DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO
ANAMNESE:
ID.: F.O., 35 anos, sexo
masculino, caucasiano, casado, dois filhos, católico, residente em Campo Largo.
Q.P.: “formigamento e perda de
força muscular das mãos e pés”.
História Mórbida Atual:
Paciente relata que no início
de outubro de 2013 iniciou com parestesia e paresia simétricas em mãos e
antebraços, alega que cerca de dois dias depois os mesmos sintomas começaram a
surgir simetricamente também nos membros inferiores.
Nesse mesmo período, paciente
relata cefaleia holocraniana pulsátil seguida de diplopia, também refere ter
passado por sintomas como disfagia, náusea e sensação de desmaio (SIC). Alega
ter aferido a PA neste período, constatando que a mesma se encontrava em
170x110 mmHg.
Nega febre nesse período, nega
sinais cutâneos, refere profissão de sapateiro havendo manipulação de algumas
substâncias tóxicas.
História Mórbida Pregressa:
Paciente afirma ter passado por
uma intoxicação alimentar (SIC) há cerca de 1 semana antes dos sintomas, com
episódios de diarreia e febre.
Nega DM, HAS ou
tireoideopatias, refere transtorno de ansiedade, faz uso de fluoxetina 10 mg 1x
ao dia. Nega doenças infectocontagiosas, internamentos anteriores e transfusão
sanguínea.
História Mórbida Familiar:
Relata que sua mãe faleceu por
complicações do DM tipo I aos 33 anos. Afirma que possui 1 irmão com DM tipo I e
pai com HAS.
Nega problemas de origem
neurológica na família.
Condições e Hábitos de Vida:
Paciente é sapateiro, nega
tabagismo (porém convive com pessoas fumantes), nega alcoolismo. Mora em zona
rural, nega trabalho com defensivo agrícola.
Perfil Psicossocial:
NDN.
Revisão de Sistemas:
Após internamento refere dor em
região lombar não irradiada.
Outros Problemas Atuais:
NDN
EXAME FÍSICO
Dados Vitais:
PA: 120 x 80mmHg; T: 36,6°C;
Pulso: 74 bpm; FR: 14 mrpm.
Geral:
Paciente encontra-se vigil,
BEG, LOTE, escleróticas anictéricas e acianótica. Peso: 78 Kg, Altura: 1,75m,
IMC: 25,4 Kg/m².
Cabeça e pescoço:
Pupilas isocóricas e
fotorreagentes, linfonodos palpáveis em cadeias submandibulares direita e
esquerda, pequenos, móveis e indolores, tireóide sem crepitação, jugulares não
visíveis, à oroscopia sem hiperemia de faringe ou amigdalas, nenhuma alteração
encontrada.
Tórax:
Inspeção: eupneico.
Palpação: expansibilidade
torácica normal, FTV normal e simétrico.
Percussão: som claro pulmonar
atimpânico bilateral e simétrico.
Ausculta: MV normal e simétrico
bilateralmente, ausência de ruídos adventícios.
Cardiovascular:
Inspeção e Palpação: NDN.
Ausculta: bulhas cardíacas
rítmicas normofonéticas e sem sopros.
Vascular periférico:
Sem presença de equimose ou
edema. Pulsos periféricos equivalentes e normais ++/++++.
Abdome:
Inspeção:NDN.
Ausculta: RHA normais.
Percussão: timpanismo a
percussão, espaço de Traube livre. Submacicez hepática de 8 cm em linha
hemiclavicular direita e 4 cm em LME.
Palpação: abdome flácido,
globoso e indolor à palpação superficial e profunda, Murphy -, Blumberg -,
Rovising -, Giordano -.
Neurológico:
Funções Mentais:
Orientado em tempo e espaço,
aparenta boa memória, função cognitiva intacta e fala monocórdica.
Pupilas:
Pupilas isocóricas e
fotorreagentes, reflexo fotomotor direto e consensual funcionais.
Nervos Cranianos
N. I (olfatório)
Euosmia
N. II (oftálmico)
Testes de inatenção e
confrontação de campo visual satisfatórios.
N. III, IV e VI
Musculatura extrínseca dos
olhos satisfatória.
N. V (trigêmio)
Apresenta sensibilidade nos
ramos V1, V2 e V3.
Ramo mandibular com
funcionalidade motora dos músculos da mastigação.
Reflexo córneo satisfatório.
N. VII (facial)
Musculatura da mímica facial
preservada.
N. VIII (vestíbulo-coclear)
Função auditiva aparentemente preservada.
Weber, Rinne e Manobra de Dix-Hallpike não foram realizados.
Função auditiva aparentemente preservada.
Weber, Rinne e Manobra de Dix-Hallpike não foram realizados.
N IX e X (glossofaríngeo e
vago)
Reflexo de vômito +, Sinal da
Cortina -.
Sem alteração de voz.
Sem alteração de voz.
N XI (acessório)
Força contra resistências do
Trapézio e ECM normais.
N XII (hipoglosso)
Língua funcional e sem desvios
FORÇA:
Deltoide : Direito 5/5 Esquerdo 5/5.
Bíceps: Direito: 5/5 Esquerdo 5/5.
Tríceps: Direito 5/5 Esquerdo 5/5.
Apreensão palmar : Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Bíceps: Direito: 5/5 Esquerdo 5/5.
