps D: 4+/5
E: 4+/5
Triceps D: 4+/5
E: 4+/5
Quadriceps D 4+/5
E
4+/5
Biceps femoral D 4+/5
E 4+/5
Reflexo cutâneoplantar em flexão plantar do hálux.
Teste de Romberg – positivo.
Index-nariz-Index – preservado com velocidade reduzida.
Teste da tração do pronador – preservado com velocidade
reduzida.
Comprometimento sensitivo em bota e luva, hipoestesia tátil,
térmica, vibratória, dolorosa.
Marcha escarvante.
QUAIS AS PRINCIPAIS HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS?
Anamnese realizada pela acadêmica Rebeca O. Camargo.
Hipóteses Diagnósticas:
Neuropatia alcoolica
Neuropatia por Mal de Hansen
Diagnóstico:
Neuropatia por Mal de Hansen - A
hanseníase, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae, bacilo
intracelular obrigatório, é endêmica no Brasil. Diagnóstico baseia-se no encontro
de lesões cutâneas típicas, espessamento de nervos periféricos e baciloscopia
positiva. Duas formas: tuberculóide,
relativamente benigno com alta resistencia ao bacilo; e virchowiana altamente
susceptível ao bacilo; e ainda as formas instáveis ou borderlines que
representam formas mistas. Clinicamente, lesões cutâneas múltiplas e difusas
ricas em bacilos e, sem tratamento, pode ocorrer disseminação da doença. O
comprometimento dos nervos periféricos ocorre através de processo inflamatório
causado pela ação direta do bacilo ou por reações imunológicas do organismo à
presença do bacilo, resultando em alterações sensitivas e motoras, responsáveis
pelas incapacidades e deformidades físicas. 3 tipos de acometimento
osteoarticulares: 1) artropatias neuropáticas ou de Charcot, 2) osteítes ou as
artrites sépticas específicas pela presença do bacilo intra-articular e 3)
osteítes ou artrites sépticas não-específicas, secundárias às infecções
piogênicas decorrentes das ulcerações cutâneas. O mecanismo etiopatogênico não
está bem elucidado, mas acredita-se que seja um estado reativo ao bacilo ou a
seus antígenos. As manifestações articulares ocorrem geralmente na vigência de
estados reacionais, sobretudo na reação tipo 2 (eritema nodoso hansênico). As
reações ocorrem antes, durante e mesmo após o tratamento da hanseníase, quando
se considera que houve a cura bacteriológica da doença. São recorrentes e, em
muitos pacientes, podem durar anos. A artrite relacionada ao eritema nodoso tem
início súbito, é predominantemente poliarticular, semelhante à apresentação
aguda da artrite reumatóide (AR). Com a instituição do tratamento específico ou
da reação, na maioria das vezes há remissão do quadro articular, porém, artrite
flutuante e persistente pode ocorrer apesar do tratamento. Nas mãos e nos pés,
são observados edema fusiforme do dígito afetado, rarefação óssea, cistos
únicos ou múltiplos localizados nas epífises ou diáfises, alargamento dos
forames de nutrição, necrose, periostite, osteíte e osteomielite. Tardiamente,
podem ocorrer fratura patológica e colapso epifisário.. A periosteíte leprosa
usualmente envolve as extremidades das falanges média e proximal nas mãos e nos
pés, a cabeça dos metatarsos.
(Pereira H.L.A. Avaliação por
imagem do comprometimento osteoarticular e de nervos periféricos na hanseníase.
Rev. Bras. Reumatol. vol.46 suppl.1 São
Paulo June 2006).
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