Tríceps: Direito 5/5 Esquerdo 5/5.
Apreensão palmar : Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Íliopsoas: Direito 5/5 Esquerdo 5/5.
Bíceps femoral: Direito 5/5 Esquerdo 5/5.
Tibial Anterior: Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Gastroecnêmios: Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Flexores da perna: Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Bíceps femoral: Direito 5/5 Esquerdo 5/5.
Tibial Anterior: Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Gastroecnêmios: Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Flexores da perna: Direito 4/5 Esquerdo 4/5.
Reflexos:
Bicipital: +/++++
direita e esquerda,
Triciptal: ++/++++ direita e esquerda,
Estilo Radial: +/++++ direita e esquerda,
Patelar: ++/++++ direita e esquerda,
Aquileu: +/++++, direita e esquerda.
Reflexo glabelar + .
Cutâneo plantar em flexão plantar.
Tato epicrítico preservado em
MMSS e MMII, palestesia preservada em MMSS e MMII. Sensibilidade
dolorosa preservada em MMSS e MMII.
Cerebelo:
Diadococinesia preservada, dismetria
-, Stuart Holmes -.
Marcha:
Sem alterações da marcha. (relata marcha escarvante
bilateral no auge dos sintomas).
EXAMES COMPLEMENTARES:
Hemograma, eletrólitos, tsh/t4,
função hepática, função renal, fator reumatóide, líquor ... nenhum achado relevante.
ELETRONEUROMIOGRAFIA: estado
neurofisiológico dos MMSS e MMII de aspecto anormal, com padrão de
polineuropatia sensitivo motora, com acometimento proximal e distal e com
caracteres axonais e de desmielinização.
Estes dados podem ser visualizados nas polirradiculoneurites inflamatórias e devem ser correlacionadas com o quadro clínico do paciente.
Estes dados podem ser visualizados nas polirradiculoneurites inflamatórias e devem ser correlacionadas com o quadro clínico do paciente.
QUAL A HIPÓTESE DIAGNÓSTICA
MAIS PROVÁVEL?
QUAL A RELAÇÃO COM O QUADRO
GASTROINTESTINAL?
QUAIS OS ACHADOS QUE NÃO
CONDIZEM COM A PRINCIPAL HIPÓTESE?
CITE OUTRAS POSSÍVEIS CAUSAS DO
QUADRO CLÍNICO.
Polineuropatia Desmielinizante
Inflamatória Aguda - Síndrome de Guillain-Barré:
Quadro agudo (<4 semanas) de
tetraparesia flácida ascendente, habitualmente com arreflexia distal e/ou
hiporreflexia proximal, com inflamação das raízes e nervos periféricos de
natureza inflamatória/autoimune. Precedida algumas vezes por quadros virais,
vacinação ou, classicamente, por diarreia causada por Campylobacter jejuni. Há
um mimetismo molecular entre moléculas da parede da C. jejuni e as proteínas
que formam a mielina.
Não condizem com o diagnóstico:
Hiporreflexia distal (com
alguns reflexos proximais normais).
Parestesia exacerbada.
Ausência de dissociação
albumino-citológica.
Início em MMSS.
Exames Complementares:
LCR: dissociação
albumino-citológica (aumento da proteinorraquia com celularidade normal) – pode
não estar presente na primeira semana.
Estudos Eletroneurofisiológicos
- ENMG: apontam lentificação da velocidade de condução nervosa. Determina o
tipo (axonal ou desmielinizante) e ajuda no prognóstico (pior prognóstico para
os quadros axonais).
Diagnósticos diferenciais:
Polirradiculoneurite
Desmielinizante Inflamatória Cronica.
Síndrome de Miller-Fisher
(oftalmoplegia, ataxia e arreflexia- variante da SGB).
Doenças da medula espinhal:
mielite transversa, mielopatia aguda.
Doenças da transmição
neuromuscular: miastenia gravis, botulismo.
Mielopatias: polimiosite.
Neuropatias vasculíticas: LES,
poliarterite nodosa.
Porfiria aguda intermitente.
Doenças infecciosas: neuropatia
diftérica, doença de lyme, HIV.
Toxinas: solventes,
organofosforados, metais pesados.
Alterações metabólicas:
hipermagnesemia, hipofosfatemia, hipocalemia.
CURIOSIDADE:
Cola de sapateiro – benzina que
possui: n-hexano e tolueno.
Absorção: Sistema respiratório
e Pele.
Acumulação: Tecido adiposo.
Exposição a altas
concentrações:
Neuropatia sensitivo-motora, especialmente
em membros inferiores.
Período de latência – 3 meses.
Após este prazo a neuropatia
instala muito rapidamente, em questão de dias.
Diminuição da força nas
extremidades dos membros inferiores.
Anestesia em bota.
Paralisia com o pé caído.
10% sofrem formas clínicas de
neuropatia.
90% dos expostos não tem
efeitos ou forma sub-clínica muito leve e incaracterística.
Eletroneuromiografia:
Diminuição de velocidade de condução.
Tratamento: Há evolução para
cura após 18 a 24 meses de afastamento do trabalho.
Fisioterapia garante
recuperação total.
SERIA O DIAGNÓSTICO MAIS
PROVÁVEL?
ATENÇÃO ÀS DOENÇAS
OCUPACIONAIS!
João Elias Ferreira Braga.
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